“Nenhum dos elementos que o Banco Central elencou como explicação para a inflação de 2021 pode ser atacado por intermédio de elevação da taxa de juros”, afirma o economista
O Banco Central (BC) “está aumentando os juros é para atender o interesse dos rentistas”, denunciou o economista e professor do Departamento de Economia da UnB, José Luis Oreiro, ao comentar em entrevista ao HP. “Nenhum dos elementos que o Banco Central elencou como explicação para a inflação de 2021 pode ser atacado por intermédio de elevação da taxa de juros”, afirmou.
Para Oreiro, “de acordo com a carta que o Banco Central mandou para o ministro da Economia, está muito claro que a inflação de 2021 foi causada por um choque de oferta. Quer dizer, é uma inflação importada, devido a problema hidrológico, ao aumento do preço do petróleo, do gás, problema nas cadeias de suprimento… Perfeito! A explicação é fantástica. Eu não tenho nenhum problema com ela. A questão é: nada disso se combate com elevação das taxas de juros”, destacou o economista.
“A elevação dos juros não resolve nenhum dos problemas, ou nenhuma das causas, que gerou inflação em 2021. Então, a pergunta é, por que o Banco Central está usando o instrumento que não serve para combater as causas que ele, Banco Central, está diagnosticando? Porque só seria de fato útil, você usar a taxa de juros, se você tivesse um problema de inflação de demanda, o que não é o caso. O Banco Central está dizendo claramente que é devido a um choque de oferta e, mais, importado. Então, o que que a política monetária brasileira pode fazer com o preço do petróleo no mercado internacional? Nada. O que ela pode fazer com as cadeias mundiais de suplemento? Também nada. Nada do que o Banco Central está fazendo atua nas causas da inflação, segundo o próprio Banco Central”, enfatizou o economista.
“Na verdade, se ele está aumentando os juros é para atender o interesse dos rentistas, não é para eliminar a inflação. Porque nenhum dos elementos que o Banco Central elencou como explicação para a inflação de 2021 pode ser atacado por intermédio de elevação da taxa de juros”, afirmou Oreiro.
Com o pretexto de combater a inflação, o Banco Central realizou no ano passado seguidos aumentos na taxa básica de juros (Selic), que passou de 2% a.a. para 9,25% a.a.
O Brasil fechou o ano com a inflação em alta acumulada de 10,06%, maior alta desde 2015, segundo IBGE. Na carta de explicações sobre a alta da taxa de inflação, Roberto Campos Neto, presidente do BC, sinalizou que vai continuar elevando a taxa Selic este ano.
ANTONIO ROSA