“Por razões atuais, nos posicionamos decididamente contra portais de internet em que alunos e alunas devam supostamente denunciar seus professores devido à alegada influência política”, afirmou o presidente da Conferência dos Secretários de Educação e Cultura da Alemanha, Helmut Holter, em encontro em Berlim, acrescentando que, como resultado, isso levaria a um “envenenamento do clima escolar.”
Em setembro, o partido neonazista Alternativa para a Alemanha (AfD), instalou em Hamburgo, o portal “Neutrale Schule” (“Escola neutra”) que estimula alunos a denunciarem professores que se expressem politicamente em suas escolas, em especial que critiquem atitudes racistas e antidemocráticas da AfD. Depois de Hamburgo, portais similares foram instalados em Berlim e também na Saxônia.
Em entrevista ao jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ), a ministra alemã da Justiça, Katarina Barley, também criticou a plataforma da AfD: “A denúncia organizada é um instrumento das ditaduras”.
“Qualquer partido que use isso para expor e ridicularizar professores revela muito sobre sua própria compreensão da democracia”, declarou Barley ao Frankfurter Allgemeine Zeitung.
Sem nenhum compromisso com a verdade, como é costume entre os nazistas, a AfD defendeu a deduragem como se esta nefanda prática fosse o oposto do que é em realidade. Os nazistas dizem que o estímulo a que os alunos entreguem professores serve para “fortalecer o discurso democrático e livre”.
Além disso a “neutralidade” que os da AfD defendem não tem nada de neutra. De acordo com a Central Nacional de Educação Política (lpb) da Alemanha, o requisito de neutralidade, adotado desde 1976 nas escolas do país, prevê em seus componentes básicos: “uma proibição da doutrinação e um preceito de apresentar fatos politicamente controversos de forma a capacitar alunas e alunos a desenvolver o seu próprio julgamento sobre temas políticos.”
Os professores que criticam afirmações como a do porta-voz da AfD no Bundestag (Congresso Alemão), Alexander Gauland, que afirma que o período negro do hitlerismo no país foi apenas “um cocô de pássaro na longa e gloriosa história alemã”, portanto, uma defesa indisfarçada da passagem que incluiu a morte de mais de 50 milhões de pessoas, muitas delas em câmaras de gás instaladas em campos de extermínio. Uma declaração que vai inclusive contra o esforço oficial alemão de rememorar o que aconteceu para impedir que tal flagelo possa retornar, o que é, claro, obrigação cívica dos professores alemães criticar.
Mesmo que ainda não seja lei, o portal da AfD já causou danos graves. Segundo noticiou o Frankfurter, na semana passada, “a tentativa da AfD de intimidar professores já mostra as suas primeiras consequências”.
Segundo o jornal, a diretoria de uma escola berlinense proibiu os docentes de fixar na sala de professores a carta aberta da iniciativa “Berlin bildet” (Berlim ensina) contra o portal online da AfD. Uma respectiva coleta de assinaturas, que no início do mês já reunia 50 mil apoios, também foi proibida dentro da escola.
De acordo com o jornal berlinense Tagesspiegel, para a diretoria da escola, a carta aberta violaria o requisito de neutralidade.
Alegando que a suposta neutralidade seria, na verdade, uma passividade diante de fatos desta gravidade os professores afetados recorreram então às bancadas distritais do Partido Verde e do Partido Social-Democrata (SPD)
Em requerimento, eles pedem às prefeituras distritais que intervenham junto ao Senado berlinense para que seja garantida segurança legal para os professores.
“É claro que o requisito de neutralidade deve ser respeitado na sala de aula, mas a discussão e formação de opinião política são expressamente desejadas”, disse ao Frankfurter Martina Zander-Rade, porta-voz de política escolar do Partido Verde nos distritos berlinenses de Tempelhof-Schöneberg.
“A escola deve capacitar os jovens a combater as ideias do nacional-socialismo (nome oficial do partido nazista) e outras formas de violência, e é por isso que a formação de opinião política dos professores é importante e deve ser conduzida sem medo no espaço protegido da sala de professores”, acrescentou Zander-Rade.
“Aparentemente, nem todas as diretorias escolares perceberam que a obrigação de neutralidade político-partidária na sala de aula não implica restrição da liberdade de expressão na sala dos professores”, afirmou o porta-voz de política escolar do Partido Social-Democrata em Berlim.
Assim que o portal foi lançado, mais de 100 profissionais em Hamburgo acusam “distorção dos princípios democráticos” por parte do AfD e de seu site onde alunos podem denunciar opiniões políticas nas salas de aula.
“Vocês não se furtam do cinismo ao tentar retratar isso como uma luta pela ‘liberdade de opinião e por uma democracia vibrante'”, afirmaram os professores da escola com 1,3 mil alunos que prioriza formas modernas de educação com inclusão social e o ensino individualizado.