São R$ 3,332 bilhões de lucro líquido com juros e tarifas extorsivas
O espanhol Santander aqui no Brasil registrou um lucro líquido de R$ 3,332 bilhões no segundo trimestre de 2024, segundo informações divulgadas pelo banco nesta quarta-feira (24). O resultado representa uma alta de 10,3% ante o trimestre imediatamente anterior e um aumento de 44,3% frente ao mesmo período do ano passado.
O lucro do terceiro maior banco privado no país veio na esteira do alto custo do capital no Brasil, determinado pelo nível escorchante da taxa básica de juros (Selic) do Banco Central (BC), hoje ao 10,5% ao ano, e do spread bancário cobrado pelos bancos privados no país, que é altamente inconsistente com a realidade de qualquer país do mundo. O spread é a diferença entre o que o banco paga a um investidor para obter os recursos e o que ele cobra para emprestar esses mesmos recursos.
As receitas com prestação de serviços e as abusivas tarifas bancárias avançaram 17,5% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Para se ter uma ideia, se uma empresa buscar capital de giro no banco espanhol, com prazo de até 365 dias, irá tomá-lo ao custo de 32,62% ao ano, segundo dados do BC, período de 4 de julho a 10 de julho deste ano. No caso de uma pessoa física tomar um empréstimo pessoal, a taxa de juro será de 74,64% ao ano.
“São os vampiros que estão se alimentando [do financiamento], a indústria não”, denuncia o empresário Mario Bernardini, do Conselho Superior de Economia da Fiesp, ao relatar as dificuldades da indústria de encontrar financiamento barato no país. “Em país que paga mais para quem faz aplicação financeira em detrimento do investimento na produção, a indústria não avança, não vai para frente”, alertou Bernardini no último domingo.
Ontem (23), o empresário ligado à indústria manufatureira, voltou a criticar o alto custo de capital no Brasil, em um evento promovido pelo jornal “O Estado de São Paulo”, com o apoio da Fiesp, Ciesp, Firjan e CNI.
“A indústria, ao contrário do que a turma pensa, ganha relativamente pouco. Pegamos a média nos últimos 20, 25 anos. Na última linha do balanço, o lucro líquido aqui gira ao redor de 8%, 9%. Eu comprometer 6% [do meu faturamento] com 30% já é complicado. E se eu tomar no Brasil mais de 40% de financiamento a custos não correntes, eu quebro”, constatou o empresário. “Simplesmente, o custo do financiamento passa a ser maior que o meu lucro”, disse.
“Então, se o sistema produtivo é um organismo, eu devo fazer uma comparação. Eu diria que o financiamento é a seiva que alimenta esse organismo. É o sangue, que nós não temos. Os vampiros tomaram, a indústria não. Então, quando você me perguntou e o financiamento? A resposta é esta, pouco e caro”, criticou.