O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), pré-candidato a prefeito de São Paulo, defendeu que a prioridade deve ser “geração de emprego e de renda”. “O drama da crise vai crescer no plano econômico, sobretudo na forma do desemprego”.
“Estamos elaborando um conjunto de medidas e um plano emergencial para enfrentar o problema do desemprego, como prioridade política do nosso governo”, afirmou em entrevista ao UOL.
Orlando vê a “necessidade de se apresentar uma alternativa para a cidade de São Paulo”. Está acontecendo “uma reconfiguração no quadro político do país, é oportuno que as forças políticas apresentem os seus projetos para a sociedade. No nosso caso, apresentamos um projeto popular que leva em consideração a experiência que acumulamos em gestão pública pelo país a fora”.
“É, também, uma candidatura anti-Bolsonaro pelo que ele representa para o país, pelos riscos à democracia, pela restrição dos direitos dos trabalhadores, pelo risco de violação da soberania nacional, pela forma como ele conduz os temas da política internacional”, continuou.
BOLSONARO E A PANDEMIA
Segundo Orlando Silva, a população não está satisfeita com a gestão de Bolsonaro frente à pandemia de coronavírus. “52% avaliam como ruim ou péssima”, comentou.
Bolsonaro “fraudou a autoria do auxílio emergencial. Ele não queria auxílio e propôs R$ 150. Com a pressão do Congresso Nacional chegou a R$ 500 e ele, para se apropriar, elevou para R$ 600”, disse.
“Eu próprio dediquei três semanas da minha vida para escrever o projeto que nós votamos no Congresso”.
“Nós [oposição] temos a posição da instituição de uma ‘renda cidadã’ permanente. O curioso é que isso não é nem uma posição de esquerda, uma renda mínima é um debate que tem há décadas no mundo, e que foi introduzido por economistas liberais”.
“Em um país injusto e desigual como o Brasil, precisamos garantir a dignidade mínima para as pessoas”.
CANDIDATURAS
Orlando Silva defende uma frente ampla para derrotar Bolsonaro, mas disse que ela não precisa se configurar em uma candidatura única no primeiro turno. “No segundo turno o campo progressista com certeza estará unificado, até porque o que nos une é o combate ao bolsonarismo”.
“No segundo turno, quem chegar lá e se posicionar contra o Bolsonaro, imagino que terá apoio do campo democrático. Eu quero chegar lá”.
Para ele, “a posição do Bolsonaro nas pesquisas é porque o povo não vê uma alternativa para 2022. Enquanto não há uma alternativa clara ao Bolsonaro e ao bolsonarismo, uma parte fica ali perto da posição dele”.
“Mas eu acredito que quando ficar nítido que há alternativas, mais nítido o caráter que tem o governo Bolsonaro, ele vai desidratar, perder o terreno e será derrotado em 2022”.
O deputado comentou a candidatura de Márcio França (PSB), que tem tentado conseguir o apoio de Bolsonaro. “Tem um caso particular em São Paulo, que é o do Márcio França, que é de um partido de esquerda com atuação extraordinária no Congresso Nacional, que quer ser o candidato do Bolsonaro. É uma atitude oportunista, daqueles que fazem qualquer coisa pelo poder”, repreendeu.
Segundo o deputado, “Márcio França rompe com o campo progressista”.
Orlando considera que os eleitores e militantes do PSB e do PDT, que já tinha anunciado o apoio a França, não concordam com uma candidatura “que flerta com o que há de mais reacionário na política brasileira”.
“Eu tenho a minha linha, meu discurso e tenho mais identidade com a base do PDT do que dos eleitores do Bolsonaro”.
“A base social do PDT é progressista. A decisão do PDT manter ou não o apoio a Márcio França é partidária. Não me cabe nutrir esperança [de ter o apoio do partido]”.
Para Orlando, a polarização entre PSDB e PT está ultrapassada. “Essa disputa PSDB versus PT foi datada e o que vai haver no próximo período é um novo ciclo”, salientou.
O pré-candidato a prefeito sustentou que a esquerda tem “que aprender com os erros e avançar na construção de um projeto”.
VOLTA ÀS AULAS
O pré-candidato defendeu que o retorno às aulas nas escolas, “nesse instante, é um erro”. “Sei que o tema é complexo e que a Prefeitura deve dar um passo depois de outro, mas tem errado porque não planeja, não toma medidas com antecedência”.
“Se formos em uma escola da rede municipal, sobretudo na periferia, vamos ver que as salas são superlotadas. A Prefeitura deveria multiplicar as iniciativas para que a molecada tenha acesso aos conteúdos pela internet, mas também não é o que se vê. Não tem inclusão digital na cidade. A Prefeitura está falando, seis meses depois [do começo da pandemia], de distribuir tablets entre as crianças”, comentou.
“Voltar com as aulas sem medidas de segurança pode significar transformar a escola em um ponto de irradiação da Covid. Na cidade de São Paulo há uma população idosa relevante e ela convive, muitas vezes em condição precária de moradia, com essas crianças que iriam para a escola”.
RACISMO
Orlando disse que será “um prefeito que implementará um programa antirracista que enfrentará essa doença em todas as áreas da administração”.
“O combate ao racismo estrutural precisa de um conjunto de políticas públicas, no campo da educação, no campo da cultura, no campo da economia, que impacte na mudança do comportamento”, avaliou.
“Nós temos uma cultura negra muito pujante na cidade de São Paulo, nas várias linguagens artísticas. Nós temos que ter regras e financiamento para estimular a cultura da periferia e a cultura negra”.
O deputado federal defendeu que a Prefeitura deve atuar no combate à violência e à mortalidade policial.
“Temos que enfrentar a violência policial, a letalidade policial, que cresceu durante a pandemia. O prefeito de São Paulo precisa agir como líder político e enfrentar essa ação que é institucionalizada por parte da polícia militar. Tem que sentar com o governador do estado e exigir medidas para que pare a violência militar”, defendeu.
“Há um genocídio contra a juventude negra na cidade de São Paulo”, opinou.
PEDRO BIANCO
Assista a íntegra da entrevista: