“Dizer que a surra foi ilusão é aliviar a barra para o verdadeiro inimigo”, afirmou o deputado do PCdoB
O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) rebateu o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) que, em artigo no jornal Folha de S. Paulo, avaliou que “ganharam terreno os partidos da direita e extrema-direita descendente da velha Arena, base de sustentação do regime militar e do bolsonarismo” nas recentes eleições municipais.
Orlando Silva, por outro lado, avalia que o bolsonarismo foi o maior derrotado das eleições municipais. “Discordo de sua opinião sobre o resultado das eleições municipais”, disse Orlando pelo Twitter. “Parece-me inequívoca a derrota contundente do bolsonarismo. Dizer que a surra foi ilusão é aliviar a barra para o verdadeiro inimigo”, afirmou o deputado.
“Os candidatos identificados ou apoiados pelo presidente não venceram em nenhuma praça importante, alguns perderam de maneira vexatória, ainda no 1° turno”.
“Veja o caso de SP, em que Bolsonaro declarou apoio, foi para a TV e viu seu candidato, que chegou a liderar, derreter. No Rio, em Fortaleza, em Belém e outras cidades, uniram-se amplas frentes, formais ou não, para que o iluminismo vencesse a treva, o que ocorreu”, continuou Orlando.
Para o deputado, um eventual “fortalecimento do centro e da centro-direita não significa que não tenha havido derrota de Bolsonaro. Muito ao contrário”.
“Afinal, ainda que partidos do chamado “centrão” estejam na base do governo, na cena municipal isso pouco se reflete. O que se viu foram candidatos fugindo de Bolsonaro. A eleição mostrou uma vitória da política contra a antipolítica, o que é vital para a democracia”, continuou.
“Por fim, precisamos olhar para frente e ter a grandeza para salvar o Brasil da ruína bolsonarista. No Congresso, sempre que conseguimos barrar as pautas reacionárias, o fizemos em frente que uniu a oposição de esquerda, o centro e a centro-direita. Isolados, perdemos”.
“Uma lição básica da sobrevivência política é jamais se deixar isolar. Bolsonaro saiu ferido, mas não está morto. Ele é o principal inimigo e não deve ser subestimado”, advertiu o deputado.
No artigo, Haddad, sem esconder o tom hegemonista petista, classificou como “centro” o PDT e o PSB, que são, respectivamente, os partidos com mais prefeitos eleitos da esquerda.
Orlando defendeu, em resposta a Haddad, “atrair o centro e mesmo os setores da centro-direita” para formar uma “frente ampla” e derrotar o bolsonarismo em 2022.
“As urnas mostraram que a esquerda e centro-esquerda ainda detêm força importante, mas que é insuficiente para vencer”.
“Se quisermos ganhar e não marcar posição, precisamos ampliar, atrair o centro e mesmo setores da centro-direita. É a frente ampla que falamos”, afirmou o deputado.
“Devemos ter ampla capacidade de diálogo e de mobilização, buscando a construção de uma frente democrática”, recomenda Orlando Silva.
Tanto o PSD quanto o PP, que cresceram e ficaram atrás apenas do MDB em número de Prefeituras, foram base do governo Dilma e até a apoiaram em sua reeleição, em 2014.
Na avaliação de Haddad, o PT ainda não se recuperou do tombo que levou em 2016. Na verdade ele ameniza o tombo, porque 2020 foi pior. É a primeira vez desde 1985 que o PT não elegeu prefeito em nenhuma capital do país. O partido perdeu em Vitória (ES), no segundo turno, para um bolsonarista.
Em São Paulo, seu candidato, Jilmar Tatto, ficou em 6º lugar, com apenas 8,6% dos votos.
Em Recife, a petista Marília Arraes disputou o segundo turno contra João Campos, do PSB, e perdeu. Campos recebeu 56,3% dos votos, contra 43,7% de Marília Arraes.
No artigo, de maneira prepotente, Haddad envia advertência aos partidos de esquerda e diz que “o erro de alguns progressistas não petistas é imaginar que o enfraquecimento do PT vai lhes favorecer”.
“O erro de alguns petistas, por sua vez, é imaginar que o PT possa se fortalecer sem Lula. (…) Lula e PT são não apenas indissociáveis como são eventos únicos e mutuamente dependentes. O PT é sua militância”, disse Fernando Haddad.