(HP 19/09/2008)
CARLOS LOPES
A fraude do “holocausto ucraniano” não é afirmar que houve fome na Ucrânia em 1932-1933. Nas localidades em que, durante a coletivização da agricultura, os “kulaks” (os camponeses ricos) conseguiram destruir plantações e rebanhos, é óbvio que houve dificuldades – e as próprias fontes soviéticas da época relatam escassez localizada de alimentos devido à sabotagem “kulak”. Lembremos que no início da coletivização havia, na URSS, 10 milhões de “kulaks” (para uma população camponesa total de 120 milhões de pessoas) – e 1 milhão e 800 mil deles, por sabotagem, foram condenados a mudar de localidade.
A fabricação do “holocausto ucraniano” não é, portanto, a existência de fome em tal ou qual lugar, mas a de que Stalin, deliberadamente, provocou uma fome artificial para eliminar o povo ucraniano. Por que Stalin – que nem russo era – queria eliminar o povo ucraniano, estando a URSS à beira da invasão e da guerra, previstas por ele desde 1930, é coisa que os inventores dessa infâmia não se deram, até hoje, ao trabalho de explicar. Evidentemente, projetava-se sobre Stalin o plano de limpeza étnica de Hitler, anunciado por este em 1926, com menção explícita à Ucrânia, no “Mein Kampf” – e parcialmente executado durante a II Guerra Mundial, com ajuda dos traidores ucranianos, quando o país foi ocupado pelos alemães.
O MÉTODO
Na falta de fatos e de lógica, a partir de 1983, a manipulação de números dos censos soviéticos passou a ser o principal método dos mercenários, fascistas e outros desclassificados para tentarem colocar em pé a fraude do “holocausto ucraniano”. O método é simples: atribui-se uma determinada taxa de natalidade à Ucrânia soviética e comparam-se os dois censos nacionais soviéticos anteriores à II Guerra (1926 e 1939), subtraindo-se a população real de 1939 da que existiria se a taxa de natalidade fosse verdadeira – e não morresse ninguém. A diferença são os “mortos de fome” durante o inventado “holocausto ucraniano”.
O pioneiro do método foi Walter Dushnyck, um colaborador dos nazistas e terrorista da “Organização Militar Ucraniana” que refugiou-se nos EUA após a II Guerra (cf. seu obituário em “Ukrainian Weekly”, cit. por Douglas Tottle, “Fraud, Famine and Fascism”, Progress Books, Toronto, 1987, pág. 67).
Dushnyck é autor de “50 Years Ago: The Famine Holocaust in Ukraine” (New York, 1983), um panfleto repleto de referências nazistas – inclusive a capa (uma caveira branca sobre uma foice e um martelo vermelhos: um dos temas favoritos dos posters hitleristas), as fotos da “fome ucraniana” publicadas originalmente no jornal de Hitler, o “Völkischer Beobachter” (e nos de seu apoiador americano, William Randolph Hearst), e as citações de livros nazistas sobre o mesmo assunto.
Depois da incursão de Dushnyck pela alucinose estatística, o método se tornou generalizado entre os anti-comunistas mais inescrupulosos: Robert Conquest, que, para escrever seu livro sobre o assunto, teve como ajudante James Mace, um dos seguidores do método estatístico de Dushnyck, o adotou, assim como o debilóide Nicolas Werth, organizador do infame “livro negro do comunismo”.
[Nicolas Werth, pela mediocridade, merece uma observação à parte: trata-se do filho de Alexander Werth, correspondente da BBC na URSS durante a II Guerra, autor de livros muito valiosos, em especial “Russia at War” e “Moscow 41”, e um caso raro de anti-comunista: aquele que luta para que sua objetividade seja pouco afetada por seus preconceitos, como se pode ver por suas reportagens sobre as batalhas de Leningrado e Stalingrado; sua confirmação, através de fontes não soviéticas, do complô pró-nazista de Tukachevsky; sua denúncia das atrocidades nazistas na URSS e no Leste europeu; e a desmoralização a que submeteu os “números de vítimas” que Soljenitsyn atribuiu a Stalin. Alexander Werth era russo de nascimento, tendo emigrado após a Revolução, aos 16 anos, acompanhando a família, para a Inglaterra. Infelizmente, o filho puxou apenas ao anti-comunismo do pai, sem qualquer das suas qualidades].
Voltando ao método de Dushnyck, ele pode ser avaliado pelo seguinte trecho de seu livro: “tomando os dados do censo de 1926 e os do censo de 1939 e a média de aumento [da população] antes da coletivização (2.36% ao ano), podemos calcular que a Ucrânia perdeu 7 milhões e 500 mil pessoas entre os dois censos”. Logo, esses seriam os mortos de fome entre 1932 e 1933…
Dushnyck, portanto, pressupõe que a taxa de natalidade permaneceu constante durante os 13 anos em que na URSS ocorreu a mais extraordinária transformação da História – com a industrialização pesada, a coletivização da agricultura, a preparação da defesa do país para a guerra e a construção do socialismo. Em suma, a URSS, que em 1926 era um país agrário, tornou-se uma potência industrial, mas, pelo “cálculo” de Dushnyck, isso não teria afetado a taxa de natalidade – o que é impossível, como sabe todo brasileiro, principalmente se for nordestino e vier trabalhar em São Paulo.
A conseqüência é que aqueles que jamais nasceram foram considerados mortos por um genocídio. Pois a taxa de natalidade, evidentemente, caiu entre 1926 e 1939 – e caiu significativamente.
Além disso, Dushnyck pressupõe que ninguém morreu de outra causa que não a fome entre 1926 e 1939, apesar de, além da morte por velhice, terem eclodido na URSS, durante esse período, duas grandes epidemias – tifo e malária, ambas sem tratamento conhecido na época.
Como disse o sociólogo Albert Szymanski (“Human Rights in the Soviet Union”, Londres, 1984), para que o “cálculo” de Dushnyck tivesse algum sentido era necessário que o número de mulheres no auge da fertilidade fosse o mesmo antes e depois de 1932-1933. Mas, naturalmente, isso também é impossível, pois as mortes na guerra e o decréscimo de natalidade entre 1914 (início da I Guerra Mundial) e 1921 (fim da Guerra Civil) trouxe, necessariamente, um decréscimo no número de mulheres aptas a procriar durante a década de 30 (como lembrou o demógrafo S.G. Wheatcroft, anti-comunista, mas com escrúpulos, mulheres que nascessem em 1914 teriam apenas 16 anos em 1930).
No “cálculo” de Dushnyck se omite, também, que uma parte da população que no censo de 1926 era classificada como ucraniana – cerca de 2 a 3 milhões de cossacos – foi reclassificada, no censo de 1939, como russa, pela simples razão de que viviam da Rússia e não na Ucrânia. Esses 2 a 3 milhões, no censo de 1926, estavam inflacionando indevidamente a população ucraniana.
Apesar disso tudo, entre os censos de 1926 e 1939, a Ucrânia aumentou sua população em 3 milhões e 339 mil pessoas. Porém, os adeptos desse método não consideram a população real, mas uma projeção fantasiosa – e muito interessada – de qual “deveria ser” o número de habitantes.
Já voltaremos a esses gênios da estatística. Antes, veremos os motivos que levaram a esse tipo doido de numerologia.
“HOLO-EMBUSTE”
Numa declaração ao semanário “Village Voice”, de Nova Iorque, Eli Rosenbaum, então consultor legal do Congresso Mundial Judaico, fez uma observação aguda sobre as tentativas de fabricação de um “holocausto ucraniano”: “eles estão sempre aparecendo com um número [de mortos] maior do que seis milhões, para fazer o leitor pensar: ‘Meu Deus, é pior que o Holocausto [judaico]” (Jeff Coplon, “In Search of a Soviet Holocaust”, Village Voice, 12/01/1988).
Rosenbaum, depois diretor do Office of Special Investigations (OSI) – a divisão do Departamento de Justiça dos EUA encarregada de investigar criminosos de guerra nazistas em território norte-americano – sabia do que estava falando.
Jeff Coplon, o articulista do Village Voice, nota que foi depois da instituição do OSI que a campanha do “holocausto ucraniano” se tornou mais intensa. A primeira ação relevante do OSI foi, precisamente, a prisão do ucraniano, naturalizado norte-americano, John Demjanjuk – que era, na verdade, o nazista “Ivan, o Terrível”, um dos mais atrozes carrascos do campo de extermínio de Treblinka.
Assim, não é uma coincidência que boa parte dos fabricantes do “holocausto ucraniano” sejam os mesmos que negam a carnificina de Hitler sobre milhões de judeus e eslavos. No Village Voice havia um contundente exemplo:
“No último catálogo da Noontide Press, filiada ao Liberty Lobby do exuberante fascista Willis Carto, ‘The Harvest of Sorrow’ [o livro de Robert Conquest que exumou a fraude do “holocausto ucraniano”] é listado lado a lado com tomos revisionistas tais como ‘O Mito de Auschwitz’ e ‘Hitler ao Meu Lado’. Para propagandear o livro de Conquest e sua fome-terrorista, o catálogo nota: ‘O ato de genocídio contra o povo ucraniano foi escamoteado [sic] até recentemente, talvez porque um holocausto real pode competir com um holo-embuste’. Para os que não são habituados com o jargão da Noontide, o ‘holo-embuste’ refere-se ao massacre de seis milhões de judeus” (Village Voice, art. cit.).
Voltaremos, num próximo artigo, às observações de Coplon. Por ora, basta a sua descrição do recrudescimento da campanha nos EUA:
“Pressionando cada pedal, mexendo todos os pauzinhos, está um lobby nacionalista ucraniano, esforçando-se em puxar para debaixo do tapete sua própria história de colaboração com os nazistas. Pela revisão de seu passado, esses emigrados ajudam a apoiar um mais ambicioso revisionismo: uma negação do holocausto de Hitler contra os judeus”.
REAGAN
Após a publicação, em 1987, de “Fraud, Famine and Fascism”, do pesquisador canadense Douglas Tottle, o “holocausto ucraniano” se tornou, para usar uma expressão chegada ao assunto, um caso historicamente liquidado.
Na verdade, ele jamais se sustentou em pé, apesar de vários obcecados – e bem pagos – elementos. A principal razão era a sua total falta de lógica. Não somente não interessava a Stalin que a população ucraniana decrescesse, como essa jamais foi a política do governo da URSS. Pelo contrário, sua política era de estímulo ao aumento da população.
Além disso, em 1932 a coletivização foi completada. Se nesse ano ainda persistiam dificuldades, a colheita de 1933, na qual a participação da Ucrânia foi decisiva, foi um recorde na história do país, o que teria sido impossível sem a semeadura do ano anterior – que certamente não foi realizada pelos fantasmas dos que morreram de fome…
O fato é que, na década de 30, o “holocausto ucraniano” havia sido desmascarado como uma fraude nazista. No pós-guerra, apesar da CIA ter recrutado apoiadores entre os nazistas ucranianos e financiado outra campanha em torno dele, acabou caindo em completo descrédito na segunda metade da década de 60.
Sua última aparição de alguma importância, nessa época, foi em 1964, quando um certo professor Dana Dalrymple publicou um artigo onde pretendia descobrir o real número de mortos da fome: simplesmente, como o leitor poderá verificar nesta página, em que reproduzimos a tabela de Dalrymple, ele fez a média entre as mais estapafúrdias estimativas – incluindo as dos nazistas. Para que ficasse de acordo com os conformes, Dalrymple deu um toque pessoal à invenção: estendeu a “fome de 1932-33” até 1934 (cf. Dana Dalrymple, “The Soviet Famine of 1932-1934”, Soviet Studies, janeiro, 1964).
Sem essa prorrogação da fome por mais um ano, Dalrymple não poderia aproveitar as histórias de Thomas Walker, aliás, Robert Green – o foragido de uma cadeia do Colorado que o magnata da imprensa americana W.R. Hearst contratou para escrever sobre a “fome na Ucrânia”. Walker/Green, apresentado como “testemunha ocular” da fome, jamais esteve na Ucrânia, como confessou quando foi recapturado, mas esteve alguns dias na URSS – porém, somente em 1934. Portanto, só poderia ter sido testemunha ocular da fome se ela fosse estendida até esse último ano…
Depois da década de 60, a fraude somente foi retirada do baú em 1983 – por Ronald Reagan, então em campanha acirrada contra a URSS e contra qualquer “distensão”. Três anos depois, no dia 7 de setembro de 1986, uma carta de Reagan dirigida à viúva de Yaroslav Stetsko – criminoso de guerra, colaborador dos nazistas durante a ocupação da Ucrânia e um dos cabecilhas da mal chamada “Organização Nacionalista Ucraniana” – foi lida pelo general John Singlaub, numa conferência da Liga Anti-comunista Mundial.
Disse Reagan à viúva de Stetsko: “A coragem e dedicação de seu marido à liberdade servirá como uma continuada fonte de inspiração para todos aqueles que lutam pela liberdade e auto-determinação” (Village Voice, art. cit.).
MACE
O novo método estatístico, introduzido por Dushnyck, fez sucesso entre os mercenários do anti-comunismo porque o antigo método – o chute descarado, puro e simples – estava desmoralizado, depois da tentativa de rejuvenescê-lo através de uma simples média aritmética, feita por Dalrymple em 1964.
Assim, depois de Dushnyck, o parceiro de Conquest, James Mace, usou o mesmo método em 1984, num artigo intitulado “Famine and Nationalism in Soviet Ukraine”. O artigo foi publicado pela revista “Problems of Communism” (edição de maio-junho de 1984). Essa revista (hoje rebatizada para “Problems of Post-Communism”) é o órgão da United States Information Agency (USIA), a mesma agência do Departamento de Estado que, como lembra Douglas Tottle, é responsável pela “Voz da América”, pela “Radio Marti”, tendo organizado a missão de espionagem do KAL 007 (o uso de um avião de passageiros sul-coreano para sobrevoar a URSS, com o resultado de que foi abatido pela defesa aérea soviética), entre outras aventuras.
Na próxima edição, examinaremos em detalhes o caso Mace/Conquest e sua manipulação dos censos soviéticos.
2
Depois que Reagan, em 1983, tirou o “holocausto ucraniano” do museu das fraudes históricas, coube a Robert Conquest a tentativa de dar a ele alguma credibilidade. Fez isto através de seu livro “The Harvest of Sorrow” (1986), um prolixo panfleto de mais de 400 páginas segundo o qual Stalin premeditou e provocou, contra o seu próprio interesse como líder da URSS, uma gigantesca fome para eliminar o povo ucraniano nos anos 1932-1933.
Na primeira parte deste artigo, vimos como, diante da insustentabilidade da história – na qual, sem fatos, sem testemunhas e sem vestígios, teriam morrido de fome de 1 milhão a 15 milhões de ucranianos (haja rigor!) – passou-se a um novo método de “cálculo” dos mortos, baseado na manipulação de números dos censos soviéticos: estabelecia-se uma taxa de natalidade irreal, superestimada, para o período entre os dois censos soviéticos anteriores à II Guerra Mundial (1926 e 1939) e, assim, fabricavam-se os mortos com a diferença entre a estimativa fantasiosa, inflacionada, e a população real que havia na URSS em 1939.
O problema é que seu inventor, como mencionamos, não era nada respeitável – um colaborador dos nazistas, terrorista, condenado na Ucrânia e abrigado nos EUA, Walter Dushnyck. Porém, já em 1984 (ano seguinte à da publicação do livreto de Dushnyck), os parasitas da invenção nazista do “holocausto ucraniano” – Robert Conquest, James Mace e outros – pareciam ter descoberto a pólvora. Mas tomaram o cuidado de escantear o verdadeiro autor do método, citando-o marginalmente, ou simplesmente evitando citações. Foi então que se pretendeu dar dignidade acadêmica ao que não era mais do que uma charlatanice de fugitivos dos tribunais para criminosos de guerra.
O aproveitamento acadêmico da tecnologia Dushnyck de manipulação dos censos soviéticos coube ao “pesquisador contratado” de Conquest, James Mace, da Universidade de Harvard.
O motivo de ceder a primazia à Mace, que já vinha fazendo tentativas nesse campo específico da fraude histórica, é que Conquest não sabe lidar com números, exceto quando se trata de dólares. A aritmética extra-monetária nunca foi o seu forte. Em “O Grande Terror” (1968) ele inflou tanto o número dos atingidos pela repressão soviética à sabotagem e conspiração pró-nazista de antes da II Guerra Mundial, que até o fundador da “sovietologia”, Alexander Dallin, autor de “Political Terror in Communist Systems”, fez questão de declarar que nada tinha a ver com os números de Conquest. Mal sabia Dallin, que tentava dar foros de ciência ao que era apenas propaganda servida em forma de protocolo acadêmico, que em breve (1981) teria que suportar Conquest dentro de seu próprio departamento, na Universidade de Stanford…
Depois da abertura dos arquivos da URSS, então, o livro tornou-se perfeitamente ridículo – exceto em algumas revistas e jornais que pouco se distinguem de uma casa de prostituição.
É verdade que, além da lambança que fez com os números de “vítimas” e na análise dos censos soviéticos, Conquest contribuiu bastante para seu próprio ridículo ao publicar, em 1984, um manual sobre o que os americanos deveriam fazer quando os russos invadissem o país (“What To Do When the Russians Come: A Survivor’s Guide” – “O Que Fazer Quando os Russos Chegarem: Um Guia de Sobrevivente”). A intenção era contribuir para a histeria insuflada por Reagan e caterva contra a URSS, faturando uns cobres na onda. Mas, como disse um resenhista norte-americano isento de pendores para a esquerda, foi a propaganda anti-comunista mais hilariante da Guerra Fria.
Voltando aos números, em 2007, no prefácio à uma nova edição de “O Grande Terror”, Conquest diminuiu em nada menos do que 7 milhões o número de “vítimas” na URSS durante o período de Stalin, em relação à edição de 1968 – com o mesmo critério com que antes incluiu esses 7 milhões, isto é, nenhum, e com a abertura dos arquivos soviéticos desmentindo o velho e o novo número.
DEMOGRAFIA
Por sua ignorância em aritmética, Conquest cedeu o papel principal na manipulação estatística a James Mace. E, convenhamos, este se esmerou.
Já nos referimos ao seu artigo “Famine and Nationalism in Soviet Ukraine” (1984), publicado pelo órgão da United States Information Agency (USIA), “Problems of Communism”. Agora, vamos ao seu conteúdo.
Diz Mace:
“Se subtraímos nossa estimativa da população [ucraniana soviética] pós-fome da população [ucraniana soviética] pré-fome, a diferença é 7.954.000, o que pode ser tomado como uma estimativa do número de ucranianos que morreram antes da sua hora [died before their time]”.
O absurdo maior não está nesse perspicaz conceito de “morte antes da sua hora” (não morreu ninguém de velhice na Ucrânia nos 13 anos entre os censos de 1926 e 1939? E, por outro lado, quem morre, por exemplo, num acidente – teve “morte antes da sua hora”? E quem morre jovem de uma doença para a qual, na época, não existia tratamento? Em suma, não há significado em “morte antes da sua hora”, exceto atribuir aos comunistas qualquer morte que aconteça – ou mortes inexistentes).
O principal engodo foi apontado por Barbara Anderson e Brian Silver, dois demógrafos muito respeitados, ainda que sejam do tipo que acha científico fazer cálculos sobre o “excesso de mortes” na URSS. Apesar disso, por não serem ignorantes em seu campo de estudos, não querem sua reputação profissional atirada na mesma vala de Mace, Conquest, Dushnyck e outros.
Exatamente como Dushnyck, ao estabelecer uma taxa de natalidade superfaturada, omitindo o decréscimo dessa taxa durante a década de 30, Mace conta os que nunca nasceram – isto é, a inexistente população fabricada por sua falsa taxa de natalidade – como se fossem mortos (cf. Barbara Anderson e Brian Silver, “Demographic Analyis and Population Catastrophes in the USSR”, Slavic Review, 44, Nº 3, 1985, págs. 517 a 519).
Resumindo: o “déficit” populacional ucraniano de Mace (quase 8 milhões de pessoas) foi forjado por ele mesmo, ao usar uma taxa de natalidade falsa.
Os resultados de Barbara Anderson e Brian Silver tinham outro inconveniente para a dupla Conquest/Mace: eles eram coerentes com os resultados alcançados por um de seus alvos de difamação, o estatístico e demógrafo Frank Lorimer, que em 1946, em Genebra, publicou, sob o patrocínio da ainda existente Liga das Nações, o livro “The Population of Soviet Union: History and Prospects”.
Lorimer era um homem de imensa notoriedade em sua área de trabalho – quase sempre, justificada. O problema de Conquest e Mace era (e é) que os resultados de Lorimer tornam impossível que houvesse 14,5 milhões – ou 10 milhões, ou 5 milhões, ou mesmo 3 milhões – de mortos de fome somente na Ucrânia entre 1932-1933, porque ele calculou para toda a URSS um “excesso de mortes” entre 3,2 milhões e 5,5 milhões entre 1926 e 1939.
É justo observar, como fazem Barbara Anderson e Brian Silver, que Lorimer diz, em seu livro: “Há, naturalmente, muitas outras fontes de possível erro em todas essas computações. Conseqüentemente, estes resultados devem ser aceitos com muitas reservas” (Frank Lorimer, “The Population of Soviet Union: History and Prospects”, Liga das Nações, Genebra, 1946, pág. 240, citado por Anderson e Silver, art. cit.).
Era inevitável que Conquest e Mace tentassem difamar Lorimer – que já havia falecido quando Conquest publicou “The Harvest of Sorrow”.
Entretanto, como observou um comentarista, escrevendo no “Challenge”, de Nova Iorque, o estudo de Silver e Anderson é ainda pior para o “holocausto ucraniano” (e para Conquest e Mace) que o de Lorimer:
“De fato, Anderson e Silver dão a impressão de acreditar que o número total [das ‘mortes em excesso’ para toda a URSS] é, de longe, menor do que isso. Usando sua [Taxa de] Alta Mortalidade Presumida, que ‘aproxima as taxas de mortalidade que Lorimer pensou que efetivamente prevaleciam na URSS como um todo em 1926-27, mais altas do que aquelas oficialmente relatadas’, das [taxas de mortalidade] de 1939, pode ter havido somente 500 mil ‘mortes em excesso’ entre as pessoas vivas em 1926” (Challenge, New York, ed. de 04/03/1987).
Em meio à maior luta de classes da História, isso é menos do que os mortos admitidos oficialmente na Guerra Civil dos EUA (620 mil mortos). Com a diferença de que a Guerra Civil norte-americana durou 4 anos (1861-1865) – menos que um terço dos 13 anos de História da URSS aqui considerados (1926-1939).
NEO-MANIPULAÇÃO
Até agora, não há novidades em relação a Dushnyck. O que James Mace faz é apenas plagiar o ex-terrorista e ex-colaborador dos nazistas, que, provavelmente, não imaginou que o seu método pudesse fazer tanto sucesso em Harvard e Stanford. Aliás, nem deve ter percebido que era um método.
Porém, Mace resolveu dar o seu toque pessoal: “provar” a existência do “holocausto ucraniano”, através do censo soviético de 1959, ou seja, mais de três décadas depois do censo de 1926.
Diz ele:
“Nós podemos achar traços da fome procurando [no censo de 1959] por regiões onde o número de camponesas (o segmento menos móvel da população) nas faixas de idade que teriam nascido imediatamente antes ou durante a fome é anormalmente pequeno. Estas regiões existem na Ucrânia Soviética, uma nação de tradições ferozmente independentes; nas regiões habitadas por grandes populações cossacas, também ferozmente independentes; e nas áreas dos alemães do Volga” (carta de Mace ao professor Jaroslaw Rozumnyj, 04/02/1984, citada por Douglas Tottle, “Fraud, Famine and Fascism”, Toronto, 1987, pág. 72. A nota de Tottle – pág. 149 – para esse trecho é a seguinte: “Uma cópia desta carta enviada por Mace ao Comitê Canadense Ucraniano – UCC – foi apresentada em uma reunião do Conselho Escolar de Winnipeg em 14 de fevereiro de 1984, para apoiar a campanha do UCC de incluir o tópico da “fome-genocídio” no currículo escolar”).
Com essa novidade, Mace conseguiu superar Dushnyck com vários corpos de distância. Pelo menos, Dushnyck se limitou aos censos de 1926 e 1939. Assim, não teve que ignorar, como faz Mace, que entre 1933 (o início da suposta “fome”) e 1959 houve um acontecimento histórico denominado II Guerra Mundial – que foi decidido, precisamente, na URSS, e que teve na Ucrânia algumas das suas batalhas mais sangrentas, assim como alguns dos maiores massacres de toda a História humana. Por falar em genocídio, segundo a Larousse, o maior de todos os tempos foi, exatamente, o realizado pelos nazistas na URSS, onde 15% da população, comprovadamente, morreu durante a invasão alemã.
Douglas Tottle observa, por exemplo, que, entre 1941 e 1943, a região ucraniana da cidade de Kharkov foi terreno de quatro das maiores batalhas da II Guerra – e que somente sobreviveram metade dos habitantes da cidade.
Da mesma forma, Mace omite que 600 a 700 mil dos “alemães do Volga” (colônias alemãs que existiam às margens desse rio) foram deslocados da região pelo governo soviético em 1941, quando os nazistas se aproximavam, por motivos óbvios (aliás, os alemães do Volga já haviam sido base das hordas “brancas” e estrangeiras durante a Guerra Civil, logo após a Revolução).
“Além de ignorar aqueles que residiam [nessas regiões] nos anos 30 que morreram ou foram deslocados devido à guerra, Mace também ignora o vasto número que partiu para outras áreas e repúblicas durante o período de reconstrução em massa do pós-guerra. Em resumo, o censo de 1959, como o próprio Mace sabe, revela padrões demográficos atribuíveis primariamente aos desenvolvimentos pós-1941. (….) Pode-se concluir que qualquer admissão da [ocorrência da] II Guerra Mundial foi vista por Mace como um fato em detrimento de seu caso – ele não trata do genocídio nazista, buscando somente convencer os leitores do ‘genocídio comunista’” (Tottle, op. Cit.).
Resta dizer apenas que com essa manipulação dos números do censo de 1959, Mace, ao omitir o efeito da II Guerra Mundial sobre a população ucraniana e russa, inocentou os nazistas dos hediondos crimes que praticaram na URSS – todos os que morreram na guerra e nos massacres de civis, todas as vítimas do nazismo, foram, através desse embuste, atribuídas a Stalin. O que, provavelmente, era mesmo a intenção.
3
Forçoso é reconhecer que George Bush (pai) tinha suas razões para condecorar Robert Conquest com a “Medalha Presidencial da Liberdade”: a presidência de Bush não era mais do que a extensão de seu mandato como diretor da CIA; as obras “históricas” de Conquest são apenas a continuação de sua atividade funcional no departamento de desinformação do MI6.
Há 17 anos, quando publicou, aqui no HP, “A Constelação dos Falsificadores da História” (posteriormente incluído no livro “A História Continua”), Cláudio Campos, fundador de nosso jornal e secretário geral do Movimento Revolucionário 8 de Outubro, caracterizou precisamente essa atividade funcional:
“No final dos anos 60, Robert Conquest preencheu centenas e centenas de páginas, às quais deu o nome de ‘O Grande Terror’. O livro pretendeu ser um estudo exaustivo e em profundidade dos ‘crimes’ e ‘expurgos’ de Stalin, e obteve grande repercussão nos meios que queriam ouvir o que Conquest dizia. Ele era ‘apoiado’ numa quantidade verdadeiramente impressionante de documentos, relatórios secretos e não secretos, atas de reuniões e congressos do PCUS, testemunhos, uma infinidade de depoimentos em livros, revistas e jornais. (….) “Conquest não revelava a menor capacidade de avaliar, analisar, confrontar de forma séria esses documentos, de maneira a poder estabelecer qual era, de fato, a verdade histórica. Ele estava doentiamente obcecado por uma fantasia que preestabelecem de Stalin, e usava esses documentos simplesmente para pinçar aqui e ali, da forma mais irresponsável possível, os elementos que lhe permitissem reproduzir o seu tenebroso pesadelo. Revelava uma impermeabilidade verdadeiramente notável para os gritantes elementos de verdade contidos naqueles materiais, completa adstringência aos relatos mais inverossímeis e, sobretudo, uma imaginação absolutamente solta e pervertida na ‘interpretação’ dos textos que reunira”.
Na época em que Cláudio escreveu as palavras acima, ainda não era conhecido amplamente o passado de Conquest como funcionário do IRD (“Information Research Department” – o departamento do serviço secreto inglês para, nas palavras de seu criador, Christopher Mayhew, “contra-ofensiva de propaganda encoberta contra os russos”).
O fato, apesar de revelado pela primeira vez em 1978 pelo repórter David Leigh, no “The Guardian”, de Londres, não chamou a atenção até a segunda metade da década de 90.
Também não era sabido que “O Grande Terror” (1968) é, fundamentalmente, um recozinhamento dos textos que Conquest preparara para o IRD entre 1947 e 1956, recheados por citações da documentação soviética a que esse colarinho branco do MI6 teve acesso antes da substituição de Kruschev na URSS. Confirmando a exatidão das palavras de Cláudio, o contato com essa documentação não teve nenhum efeito sobre Conquest. Nada mudou no que já havia escrito. Serviu apenas para que ele pinçasse trechos, introduzindo-os no que antes produzira sem precisar de documentação alguma.
“SOVIETÓLOGOS”
Algo diferente aconteceu com “The Harvest of Sorrow” (1986), onde ele já não dispunha mais de acesso aos arquivos soviéticos – e, mesmo que dispusesse, seria inútil para rechear a falcatrua do “holocausto ucraniano”, pois esses arquivos estão abertos desde 1990 e ninguém conseguiu encontrar nada para apoiar essa invenção, nem Conquest conseguiu, a partir deles, acrescentar uma linha ao que havia publicado em 1986.
Assim, as fontes de Conquest em “The Harvest of Sorrow” são, aberta e quase exclusivamente, os colaboracionistas ucranianos – isto é, os criminosos de guerra que, depois da libertação da Ucrânia pelo Exército Vermelho, entraram nos EUA e Canadá, sendo depois aproveitados pela CIA.
Na verdade, foram eles que bancaram Conquest durante a feitura do livro: a Ukrainian National Association, um grupo com sede nos EUA que desde antes da II Guerra era composto por simpatizantes do nazismo (seu jornal, por germanofilia, foi proibido no Canadá durante a guerra), pagou US$ 80 mil a Conquest para que “The Harvest of Sorrow” fosse escrito – o que, segundo ele, foi uma generosa doação para as despesas com “pesquisas” (cf. Jeff Coplon, “In search of a soviet holocaust”, Village Voice, 12/01/1988).
Em seguida à publicação, aqueles anti-comunistas do meio acadêmico que pretendiam alguma credibilidade, dissociaram-se, como observa Coplon, imediatamente do livro de Conquest. A começar pelo já citado Alexander Dallin, declarando que a história de Conquest “não faz sentido”. (Dallin tinha fama de ser o mais “liberal” dos “sovietólogos”; para que o leitor tenha uma idéia, um dos seus livros sobre a URSS foi escrito em parceria com sua aluna favorita, a senhorita Condoleezza Rice).
Roberta Manning, que escreveu “The Tragedy of the Soviet Village: Collectivization and Dekulakization”, resolveu ser caridosa com Conquest: “Ele é terrível fazendo pesquisa. Ele malbarata as fontes, distorce tudo”.
Um pouco mais incisiva foi sua colega Lynne Viola, autora de uma série de livros sobre a “resistência popular e camponesa” ao “regime de Stalin” e primeira acadêmica dos EUA a ter acesso aos arquivos soviéticos sobre a coletivização da agricultura: “Eu desprezo completamente [o livro de Conquest]. Por que, em nome de Deus, esse governo paranóico desejaria conscientemente produzir uma fome, quando estavam aterrorizados pela guerra [com a Alemanha]?”.
Mas nada se comparou, em síntese e expressividade, à reação de Moshe Lewin, autor de um calhamaço denominado “Russian Peasants and Soviet Power: A Study of Collectivization”, ao livro de Conquest:
“Isso é merda, lixo [this is crap, rubbish]. Eu sou um anti-stalinista, mas não vejo como essa campanha [do “holocausto ucraniano”] vai aumentar o nosso conhecimento, somando horrores, somando horrores, até se tornar uma patologia”.
Mas quem disse que a questão – de Conquest e, na verdade, dos “sovietólogos” em geral – é aumentar o conhecimento?
BLACK PROPAGANDA
Na reportagem de David Leigh no “The Guardian”, o fundador do IRD, Christopher Mayhew, que em 1947 era sub-secretário do Ministério das Relações Exteriores inglês (Foreign Office), declara que o material anti-comunista que o departamento fornecia a jornalistas da Inglaterra e de outros países “somente era ‘black propaganda’ no sentido de que nosso trabalho era todo encoberto e a existência do departamento era confidencial” (cf. David Leigh, Death of the department that never was, “The Guardian”, 27/01/1978, pág. 13; sobre o IRD, ver, também, “The Observer”, 29/01/1978, How the FO waged secret propaganda war in Britain).
“Black propaganda” é o nome dado pelos “serviços de inteligência” à propaganda que é passada ao público sem que este saiba que é propaganda, isto é, como se fosse fato ou notícia. Somente por essa razão, para passar como fato a propaganda mais enganosa, o “trabalho” precisa ser “todo encoberto”, inclusive a existência do departamento que o faz. Porém, a julgar pelo que diz Mayhew, as coisas eram assim (inclusive em relação ao Parlamento) para garantir que a propaganda do IRD dissesse somente a verdade… Um fariseu inglês não tem competidores entre os fariseus do mundo. São muitos anos de experiência e refinamento. Segundo a reportagem do The Guardian, “funcionários ‘seniores’ [do IRD] admitem que o material passado [aos jornalistas] era pesadamente ‘tendencioso’ [slanted]’’.
Leigh descreve que “o IRD também encorajou a produção de livros, descrita em Whitehall [sede do Foreign Office] como ‘fertilização cruzada’”. O principal exemplo de “fertilização cruzada” são os livros de Conquest, que aparece na reportagem contando que “depois que deixou o IRD, foi sugerido que ele poderia combinar em um livro alguns dos dados que tinha reunido de publicações soviéticas. Ele vendeu à [editora] Bodley Head uma série já pronta [ready-made] de oito ‘estudos soviéticos’. Bodley, disse, publicou-os como um negócio comercial normal, vendendo (….) um terço das cópias para [o editor encoberto da CIA] Fred Praeger, que também publicou-os como um negócio comercial normal”.
O departamento de Conquest só não era segredo para o serviço de segurança soviético, que teve um agente dentro dele, Guy Burgess. O IRD sabia disso desde 1951, quando Burgess foi para a URSS. Mas isso não incomodou o departamento: quem não podia saber da sua existência era o povo inglês e outros povos do mundo.
PERCOLAR
Antes de “The Harvest of Sorrow”, Conquest já havia tentado outros pogroms contra a pátria de Gogol. Em “O Grande Terror”, a fome matava 3 milhões de ucranianos. Dezoito anos depois, os mortos subiram para 14,5 milhões. Entre um morticínio e outro, Conquest, com alguns parceiros, produziu, em 1984, “The Man-Made Famine in Ukraine” (“A fome artificial [“Man-Made”= fabricada pelo homem] na Ucrânia”).
Nesse panfleto precursor, diz Conquest:
“Nessa espécie de história nós não temos prova. (….) a incontestabilidade da evidência pode ser plena mesmo quando não é documentada ou completa” (cf. pág. 37 de “The Man-Made Famine in Ukraine”, Washington, 1984, American Enterprise Institute).
É mesmo pior do que a exposição que fez sobre “O Grande Terror”:
“A verdade, portanto, somente pode ser filtrada [percolate] na forma de disse-me-disse [hearsay] (….) basicamente, a melhor fonte, ainda que não infalível, é o rumor”.
Tão interessante quanto a declaração despudorada de que sua fonte é o boato, é a afirmação de que a verdade, em vez de conhecida em sua essência, precisa ser “filtrada” (no original, “percolada”, isto é, coada e limpa de “resíduos”, inclusive com o uso de soda cáustica – v. os verbetes “percolação” e “percolar” no Dicionário Caldas Aulete, ed. 1980).
Logo, vale tudo: a “fome provocada” na Ucrânia não foi uma punição aos que não aderiram à coletivização, pois, diz Conquest, a fome foi também contra os que aderiram a ela. Por que Stalin iria fazer isso contra os que o apoiavam, Conquest não explica. Não se sabe, também, porque Stalin desistiu de “eliminar” o povo ucraniano após 1933.
E havia mais coisas inexplicáveis:
Tombaram, na luta contra o nazismo e os traidores do país que Hitler instalou durante a ocupação, quase 9 milhões de ucranianos. Assim como os 500 mil ucranianos que constituíram a Resistência – isto é, que formaram a guerrilha soviética debaixo da ocupação nazista – eles eram, na grande maioria, camponeses, e tinham, como lema, “por Stalin e pela pátria”. Tão heróico comportamento e tão grande entusiasmo por Stalin, depois que 40% ou 60% de seus compatriotas morreram numa fome deliberadamente provocada?
Com tanta coisa – e desse tamanho – por explicar, Conquest não podia se safar com a fulgurante teoria de que o “holocausto ucraniano” não precisava de provas, simplesmente porque não tinha provas. Nem com a instituição do “disse-me-disse” como fonte suprema da verdade.
Daí, o recurso à manipulação dos números dos censos soviéticos.
ESTABLISHMENT
Alguns leitores, provavelmente, nos perguntarão como é possível que uma falsificação tão grosseira tivesse o patrocínio de universidades como Harvard e Stanford – que, com as de Princeton e Yale, são o “créme de la créme” do establishment acadêmico dos EUA.
McGeorge Bundy, que foi reitor em Harvard, professor da Universidade de Nova Iorque, Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA (1961-1966), coordenador das operações encobertas do governo norte-americano (1964-1966) e presidente da Fundação Ford, definiu assim a questão:
“Em enorme medida, os programas de estudo de área desenvolvidos pelas universidades americanas nos anos depois da guerra foram compostos, dirigidos ou estimulados pelos diplomados do OSS [Office of Strategic Services: o antecessor da CIA] – uma notável instituição, meio tira-e-ladrão e meio encontro de faculdade. Ainda é verdade hoje, e eu espero que sempre será, que existe um alto grau de interpenetração entre as universidades com programas de área e a miríade de agências de informação do governo dos Estados Unidos.” (McGeorge Bundy, “The Dimensions of Diplomacy”, cit. em Douglas Tottle, “Fraud, Famine and Fascism”, pág. 58).
O OSS foi dissolvido pelo presidente Truman em setembro de 1945. Portanto, não é ao OSS que McGeorge Bundy se refere, ao falar dos programas das universidades “nos anos depois da guerra”, mas à CIA – da qual foi um dos idealizadores, com Allen Dulles, George Kennan e Nelson Rockefeller.
Apenas, Bundy é demasiado fariseu para falar publicamente a verdade, mesmo quando sabe que todos sabem do que está falando, não fosse ele o inventor da teoria da “negativa plausível”, pela qual o governo americano pode mentir à vontade, desde que tenha uma história para encobrir a mentira.
PREITO
Em abril de 2005, durante a festa de aniversário de um companheiro e amigo comum, comentei com Cláudio Campos alguns artigos de Walter Duranty, correspondente, na década de 30, do “The New York Times” na URSS.
Naquele dia, o que mais interessou a Cláudio foi a campanha de difamação contra Duranty, após sua morte, em 1957, cuja base é a de que ele teria ocultado a “fome na Ucrânia” dos leitores do “Times”. Ao contrário do que Conquest e outros disseram, as matérias de Duranty estão longe de ser apologéticas em relação ao socialismo, mesmo em relação à Ucrânia de 1932-1933. Apenas, ele recusou-se a endossar a fraude nazista.
Cláudio manifestou, então, que devíamos pesquisar e escrever um artigo sobre o assunto, e fez várias sugestões valiosas a esse respeito. Fiquei, então, de levar o projeto à frente. No entanto, o falecimento de Cláudio, no mês seguinte, impediu-me de continuar contando com sua sempre luminosa orientação. Nos últimos três anos, tenho voltado esporadicamente à pesquisa das fontes, mas sem tempo para finalizar algo sobre o assunto.
O fato é que somente agora, depois do discurso de um senador da oposição repetindo as infâmias nazistas de 75 anos atrás, senti-me obrigado a publicar o que várias vezes esbocei.
Assim, este trabalho é dedicado ao seu verdadeiro idealizador. As imperfeições, naturalmente, devem ser depositadas na minha conta-corrente.
A Cláudio Campos, in memoriam.
Holocausto Judeu também é uma fraude, só ler a documentação da Cruz Vermelha Internacional. Não existiam nem 3 milhões de judeus nos campos de trabalho forçado.
Sobre o número exato, certamente, há controvérsias. Mas que os nazistas mataram muitos judeus, isso ninguém nega
Eu tenho uma dúvida: estou investigando as fotografias tiradas pelo austríaco Alexander Wienerberger, que muita gente diz que é da fome de 1932-1933, chamada de Holodomor. Eram mesmo dessa época ou não? Se não eram, onde eu devo procurar a data verdadeira dessas fotos?
O problema dessas fotos é a origem delas, publicadas por uma organização fascista austríaca, a “Frente Patriótica”, em 1934, e o autor, espião condenado na URSS, e, depois, oficial de ligação com o exército de traidores de Vlassov, sob o comando dos nazistas, até 1945. Não são exatamente as melhores fontes, muito menos as mais idôneas, sobre o assunto.
meu deus do céu, é comprovado que a cruz vermelha na época foi enganada pelo nazistas. Primeiro que eles só visitaram UM campo de concentração, o de bergen-belsen se n me engano, este tinha uma contagem maior de crianças do que de adultos, os nazistas, sabendo da visita prévia da Cruz Vermelha mudaram diversas coisas no campo para mudar a situação e fingir algo que era irreal. No fim, todas as crianças judias morreram. Seu antissemita revisionista.
É incrível o quão difícil é pra retardados reacionários de entender básica realidade e fatos acho que é a vontade de lamber os pés da burguesia que atrapalha a capacidade cognitiva deles aposto que se um esbarra com o texto nem o lê inteiro e só repeti a mesma merda que a propaganda enfiando no seu crânio manda “hurrrr dur negacionista raça maldita comunista dure” é incrível mesmo