Uganda se nega a romper com a Rússia e considera a “cooperação com Moscou questão de vida ou morte para nós”, enfatiza Jeje Odongo
“Os nossos colonizadores nos pedem para sermos inimigos da Rússia. Isso é justo? Não para nós: os inimigos deles são seus inimigos, os nossos amigos são nossos amigos”, afirmou o ministro do Exterior de Uganda, Jeje Odongo em entrevista, no dia 17, à agência russa RIA Novosti.
O ministro esclareceu que “Uganda não sucumbirá à pressão de antigos colonizadores do Ocidente para nos colocar contra a Rússia. Nossas relações de longa duração com Moscou são muito importantes”.
“Fomos colonizados e perdoamos aqueles que nos colonizaram. Só que agora os colonizadores nos pedem para ser inimigos da Rússia que nunca nos colonizou”, destacou.
Uganda foi ocupada sob o mal disfarçado “protetorado” por 70 anos e, no processo de construção do país desde a sua independência em 1962, contou com o estímulo e o apoio da União Soviética que estimulou a luta dos povos africanos por descolonização e soberania e, assim como fez com Uganda, apoiou muitos dos países do continente desde o seu desenvolvimento independente inicial. A Rússia segue este roteiro histórico.
“Muitos de nossos estudantes foram educados na Rússia, então, por que deveríamos de repente assumir como problema para nós a relação com a Rússia, a qual mantemos historicamente?”, questiona Odongo na entrevista concedida no intervalo da Cúpula da União Africana realizada este ano na capital da Etiópia, Adis Abeba.
O diplomata enfatizou a importância da cooperação militar com Moscou, considerando-a uma questão de “vida ou morte”.
“Grande parte de nosso equipamento militar é de fabricação russa. Portanto, com sanções ou não, Uganda tem que atualizar este equipamento para questões de defesa. Vamos sim continuar essa cooperação, que para nós é questão de sobrevivência”.
“PARCEIROS CONFIÁVEIS”, DECLAROU PUTIN EM MENSAGEM AOS AFRICANOS
“A Rússia e as nações africanas são unidas em seu desejo por um mundo justo e multipolar”, declarou o presidente da Federação da Rússia, Vladimir Putin, em sua mensagem à Cúpula da União Africana
Putin saudou a crescente parceria entre Rússia e África, expressando que almeja desenvolver ainda mais a cooperação com os países do continente.
Ele qualificou a União Africana de “estrutura sólida e com autoridade, que tem tido um papel vital na superação de conflitos locais, na promoção da estabilidade e no fortalecimento das relações entre as nações africanas”.
“Para a Rússia, os Estados africanos sempre foram e permanecem parceiros importantes e confiáveis. Nos une a decisão de construir um mundo baseado na verdadeira igualdade, no predomínio da lei internacional, livre de todas as formas de discriminação, de ditaduras impostas, livre de pressões através de sanções”, destacou o presidente russo.
Putin reforçou o convite para que os líderes africanos compareçam à segunda Cúpula África-Rússia programada para São Petersburgo em julho.
A primeira cúpula aconteceu na cidade russa de Sochi, em 2019. Para ele aquele evento “criou muito boas condições para a intensificação de relações tradicionalmente amigáveis, tanto no nível bilateral, como em bases multilaterais. Assim que o evento em São Petersburgo permitirá a definição de novos objetivos na expansão da cooperação em diversas áreas.”
“Eu trabalho para o contínuo e construtivo esforço conjunto em benefício de nossos países e povos e no interesse de garantir a paz e o desenvolvimento próspero para o continente africano”, finalizou.
Desde a campanha de Washington por sanções contra a Rússia, as relações entre os países africanos e a Rússia foram no sentido contrário e se fortaleceram.
Moscou tem feito um esforço neste sentido levando o seu ministro do Exterior, Sergei Lavrov, a percorrer, em menos de um ano, diversos países do continente, entre eles o Egito, Etiópia, Uganda, República do Congo, África do Sul, Angola e Eritreia.