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“No Other Land” (Não Há Outra Terra), a história de ativistas palestinos lutando para proteger as aldeias da região de Masafer Yatta das demolições de casas pelas forças da ocupação, ganhou o Oscar de melhor documentário
Os diretores, o palestino Basel Adra e o israelense Yuval Abraham, basearam seus discursos na exigência de um “fim à limpeza étnica do povo palestino”
“No Other Land” (Não Há Outra Terra), a história de ativistas palestinos lutando para proteger o conjunto de 19 aldeias da região de Masafer Yatta das demolições de casas pelas forças da ocupação, ganhou o Oscar de melhor documentário.
Os diretores, o palestino Basel Adra e o israelense Yuval Abraham, usaram seus discursos para exigir o “fim da limpeza étnica do povo palestino”
O filme ‘No Other Land’ (Não Há Outra Terra), de direção conjunta de um israelense e um palestino conquistou o Oscar na categoria de melhor documentário. O filme conta a história da agressão israelense que tenta apagar do mapa o conjunto de 19 aldeias palestinas na região de Massafer Yatta e da resistência palestina protestando contra as demolições através de tratores ou pela reconstrução do que acaba de ser destruído.
“Fizemos este filme palestinos e israelenses porque juntas nossas vozes se tornam mais fortes”, disse o diretor israelense Yuval Abraham, no discurso de aceitação do Oscar.
O director palestino, Basel Adra disse que o filme “se insere na luta pelo fim da violência dos colonos [judeus], das demolições de casas e dos deslocamentos forçados”.
O filme também mostra outras atrocidades, como a destruição de uma escola e o encerramento de poços de água com cimento pelos soldados enviados pelo regime de Netanyahu.
Adra e Abraham subiram ao palco junto com a israelense Rachel Szor e o palestino Hamdan Ballal.
“Vemos a atroz destruição de Gaza e seu povo, que tem que acabar, os reféns precisam ser liberados”, disse Avraham.
“Quando eu olho para Basel, eu vejo um irmão. Mas não estamos em igualdade. Vivemos em um regime no qual eu sou livre sob legislação civil e Basel está sob lei militar que destrói sua vida. Existe um rumo diferente, uma solução política sem supremacia étnica, com direitos nacionais para ambos os nossos povos”.
Abraham destacou que o destino dos diretores israelenses que contestam o regime de apartheid é serem censurados, perseguidos, ignorados: “Fiquei chocado ao ver que meu discurso é chamado do ‘antissemita’”.
“O que eu tenho para dizer, daqui, é que a política externa dos Estados Unidos, neste governo Trump, bloqueia a solução política. E para quê? Não enxergam que estamos interconectados? Que os israelenses não podem estar verdadeiramente seguros se o povo de Basl não estiver verdadeiramente livre e seguro?”, prosseguiu Abraham.
“Há outro caminho, não é tarde para a vida, para os vivos”, concluiu o israelense.
Basel Adra disse que se tornou pai há dois meses e que sua esperança para sua filha é que “ela não terá de viver sempre com medo da violência dos colonos, das demolições de casas e dos deslocamentos forçados que minha comunidade, de Masafer Yatta, vive e enfrenta todo dia sob ocupação israelense”.
“Não Há Outra Terra”, reflete a dura realidade que temos enfrentado por décadas e contra a qual ainda resistimos enquanto conclamamos o mundo a tomar medidas sérias para parar a injustiça e parar a limpeza étnica do povo palestino”, acrescentou Adra.
O filme recebeu também o prêmio alemão Berlinale na categoria de documentário.
Quem não ficou satisfeito com o brilhante trabalho foi o governo de apartheid de Netanyahu. Sua ministra da Cultura, Miki Zohar, qualificou o filme como “um momento triste”.
Ela justificou as leis que censuram o cinema, majoritariamente crítico ao regime racista e supremacista de Israel: “É precisamente por isso que fizemos passar uma reforma acerca do financiamento estatal do cinema, para garantir que o dinheiro dos impostos dos contribuintes seja direcionado a trabalhos de arte que falam à audiência israelense, em vez de a uma indústria que constrói sua carreira na difamação de Israel no palco global”.
O filme, que se tornou possível com recursos noruegueses, foi produzido durante cinco anos, de 2019 a 2023, e utilizou imagens filmadas durante 20 anos de documentação da luta dos residentes contra sua expulsão.
O filme segue os passos de Basel Adra, enquanto ativista que se arrisca a ser preso ao documentar a destruição de sua aldeia, a qual soldados israelenses vão arrasando para tornar a região em zona de treinamento militar ao sul da Cisjordânia palestina ocupada.