LEONARDO WEXELL SEVERO
direto de Assunção
Lideranças da oposição paraguaia anunciaram para o próximo sábado uma nova onda de protesto em repúdio ao “Pacto de Impunidade” com o qual o Partido Colorado conseguiu postergar por 43 votos a 37, terça-feira, o impeachment do presidente Mario Abdo Benítez e do seu vice Hugo Velázquez.
O governo paraguaio foi denunciado por “alta traição” e “extorsão financeira” pelo presidente da ANDE (Administração Nacional de Eletricidade), Pedro Ferreira, devido a ter compactuado com o empresário Alexandre Giordano, suplente de senador do PSL paulista, que fez lobby para extorquir mais de US$ 200 milhões do país vizinho, até 2023 e com a compra de energia de Itaipu por baixo do custo para venda desta energia com exclusividade em nosso país. Dono da Comercializadora Léros, Giordano afirmava representar a família Bolsonaro na negociata. Vinda a público, a ata secreta assinada entre as chancelarias no dia 24 de maio para beneficiar a Léros foi anulada no dia primeiro de agosto, logo após a explosão da crise.
A reunião desta quarta-feira esteve comandada pelos presidentes da Frente Guazú, senador Carlos Filizzola, e do Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA), Efraín Alegre, que informaram que a mobilização nacional, que deve caminhar rapidamente para uma “greve geral”, somará organizações sociais, estudantis e sindicatos que ocuparão as ruas, praças e estradas. No centro da capital, Assunção, na praça O’Leary, ficará uma “barraca de resistência patriótica até que seja efetivada a destituição dos entreguistas”.
“Estamos do lado correto da história, do lado do povo. Nós nos opomos a um governo que se opõe ao Paraguai. A população tem que identificar seus traidores com nome e sobrenome. O povo vai cobrar a traição e a história vai lembrá-los com vergonha”, acrescentou Efraín Alegre.
“A luta continua”, enfatizou o senador Carlos Filizzola, sublinhando que as manifestações serão ampliadas, “pois é latente o crescente espírito de combate à impunidade que une os paraguaios”. “Este governo não tem mais qualquer condição de seguir à frente do país. Que autoridade moral e que força tem um governo como este para melhorar a economia, o emprego, o salário, a saúde e a educação, se somente conseguem se mantém no poder por ter feito um pacto de impunidade com o grupo do ex-presidente Horacio Cartes?”, questionou.
GOLI STROESSNER, EUA E ISRAEL
Líder da bancada da Frente Guazú no Senado, Esperanza Martínez aponta que “as versões que correm, e que nos parecem muito próximas à realidade, é que no dia em que Horacio Cartes mudou de posição, passando a apoiar a Mario Abdo, se deu uma negociação envolvendo Goli Stroessner, neto do ditador, que vive nos Estados Unidos. Goli Stroessner falou com o embaixador de Israel nos EUA e pediu ajuda. Falaram com o presidente israelense e o embaixador de Israel na Argentina viajou para o Paraguai se reunindo com Horacio Cartes às oito horas da manhã e às dez horas ele anunciou sua mudança em relação ao impeachment. Tínhamos os votos necessários para o impeachment às 8 horas e às 10 horas ficamos sem nenhum”. Para Esperanza, “nitidamente houve um forte entrelaçamento entre a embaixada dos Estados Unidos, o Itamaraty, o presidente Bolsonaro, o governo de Israel, o presidente Mario Abdo Benítez e o ex-presidente Cartes”.
Para o presidente da Central Unitária de Trabalhadores Autêntica (CUT-A), Bernardo Rojas, “o presente e o futuro dos paraguaios correm enorme perigo e por isso a nação se levanta”. “A proposta de entregar, a preços irrisórios, a uma empresa ligada a Bolsonaro a energia de Itaipu – que representa desenvolvimento, geração de empregos e bem-estar – só poderia partir de um personagem nefasto como Marito. É o mesmo que quiseram fazer com a represa de Yacyretá, conjunta com a Argentina, na época de Menem, colocando nossa riqueza em mãos privadas, deixando os países à beira do colapso”, explicou. O sindicalista frisou que “Bolsonaro quis começar indicando o grupo Léros para nos comprar energia barata e vender a preço de mercado, acumulando para a privatização da Eletrobras e da nossa estatal, a ANDE”. “Bolsonaro e Marito são um retrocesso para o Brasil e para o Paraguai”, enfatizou.
Liderança da Faculdade de Filosofia, da Universidade Nacional de Assunção (UNA), vanguarda dos protestos, a estudante Yanin Barreto, acredita na força do tsunami para virar a página. “Fomos às ruas quando vimos que havia um governo negociando a soberania nacional nas nossas costas, fazendo acordos secretos para entregar uma riqueza estratégica para o Paraguai, como Itaipu, a uma empresa ligada a Bolsonaro. Prenderam seis colegas nossos e, a partir daí, o movimento explodiu e só vem ganhando força”. Conforme Yanin, “não basta apenas o impeachment, mas uma profunda investigação sobre a negociata e a convocação de eleições, pois um governo que se dobrou aos interesses pessoais de um fascista não tem mais qualquer capacidade ou legitimidade, perdeu a confiança dos paraguaios”. “Mario Abdo é um entreguista, como foi seu pai, secretário do ditador Alfredo Stroessner”, acrescentou.