No acumulado em doze meses até fevereiro, foram transferidos R$ 659,1 bilhões (6,54% do PIB)
Com a taxa Selic mantida pelo Banco Central (BC) em 13,15% ao ano, o gasto do setor público (governo central, estados e estatais) com o pagamento de juros somou R$ 64,2 bilhões em fevereiro de 2023, sendo quase 2,5 vezes o que foi pago no mesmo período do ano passado (R$ 26 bilhões), segundo dados divulgados na sexta-feira (31/3) pelo BC.
No acumulado de 12 meses até fevereiro deste ano, a soma da transferência de renda de toda sociedade para os bancos alcançou R$ 659,1 bilhões (6,54% do PIB), sendo 236,6 bilhões a mais do que foram pagos nos doze meses até fevereiro de 2022 (R$ 422,5).
Com a despesa do governo com juros nesta magnitude, o setor público consolidado registrou déficit primário – resultado negativo entre as receitas e despesas – de R$ 26,5 bilhões em fevereiro.
Agora, quando a disposição é elevar os investimentos do governo, reajustar salários, retomar a reindustrialização do país, fazer a economia crescer, enfim, dar melhores condições de vida para o povo, os “fiscalistas” se irritam e começam a gritar que ‘vai haver crise fiscal’, ‘a dívida pública vai explodir’, etc.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e a diretoria do BC estão usando a autonomia do BC obtida em 2021 para impor ao governo Lula o receituário que interessa aos rentistas e que levou a economia brasileira a obter os resultados desastrosos da última década.
Sem mostrar nenhum resultado em suas funções básicas, o BC ainda se arvora a dar opiniões sobre a política fiscal. Campos Neto e sua diretoria afirmaram, na ata do Copom, que o novo arcabouço fiscal deve ser “sólido e crível para levar a um processo desinflacionário mais benigno através de seu efeito no canal de expectativas do mercado”. Isso não é de sua competência.
Para manter a transferência da renda das classes produtivas do país para o rentismo, Campos Neto e sua diretoria argumentam que a inflação brasileira é causada pelo excesso de demanda, mesmo quando todas as evidências apontam que ela é causada por choques negativos de oferta.
O economista André Lara Resende resumiu bem essa questão na entrevista à jornalista da Globo, Miriam Leitão, na última quarta-feira (29).
“A inflação atual no mundo todo é por choques negativos de oferta. Saiu da pandemia, a cadeia produtiva que era globalizada se desorganizou. A oferta não estava conseguindo acompanhar a demanda e houve uma pressão de preços”, explica Lara Resende que acrescenta. “Sobre isso, se sobrepôs um choque de preço de energia e de alimentos por causa da guerra da Ucrânia. Com isso, dois choques negativos. Essa inflação não tem nada de demanda, é de desorganização da oferta. Na história latino-americana, o pensamento chamava isso de inflação estrutural, quando força o desenvolvimento, cria-se gargalos na oferta. Como se combate uma inflação assim, causado por desorganização na oferta? Não é contraindo a demanda. O que precisa é restabelecer a oferta”, afirmou Resende.
Os juros altos estão comprimindo a demanda por bens e serviços no país e agravando o endividamento das famílias brasileiras e das empresas. As expectativas de crescimento da economia para o primeiro e o segundo trimestres de 2023 são pessimistas, lembrando que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro recuou -0,2% no quarto trimestre de 2022. A taxa de desemprego voltou a subir no país e chegou a 8,6% no trimestre móvel terminado em fevereiro em relação aos três meses anteriores, de acordo com a PNAD Contínua do IBGE. No país, são mais de 9,2 milhões de brasileiros sem emprego.
Frente à fraca demanda, as montadoras de veículos no Brasil já estão paralisando suas produções e dando férias coletivas aos trabalhadores – a “antessala” das demissões.
O IBGE divulgou nesta semana que a produção industrial de bens de capital em janeiro caiu -4,2%, a de bens intermediários recuou -0,8% e a de bens de consumo duráveis retraiu -1,3%.
No geral, a produção física nacional recuou -0,3% em janeiro de 2023, na comparação com dezembro do ano de 2022, quando marcou variação nula (0,0%). Na análise do acumulado dos últimos 12 meses, o resultado foi de queda de menos 0,2%.