Segundo a representante dos petroleiros, Rosangela Buzanelli, os investimentos são os menores desde 2004. Sob ordens de Bolsonaro, estatal antecipou o pagamento no montante de R$ 87,8 bilhões aos acionistas, na maioria estrangeiros, para financiar suas manobras eleitoreiras
Para a representante dos trabalhadores da Petrobrás no Conselho de Administração da estatal, a engenheira geóloga Rosangela Buzanelli, “a reserva de lucros” da Petrobrás deveria ser usada “para ampliar significativamente os investimentos e recomprar ações da companhia”, disse Buzanelli que votou contra a distribuição de dividendos no valor de R$ 87,8 bilhões, que serão pagos em agosto e setembro para os acionistas da estatal – grande parte estrangeiros.
“Como afirmei anteriormente, não sou contra o pagamento de dividendos. Uma empresa de economia mista, mesmo que estatal, deve pagá-los a seus investidores. O que considero indefensável é o volume pago”, disse a engenheira, em uma nota publicada em seu blog.
“Uma quantia que ultrapassou em muito o lucro líquido da companhia, enquanto os níveis de investimentos previstos nos planos quinquenais da Petrobrás estão nos menores patamares desde 2007, se comparados em real. Se convertermos em dólar, são os menores desde 2004. Considero que o mais justo e sensato seria o pagamento regular mínimo dos dividendos, incrementando a reserva de lucros para ampliar significativamente os investimentos e recomprar ações da companhia”, escreveu Rosangela Buzanelli.
O governo Bolsonaro radicalizou a política de desinvestimento na Petrobrás, iniciada em 2015, distribuindo os ganhos das vendas dos ativos para os acionistas. Segundo dados do Privatômetro do Observatório Social do Petróleo (OSP), com base no relatório de desempenho financeiro do segundo trimestre deste ano, a soma de ativos da Petrobrás vendidos nos últimos sete anos já atingiu a marca de R$ 280,4 bilhões. Foram negociados 67 ativos da estatal, sendo a maioria (40%) do setor de Exploração e Produção de petróleo (E&P).
A maior parte das vendas foi concretizada no governo Bolsonaro, contabilizando R$ 175 bilhões, representando 62,4% do valor total.
Para o coordenador geral da FUP, Deyvid Bacelar, a distribuição de dividendos no valor de R$ 87,8 bilhões “é um verdadeiro saque ao patrimônio público”, disse Bacelar, ao destacar que 63% desta soma fica com os acionistas privados da estatal, sendo que 40% são estrangeiros.
“Estão raspando os cofres da Petrobrás, ao apagar das luzes desta gestão entreguista, algo sem precedentes na história da empresa”, denunciou Bacelar, que defende a transferência da renda gerada pela Petrobrás para o povo brasileiro. “É um escândalo a diretoria da estatal pagar aos acionistas quase 7 reais por ação e reduzir apenas 15 centavos no litro da gasolina, cujos preços abusivos têm impacto na inflação e na vida de todos os brasileiros”.
O economista e pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), Eduardo Costa Pinto, calcula que os cerca de R$ 88 bilhões que a diretoria da Petrobrás reservou para os acionistas equivalem a um quinto do atual valor de mercado da Petrobrás, estimado em R$ 428,7 bilhões.
“Em apenas um trimestre, a empresa vai distribuir aos acionistas cerca de 20,5% do seu valor. Desse total, R$ 35,5 bi vão para acionistas estrangeiros, R$ 32,5 bi para o governo e R$ 20,7 bi para os acionistas privados nacionais”, aponta o economista.