“O coronavírus não pode ser desculpa para o desastre. A economia não ia acelerar este ano como todo mundo imaginava”, diz Cláudio Considera do Ibre/FGV
O Brasil foi atingido pela pandemia do coronavírus em um momento que o ritmo da economia já estava perdendo força, afirma Cláudio Considera, pesquisado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).
Para ele, o vírus não pode ser culpado pelo “desastre” econômico que está por vir, conforme vem apregoando Bolsonaro, que defende o fim do isolamento social e a volta ao trabalho, a abertura de escolas e do comércio, para salvar a economia, “o Brasil não pode parar”, já que as “algumas mortes terão, paciência”.
No ano passado, o Produto Interno Bruto foi de apenas 1,1%, o pior resultado dos últimos três anos. Uma economia estagnada desde a grande recessão de 2014-2016. No início do governo Bolsonaro a previsão de alta do PIB era de 2,5% e desabou para menos do que os anos 2017 e 2018, ambos em 1,3%.
No início desta semana, o Monitor do PIB da FGV divulgou que PIB brasileiro cresceu apenas 0,7% em janeiro ante dezembro de 2019. No trimestre móvel de novembro a janeiro, o crescimento foi de 0,2% contra o trimestre encerrado em outubro. Os números são anteriores ao início dos efeitos da pandemia do coronavírus.
Ao analisar o resultado “medíocre” da economia no início de 2020, o coordenador do Monitor do PIB, Cláudio Considera, afirmou que “o coronavírus não pode ser desculpa para o desastre. A economia não ia acelerar este ano como todo mundo imaginava”, destacando que mesmo antes do Covid-19 se espalhar pelo mundo já não via impulso em termos de investimento e de consumo na economia brasileira.
Na comparação entre trimestres móveis, a formação bruta de capital fixo (FBCF) – o investimento em bens de capital, máquinas, equipamentos e material de construção – caiu 1,2% na mesma base de comparação.
Já o consumo das famílias variou positivamente 1,4% nos três meses encerrados em janeiro, ante igual período de um ano antes. Neste resultado, observa-se que o consumo de produtos não duráveis, que representa cerca de 30% do consumo das famílias, passou a contribuir negativamente 0,1 ponto percentual, para o total, após ter contribuído positivamente em torno de 0,4 p.p., na segunda metade de 2019.
Cláudio Considera defende que o governo não pode ficar restrito a medidas de mitigação de curto prazo e às despesas com saúde, porque os investimentos já estavam deprimidos antes da pandemia e as empresas tinham capacidade ociosa. Segundo o pesquisador, quando o pior da pandemia passar o governo terá que ampliar ainda mais os gastos, isto porque “a economia não vai crescer sem investimento”.