Para IBGE, falta trabalho para 32,9 milhões de brasileiros. E Guedes diz que economia cresce em “V”
Segundo dados do novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados na quarta-feira (30) pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, em 8 meses o Brasil perdeu 849.387 empregos, em comparação com o período de janeiro a agosto de 2019.
Em agosto foram 1.239.478 admissões contra 990.090 demissões, saldo positivo de 249.388 vagas de emprego com carteira assinada, que foi considerado por Guedes “um extraordinário avanço“, voltando a repetir seu mantra: “O Brasil está realmente voltando em V, tivemos empregos em todos os setores da economia, não foi um bolsão”.
Porém, o saldo foi insuficiente para compensar as perdas de vagas a partir da pandemia: em março, -265.609 vagas; maio, -359.453 vagas e junho, -22.706 vagas. Em julho, o saldo ficou positivo em apenas 141.190 postos de trabalho .
IBGE: 13,1 milhões de pessoas desempregadas
No mesmo dia, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou dados sobre a situação do emprego no País, que tem uma abordagem mais ampla do que o novo Caged, do ministro de Bolsonaro. De acordo com o IBGE, no trimestre de maio a julho deste ano, o desemprego no Brasil bateu na casa de 13,8% – maior alta já registrada na série histórica da pesquisa PNAD Contínua, iniciada em 2012. Ao todo são 13,130 milhões de pessoas desempregadas no período, em relação ao mesmo trimestre de 2019.
Segundo o IBGE, “o número de empregados com carteira de trabalho assinada no setor privado (exclusive trabalhadores domésticos), estimado em 29,4 milhões, foi o menor da série, caindo 8,8% (menos 2,8 milhões de pessoas) frente ao trimestre anterior e de 11,3% (menos 3,8 milhões de pessoas) ante o mesmo trimestre de 2019. O número de empregados sem carteira assinada no setor privado (8,7 milhões de pessoas) caiu 14,2% (menos 1,4 milhão de pessoas) em relação ao trimestre móvel anterior e 25,4% (menos 3,0 milhões) ante o mesmo trimestre de 2019″.
SUBUTILIZAÇÃO DO TRABALHO
O instituto também constatou um recorde na população subutilizada, que é a soma dos desempregados; aqueles que trabalham menos horas do que gostariam; e quem não procurou emprego, mas estava disponível para trabalhar ou quem procurou trabalho, mas não estava disponível para a vaga. Ao todo são 32,9 milhões de brasileiros nestas condições, atingindo uma alta de 14,7% ante o trimestre anterior, e 17,0% frente ao mesmo trimestre de 2019.
Em coletiva, onde anunciou o resultado do Caged, Guedes voltou a defender suas reformas de arrocho “estruturantes” e a “retomada das privatizações”, destacando “a Eletrobrás e o Correios”, duas das mais importantes estatais brasileiras e que, segundo pesquisas já divulgadas por institutos, o povo brasileiro não quer ver privatizadas, e encontra enorme resistência no Congresso Nacional, inclusive entre parlamentares da base do governo. Mas Guedes preferiu responsabilizar a Covid-19 que “tirou as reformas dos trilhos” e “o presidente da Câmara e a esquerda” que querem “interditar as privatizações”.
Atirou para todo lado: além de atacar o Congresso Nacional, agrediu os servidores públicos, as aposentadorias, os fundos públicos e 27 programas sociais, que ele propõe extinguir.
Disse que não ia usar precatórios – “dívida líquida e certa” -, “jamais para financiar programa social“, mas disse que vai passar uma “lupa“, questionando o valor das dívidas, afinal tem que “limitar as despesas“, “respeitar o teto de gastos” para garantir a transferência de recursos públicos para bancos, é claro. “Controlar despesas e não furar o teto“, declarou.
Na coletiva, depois da proposta de tirar recursos do Fundeb e do calote nos precatórios para a tal “Renda Cidadã” , que foi bombardeada por todos os lados, Paulo Guedes voltou a defender o “Renda Brasil”. “Podemos juntar 27 programas sociais, dar uma calibragem adicional para que seja um pouso suave, um local de aterrissagem para o auxílio emergencial“, ou seja, voltou a defender a extinção dos programas como abono-salarial e o seguro-defeso.
Em fevereiro, Guedes disse que a economia estava “decolando”, sugerindo que o Brasil já havia superado a recessão de 2014/16 e a estagnação econômica dos anos seguintes (2017 a 2019, com crescimento médio de 1% do PIB). “Nesse segundo ano continuamos com o ritmo das reformas, nós vamos crescer 2% e assim por diante. Estamos recuperando a dinâmica de crescimento do país”, disse na época.
Em março, tanto Guedes como a sua equipe cogitaram que a Covid-19 teria impacto mínimo na economia. Aliás, Bolsonaro saiu repetindo isto aos quatro cantos. Nesta época, diversos países do mundo já estavam realizando medidas de quarentena, campanha contra a transmissão do vírus, suspendendo exportações para proteger sua população com estoque de alimentos e insumos médicos, injetando bilhões em recursos públicos para salvar empresas, empregos e vidas.
Em seguida a realidade os desmentiu. O buraco da recessão já estava cavado antes da crise sanitária ter atingido o País. Os efeitos da insanidade neoliberal de Paulo Guedes já haviam se manifestado nos primeiros três meses deste ano, a queda de -1,5% do PIB que foi registrada neste período (ante o final de 2019), foi revisada para -2,5% pelo IBGE. No segundo trimestre veio o tombo histórico de 9,7% em relação aos três primeiros meses de 2020.
Diante disto, com os efeitos da crise sanitária e por conta de uma demora do governo em criar estímulos para proteger a economia brasileira, o Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país, recuou no primeiro semestre (de janeiro a junho) 5,9%, em relação ao igual período de 2019.