“O país que mais cresceu na América Latina, distribuindo riqueza, foi a Bolívia, que fez o contrário do que estão propondo aqui, melhorando os direitos previdenciários nos últimos anos”, foi o desafio que o economista Eduardo Moreira, engenheiro pela PUC do Rio de Janeiro e economista pela Universidade da Califórnia de San Diego (UCSD), fez aos senadores, durante audiência, no dia 25 de março, sob o tema “Impacto da Reforma da Previdência” na Comissão de Direitos Humanos do Senado.
O economista defendeu que elevar benefícios previdenciários – ao contrário do que se afirma para defender a proposta, enviada pelo governo, de Reforma Previdenciária – é uma forma de distribuir riqueza e assim melhora a capacidade de consumo da população, dinamiza a economia e, ao invés de causar déficit, produz superávit.
Um dos argumentos do professor Moreira a favor desta percepção tem por base estudo das consequências, do ponto de vista econômico, de tratamentos diversos para a Previdência Social em diferentes países na América Latina.
Segue a transcrição do trecho em que o economista aborda a questão:
“Vamos olhar o caso do Chile. O Chile tem sido muito citado, pelos que defendem a Reforma da Previdência, como um milagre econômico porque adotou as políticas liberais.
É absolutamente inconsequente fazer uma análise da economia de um outro país de uma maneira tão superficial e rasa, estão comparando laranja com banana. O Chile é um país que tem uma economia 7 vezes e meia menor do que a do Brasil. Uma economia com um PIB de cerca de 270 bilhões de dólares e o Brasil tem o PIB maior do que 2 trilhões de dólares.
O Chile tem metade das suas exportações em cobre, um produto só, que multiplicou por quatro o preço nos últimos 20 anos. Mas as pessoas pegam o Chile como exemplo de um país que deu certo.
E eu chamo a atenção para o seguinte: o Chile é o país mais desigual, estudado pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), seguido do México, países que adotaram políticas iguais a estas que se quer adotar no Brasil.
Mas, imaginem alguém no Chile, olhando por exemplo para um país que tem a economia 7 vezes e meia menor que a deles, coincidentemente a mesma relação da economia deles com a do Brasil, que é a Bolívia. Só existe um país que cresceu muito mais que o Chile nos últimos dez anos, na América Latina. Sabem qual foi?
Foi a Bolívia.
Vocês sabem o que a Bolívia fez em 2010? Aprovou uma lei reestatizando a Previdência Social, que tinha sido privatizada. Fazendo a idade mínima cair de 65 para 58 anos.
Fazendo com que as mulheres tivessem o direito de se aposentar um ano a menos para cada filho, limitado a três filhos. Que os operários das minas pudessem se aposentar com um ano a menos a cada dois anos trabalhados.
Sabem o que aconteceu com a Bolívia durante esse tempo? Foi o caos, não é? Quebrou…Se fez o contrário do que estão propondo aqui, quebrou…
Pois bem, não foi nada disso, se nos últimos dez anos o Chile cresceu 34%, a Bolívia cresceu 62%. O país que mais cresceu na América Latina, distribuindo riqueza”.
Logo adiante, com base na análise acerca do país vizinho que cresceu distribuindo riquezas, o economista acrescenta, referindo-se ao desafio brasileiro, cuja solução, aponta, está em trilhar o caminho oposto ao do arrocho proposto pela proposta governamental:
“A solução para este país, senadores, é muito simples: ela envolve dar riqueza para que as pessoas tenham o mínimo para também produzirem riqueza”.
Ao passo em que não critico ou enxergo mal nas políticas sociais do Evo, confesso que me perdi na lógica do economista, que utiliza-se de artifício retórico extremamente similar ao dos defensores da previdência.
Primeiro: O Chile tem economia 7x menor que o Brasil mas não serve de parâmetro, mas a Bolívia tem economia 49x menor que a do Brasil e nos traz a solução para o desenvolvimento do país?
Leia outra vez. Você não entendeu. A comparação é entre a Bolívia e o Chile, não entre o Brasil e a Bolívia. Mais atenção, leitor.