Segundo o Boletim Focus do Banco Central, divulgado nesta segunda-feira (14), na mediana das projeções, o “mercado” financeiro apontou um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2022 de 0,30% – ou seja, metade dos consultados acreditam que 2022 naufragará na recessão. A âncora que nos arrastará para tal tragédia anunciada são os juros, que segundo os economistas das instituições financeiras consultadas pelo BC, a taxa básica de juros (Selic) deve chegar a 12,25% a.a no final de 2022.
Pela quinta semana consecutiva, a projeção para a inflação subiu e alcançou 5,5%, ante 5,44% na semana passada.
De março de 2021 a janeiro de 2022, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC já elevou a Selic por oito vezes, a pretexto de combater uma inflação que é puxada, principalmente, pelos sucessivos aumentos dos preços dos combustíveis, pelo tarifaço da bandeira da conta de luz, assim como, da desvalorização do real frente às demais moedas estrangeiras. Em doze meses (até janeiro de 2022), os preços administrados pelo governo acumulam alta bem acima da inflação: Etanol, 54,95%; Óleo Diesel, 45,72%; Gasolina, 42,71%; Gás de botijão, 31,78% e Energia elétrica residencial, 27,02%.
Quando o Copom decidiu aumentar a taxa Selic, que estava 2,75% a.a em 17 de março 2021, a inflação oficial do país acumulava alta de 5,2% em 12 meses (até fevereiro 2021). De lá para cá, a inflação – que é mediada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE – ultrapassou a casa dos dois dígitos, alta de 10,38% em 12 meses (até janeiro de 2022), e as expectativas é que ela continue crescendo nos próximos meses. Já a Selic se encontra em 10,75% ao ano.
Diante dos sucessivos aumentos da Selic, o gasto do governo com juros da dívida pública aumentou R$ 136 bilhões em 2021. Segundo o Banco Central (BC), a transferência de recursos públicos para pagamento de juros a bancos passou de R$ 312,4 bilhões, em 2020, para R$ 448,3 bilhões no último ano.
O diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Fausto Augusto Junior, destaca que “a taxa de juros alta significa que o crédito vai ficar mais caro, a economia vai esfriar e o desemprego aumenta”.
“O desemprego já está bastante alto. Nós estamos aí com mais de 12 milhões de pessoas desempregadas. E afinal de contas, qual a proposta do governo para o desemprego? Um programa de trabalho voluntário. Vejamos bem o que é esse programa de trabalho voluntário da tal medida provisória (MP) 1099, que nada mais é do que um programa que não há recursos. Os recursos serão custeados pelos municípios e que o governo basicamente propõe que o trabalhador faça trabalhos diversos para as prefeituras ganhando menos do que um salário mínimo, sem direito nenhum, sem direito previdenciário, sem contar inclusive para sua aposentadoria”, denunciou Augusto Junior.
“O governo não faz nenhuma discussão sobre como lidar com a questão do desemprego jovem, como fazer a transição da escola trabalho no momento em que os jovens estão abandonando a escola, em especial, no meio dessa pandemia, numa economia que não consegue gerar emprego para juventude no nosso país. De outro lado, ele tenta criar algum mecanismo para dizer que um programa de alguma forma vai arrumar renda para aqueles que muitos inclusive deveriam estar aposentados, algo que foi ceifado pela reforma da previdência de 2019. Olhando para tudo isso, de um lado taxa alta de juros, alta do desemprego, e alternativa então proposta pelo governo é um programa que está longe de ser algo que faça algum sentido”, criticou o técnico do Dieese.