“Acompanhei de perto a evolução da nossa deterioração moral”, diz, em carta ao PT
Em carta à direção nacional do PT, o ex-homem de confiança de Lula, Antônio Palocci, pede desfiliação do partido e se diz surpreso com o sentido do processo aberto pela direção do PT contra ele. “Havia me preparado para enfrentar junto ao partido um procedimento de natureza ética frente à recente condenação que sofri na 13ª Vara Federal de Curitiba”, disse Palocci.
“Pensava ser normal que o partido procurasse saber as razões que levaram à tal condenação e minhas eventuais alegações. Mas nada recebi sobre isso. Recebo agora as notícias da abertura de procedimento ético em razão das minhas declarações no interrogatório judicial ocorrido no último dia 06/09/2017. O procedimento questiona minhas afirmações a respeito do ex-presidente Lula”, prosseguiu o ex-ministro. “Agora que resolvo mudar minha linha de defesa e falar a verdade me vejo diante de um tribunal inquisicional dentro do próprio PT”, acrescentou Palocci, reafirmando tudo o que disse em seu depoimento. “Qual o critério do partido? Processos em andamento? Condenações proferidas? Se é este o critério, o processo de expulsão não deveria recair apenas contra mim”, frisou.
Na carta, que a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, diz se destinar “aos procuradores da Lava Jato, oferecendo mentiras em troca de benefícios penais e financeiros”, Palocci destaca: “acompanhei de perto a evolução da nossa deterioração moral”. “Um dia, Dilma e Gabrielli dirão a perplexidade que tomou conta de nós após a fatídica reunião na biblioteca do Alvorada, onde Lula encomendou as sondas e as propinas, no mesmo tom, sem cerimônias, na cena mais chocante que presenciei do desmonte moral da mais expressiva liderança popular que o país construiu em toda nossa história”, registra o documento.
“Tenho certeza, acrescentou ele, “que cedo ou tarde o próprio Lula irá confirmar tudo isso, como chegou a fazer no mensalão”. Palocci questionou ainda o comportamento dos militantes do partido. “Até quando vamos fingir acreditar na autoproclamação do ‘homem mais honesto do País’ enquanto os presentes, os sítios, os apartamentos e até o prédio do Instituto (!!) são atribuídos à Dona Marisa?”, disse. “Afinal, somos um partido político sob a liderança de pessoas de carne e osso ou somos uma seita guiada por uma pretensa divindade?”, questionou Palocci.