O ex-ministro Antônio Palocci afirmou, em depoimento ao juiz Ricardo Leite, da 10ª Vara Federal de Brasília, que Luís Cláudio, um dos filhos do ex-presidente Lula, recebeu propina do lobista Mauro Marcondes, envolvido na elaboração da Medida Provisória 471/2009, objeto de ação penal no âmbito da Operação Zelotes.
Palocci falou à Justiça Federal, na quinta-feira (6/12), no processo em que Lula, e seu ex-secretário Gilberto Carvalho, são acusados de aceitar propina de R$ 6 milhões para conceder benefícios fiscais a empresas do setor automotivo. Segundo o ex-ministro, Luís Cláudio recebeu entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões para realizar um projeto na área dos esportes.
De acordo com Palocci, o filho do ex-presidente foi até a sua consultoria em São Paulo, entre o final de 2013 e o início de 2014, pedir ajuda para obter de empresas ao menos R$ 2 milhões para financiar o projeto esportivo.
“Ele [Luís Cláudio Lula da Silva] disse que precisava para o evento ‘Touchdown’, que ele lidera, para fechar entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões e que eu ajudasse com recursos via empresas conhecidas, porque eu conhecia muitas. Não pude fazer nada e fui falar com Lula para saber se ele me autorizava a fazer isso. Sempre que alguém me pedia em nome do ex-presidente eu o consultava”, disse Palocci.
“Touchdown” era um torneio de futebol americano, com o objetivo de popularizar esse esporte no Brasil.
Palocci disse a Luís Cláudio que não poderia ajudá-lo naquele momento, porque tinha uma viagem ao exterior. Depois, falou com Lula – e o ex-presidente informou já ter obtido o dinheiro com o lobista Mauro Marcondes.
“Fui falar com o ex-presidente Lula porque queria ver com ele se autorizava a fazer isso [obter recursos para seu filho]. Foi aí que o ex-presidente falou não precisar atender ao Luís Cláudio porque ‘eu já resolvi esse problema com o Mauro Marcondes’.
“Ele me falou que empresas iriam pagar Mauro Marcondes, porque ele já prestava serviços a elas, e prestou nesta ocasião também, porque iam pagar quantia entre R$ 2 e R$ 3 milhões, e que o Mauro ia repassar recursos ao Luís Cláudio”, declarou Palocci.
O escritório de lobby de Mauro Marcondes e sua esposa, a Marcondes e Mautoni Empreendimentos (M&M), representava os interesses da CAOA (Hyundai) e da MMC Automotores (Mitsubishi do Brasil).
Palocci afirmou que as relações entre Lula e o lobista eram antigas, “dos tempos em que o petista era sindicalista no ABC”.
Marcondes foi gerente de recursos humanos da Volkswagen, diretor da Scania – ambas em São Bernardo do Campo – e diretor do Sindicato da Indústria Automobilística (Sindfavea) na época em que Lula era sindicalista (v. “O triplex não é meu” ou as provas que Lula garante que não existem).
“Fiquei espantado com a forma com que o ex-presidente interferiu numa medida provisória de maneira tão explícita. Mas ele falou que o Mauro Marcondes era muito de confiança dele”, declarou Palocci.
Segundo a denúncia do Ministério Público Federal, Marcondes atuou junto ao governo Lula em prol da elaboração da MP 471, na qual foram concedidos benefícios fiscais a montadoras de veículos, que em troca teriam pago propina para que o texto fosse publicado.
Os benefícios fiscais foram renovados em 2013 por Dilma, em nova medida provisória. Segundo Palocci, Lula confirmou a ele ter negociação com as montadoras para que as duas MPs, de 2009 e 2013, fossem aprovadas.
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