O assunto veio à baila em virtude da pressão que os acionistas da empresa exercem pela alta dos preços dos combustíveis. O ex-vice-presidente do BNDES, na gestão de Carlos Lessa, disse, em seminário sobre a Petrobrás, realizado no Rio, que o argumento contra a compra das ações foi de que isso seria uma afronta ao mercado
Durante seminário sobre a política de preços da Petrobrás, realizado na quarta-feira (30), no Rio de Janeiro, Darc Costa, ex-diretor da ESG e ex-vice-presidente do BNDES, na gestão do economista Carlos Lessa, relatou um episódio ocorrido assim que ele assumiu o cargo.
“Me apareceu um personagem lá dizendo que queria conversar comigo. Esse personagem era diretor da Petrobrás e chamava-se Ildo Sauer. Ele me procurou, eu não o conhecia, e ele disse: ‘eu tenho aqui uma ideia, a gente pode comprar as ADRs (American Depositary Receipt) da Petrobrás na bolsa de Nova Iorque’. Isso em fevereiro de 2003”, contou Darc Costa.
Esse assunto veio à baila na discussão sobre a pressão exercida pelo acionistas da Petrobrás a favor das elevações de preços.
“Aí eu perguntei a ele [Ildo], quanto vai custar isso? Ele me respondeu que custaria US$ 1,6 bilhão para comprar essas ADRs. Mas nós precisamos fazer um planejamento. Vocês do banco podem fazer? Respondi que podíamos fazer. Conversei com o Lessa, que era o presidente do BNDES. O Lessa disse que achava uma boa ideia”, prosseguiu Darc Costa.
“Lessa disse o seguinte: ‘vamos levar isso ao Furlan. Vamos levar isso adiante’. Fomos vetados. Não podíamos fazer isso porque iríamos criar problemas com o mercado. Era possível comprar isso por US$ 1, 6 bilhão. Na época nós tínhamos os recursos para fazer isso. O Lessa resolveu levar isso adiante. O Furlan, Dona Dilma Rousseff, ministra de Minas e Energia, e o senhor Palocci vetaram a operação porque era contra o mercado”, acrescentou.
E quando foi a oportunidade para a gente comprar as ações da Vale, a gente não perguntou a ninguém, comprou, disse Darc Costa. “O mundo desabou, mas nós fizemos o que precisava ser feito. Hoje já venderam as ações da Vale, já entregaram a Vale para a Mitsui”, denunciou. “Ou a gente defende os interesses do povo brasileiro ou nós viramos efetivamente a colônia que nunca quisemos ser”, completou Darc Costa.
Em entrevista ao HP sobre este episódio, Ildo Sauer afirma se lembrar destes fatos e comenta que “o impacto foi grande quando Carlos Lessa, além de comprar as ações da Vale concordou também com a compra das ações da Petrobrás”.
Ele explica que o valor total das ADRs era de US$ 4 bilhões. “A ideia era fazer as coisas por parte, em etapas. Para não perturbar o processo” destacou. A primeira parcela seria de US$ 1,5 bilhão, a que Darc Costa se refere, por um terço das ações, contou.
Depois, relatou também que houve a proposta, feita pela direção do BNDES, da compra da empresa elétrica AES, que estava em dificuldades financeiras, inclusive se recusando a pagar um financiamento feito no próprio BNDES. A compra seria feita pela Petrobrás e Eletrobrás. A ideia teve o apoio também de Luiz Pinguelli Rosa, falecido recentemente, que era, na ocasião, presidente da Eletrobrás. Seria uma sociedade entre a Eletrobrás e a Petrobrás. Também foi vetada, conta.