Testes para Covid-19 continuam a se perder no Aeroporto de Guarulhos e nem as seringas e agulhas foram garantidas até agora por Bolsonaro e Pazuello para iniciar a vacinação
O repórter Mateus Vargas chamou a atenção de seus leitores, nesta segunda-feira (04), em artigo publicado no Estadão, para o grau de desorganização em que se encontra o Ministério da Saúde, em plena pandemia da Covid-19. Um dos exemplos levantados por ele para chegar a esta triste conclusão são os testes para Covid-19 estocados no Aeroporto de Guarulhos e que, mesmo com a prorrogação dos prazos de validade, vão se perder.
“Além dos 6,5 milhões de testes RT-PCR que seguem encalhados no galpão da pasta no Aeroporto de Guarulhos, há ainda unidades em posse dos Estados. O número estocado é incerto, mas pode alcançar três milhões de unidades, segundo estimativa de gestores de saúde. Mesmos estes não podem ser utilizados porque estão incompletos. O governo segue com dificuldades para distribuí-los no Sistema Único de Saúde (SUS). Motivo: falta de insumos”, aponta o colunista.
Ou seja: continua faltando o reagente de extração do RNA das amostras, cujo estoque atual do ministério permite apenas 390 mil análises. Além disso, existe uma barreira para uso do estoque pois o modelo de testes encalhados não é compatível com parte da rede de laboratórios da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Enquanto isso, Pazuello, mais perdido que cego em tiroteio, não explica porque seguiu comprando testes incompatíveis com os laboratórios oficiais. Nem mesmo as agulhas e seringas, insumos básicos, estão disponíveis para iniciar a vacinação.
O exame que segue no armazém do ministério custou R$ 275 milhões aos cofres públicos (R$ 42 por unidade) e deve ser mantido em temperatura de 20 graus negativos. O RT-PCR é um dos testes mais eficazes para diagnosticar a Covid-19, pois detecta o vírus ativo no organismo. A coleta é feita por meio de um cotonete aplicado na região nasal e na faringe.
Os pacientes que necessitam fazer o diagnóstico de Covid-19 dificilmente conseguem os testes TR-PCR nos postos de saúde e, quando conseguem, o resultado é tão demorado que não serve mais para orientar nenhuma medida epidemiológica. Enquanto isso, na rede privada, o exame custa de R$ 290 a R$ 400.
Mais grave, prossegue o jornalista, é que Adriano Massuda, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e ex-secretário executivo da Saúde, afirma que “não há estratégia nacional de testagem”. “As falhas de planejamento e logística são reflexo do desmonte de áreas técnicas do Ministério”, denuncia.
“É uma mistura de despreparo, desconhecimento da complexidade da estrutura do SUS, da atuação interfederativa, e arrogância. Por achar que ‘sou especialista em logística, eu domino o tema’. Isso promoveu a substituição de áreas”, disse Massuda.
Vargas lembra que o encalhe das unidades estava desenhado ao Ministério da Saúde desde maio. “Naquele mês foram feitos os primeiros alertas da área técnica sobre a falta de planejamento nas compras de exames do tipo RT-PCR, o mais eficaz para o diagnóstico, além de sugestões de suspender contratos enquanto a rede de análise do SUS era equipada”, apontou.
“Os alertas foram ignorados pela equipe do ministro Eduardo Pazuello, que assumiu a pasta naquele mês, a orientação poderia evitar que os milhões de testes ficassem ociosos por meses por causa da falta de insumos necessários para completar o diagnóstico, como os cotonetes “swab”, e máquinas mais modernas para processar as amostras de pacientes. Mais de sete meses após os avisos, o ministério acumula compras frustradas ou tardias destes insumos. O Tribunal de Contas da União (TCU) vê “irregularidades preocupantes” e cobra explicações”, revelou o jornalista.
Diante de tamanho descalabro e desorganização, há uma grande dúvida entre os especialistas da área de saúde pública. Se as dificuldades de Pazuello para garantir a logística da vacinação no combate à pandemia é endógena – ou seja, uma incapacidade inata do próprio general, ou se ele é apenas um serviçal obediente que está recebendo ordens de Bolsonaro nesse sentido.
O comportamento irresponsável e insano do presidente frente ao caos, afirmando, por exemplo, em sua última live do ano, que não tem a menor preocupação “com nenhum desses problemas” e que quem quiser que tome a vacina porque ele não vai tomar, parece confirmar a segunda hipótese.
Por outro lado, há um outro fato muito evidente em todos esses episódios: o de que o “general da logística” não entende absolutamente nada do que está fazendo.