Após confirmar que recebeu uma carta do presidente Nicolás Maduro, pedindo a mediação do Vaticano para “facilitar o diálogo na Venezuela”, o papa Francisco, de regresso a Roma, depois de uma visita aos Emirados Árabes Unidos (EAU), admitiu a possibilidade de que o Vaticano contribua para o início das conversações, afirmando, porém, que “para que se faça uma mediação, é necessária a vontade de ambas as partes”.
Os jornalistas que o acompanharam no avião em seu retorno de Abu Dhabi, nesta terça-feira, registraram que, em resposta a uma pergunta sobre o tema, o pontífice ressalvou que “em geral há pequenos passos, o último é uma mediação; são pequenos passos iniciais, facilitadores, mas não só por parte do Vaticano, mas de toda a diplomacia, aproximar um ao outro para por em marcha possibilidades de diálogo. Assim funciona na diplomacia”.
“Veremos o que se pode fazer”, ponderou, para insistir que “para que se faça uma mediação é necessária a vontade de ambas as partes”. Até o momento não se conhece a reação de Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional da Venezuela e autoproclamado “presidente interino” do país.
No Panamá, onde esteve semanas atrás, Francisco fez um chamado ao diálogo e mostrou preocupação pela violência. Não havia se colocado, porém, a possibilidade de uma mediação vaticana.
“As condições iniciais são claras: que as partes o peçam”, disse Francisco, exemplificando que “é como quando as pessoas vão até o padre porque há um problema entre o marido e a mulher, primeiro vai um deles. Mas se pergunta: a outra parte vem ou não vem? Quer ou não quer? Sempre as duas partes. Esse é o segredo”, esclareceu.
Em comunicado conjunto difundido na terça-feira, 5, pela Conferência Episcopal Venezuelana (CEV), a Conferência de Religiosos e Religiosas da Venezuela (Conver) e o Conselho Nacional de Laicos da Venezuela (CNL), a Igreja Católica do país solicitou “uma mudança política através de um processo de transição pacífica e transparente, que leve a eleições livres e legítimas para retomar o rumo democrático e conseguir a recuperação do Estado de Direito, a reconstrução do tecido social, a produção econômica, a moral no país e o reencontro de todos os venezuelanos”. Na mesma ocasião os bispos e representantes da Igreja assinalaram que “ao assumir esta rota de transição para um processo eleitoral, urge que isso seja feito de forma pacífica e com os instrumentos presentes na Constituição Nacional, para evitar maiores sofrimentos ao povo”.