“Nós queremos dar uma voz aos que choram e enxugam suas lágrimas. Porque o Oriente Médio está chorando, sofrendo em silêncio enquanto outros pisoteiam em suas terras na busca de poder para os ricos”, declarou o papa Francisco ao começar o serviço religioso na Basílica de São Nicolau, na cidade litorânea sulista de Bari, na Itália, diante de 70 mil fiéis, no dia 7.
“Em nome dos pequenos, dos mais simples, dos feridos, de todos aqueles do lado de quem Deus se coloca, pedimos: ‘Que haja paz! ’”, acrescentou o papa no encontro em Bari, que reuniu 17 líderes religiosos de Igrejas do Oriente Médio entre os quais destacamos vários integrantes de Igrejas Ortodoxas, a exemplo de Bartolomeu I, patriarca ecumênico das Igrejas Ortodoxas; Teófilo IIII, patriarca grego ortodoxo de Jerusalém; Hilarion Metropolitano de Volokolamsk, que foi ao encontro representando o patriarca Kirill de Moscou e toda a Rússia; o cardeal libanês, Bechara Boutros Rai, patriarca dos maronitas; o egípcio, Tauadros II, patriarca dos coptas; Louis Rafael Sako, cardeal iraquiano, patriarca dos caldeus; e o arcebispo Pierbattista Pizzaballa, administrador apostólico do Patriarcado Latino de Jerusalém.
“Somos levados a viver este dia com nossas mentes e corações voltados para o Oriente Médio, encruzilhada das civilizações e berço das grandes religiões monoteístas, região de onde a luz da fé de espalhou para o mundo”, disse o papa Francisco, no evento que os mais destacados prelados do OM debateram e rezaram pela paz na região. O papa e o patriarca ecumênico soltaram pombas brancas para dar início ao evento.
“De fato, nossas próprias almas estão enraizadas no Oriente Médio que”, prosseguiu, “no entanto, tem sido coberto por negras nuvens da guerra, violência e destruição, instâncias da ocupação e variedades de fundamentalismo que forçaram a migração e o abandono”.
“Tudo isso tem acontecido sob um silêncio cúmplice” e a região “tornou-se uma terra onde as pessoas deixam sua terra para trás”.
“Que haja um fim a esta condição em que poucos lucram do sofrimento de muitos! Que não haja mais ocupações que separam as pessoas umas das outras!
“Chega de meias-verdades que continuam a frustrar as aspirações dos povos! Chega de usar o Oriente Médio para ganhos que não têm nada a ver com o Oriente Médio!”
Citando o exemplo do ataque à Síria, o papa enfatizou que “o flagelo da guerra que tragicamente assola esta amada região só pode ser derrotado pela renúncia à sede de supremacia e pela erradicação da pobreza” e lembrou que “tantos conflitos foram fomentados por muitas formas de fundamentalismo e fanatismo que, sob o disfarce de religião e profanando o nome de Deus – que é paz – vêm perseguindo vizinhos de longa data”.
“Esta responsabilidade pesa na consciência das nações, especialmente as mais poderosas. Não podemos esquecer as lições do século que passou, não podemos esquecer as lições de Hiroshima e Nagasaki. Não podemos tornar o Oriente Médio onde a palavra da paz brotou, em escuras extensões do silêncio.”
“Chega dessa sede de lucros que explora campos de petróleo e gás sem consideração por nossa casa comum, sem escrúpulos para o fato do Mercado de energia agora está acima das leis de coexistência entre os povos!”
O para afirmou ainda que “somente uma solução negociada entre israelenses e palestinos, com base em vontade firme, poderá nos levar a uma paz estável e duradoura e garantir a coexistência de dois Estados para dois povos”.
Ao tratar deste assunto, referiu-se à situação dramática de Jerusalém que descreveu como uma “cidade única e sagrada para cristãos, judeus e muçulmanos em todo o mundo, cuja identidade e vocação devem ser salvaguardadas aparte de várias disputas e tensões e cujo status deve ser respeitado como decidido pela comunidade internacional e repetidamente requisitado pelas comunidades cristãs da Terra Santa.”
“Demasiadas crianças”, finalizou o papa, “têm vivido a maior parte de suas vidas vendo ruínas ao invés de escolas, ouvindo explosões ensurdecedoras de bombas ao invés do som alegre dos parques. Todos devem ouvir o choro das crianças”.
Logo depois de concluído o pronunciamento do papa, um grupo de crianças expressou seu desejo de paz na região também liberando pombos.
NATHANIEL BRAIA