O Papa Francisco condenou na segunda-feira (20) “as atrocidades” praticadas por centenas de padres pedófilos na Pensilvânia, nos Estados Unidos, contra mais de 1.000 crianças, e a tentativa da Igreja de encobrir os hediondos crimes ao longo de mais de sete décadas.
“Nos últimos dias foi publicado um relatório que detalha a experiência de pelo menos mil pessoas que foram vítimas de abusos sexuais, de abusos de poder e de consciência, cometidos por padres durante quase 70 anos. Embora possamos dizer que a maioria dos casos pertence ao passado, podemos constatar que as feridas infligidas não desaparecerão nunca, o que nos obriga a condenar com força estas atrocidades”, esclareceu o pontífice, em carta dirigida ao “Povo de Deus”.
A manifestação do Papa foi uma resposta ao relatório divulgado recentemente pela Suprema Corte da Pensilvânia, que listou mais de 300 padres pedófilos e apontou o esforço “sistemático” da Igreja para encobrir seus crimes. O Vaticano já havia expressado “vergonha e dor” pelas vítimas e o Papa tornou mais forte e veemente a condenação.
“Levando em consideração o passado, o que se pode fazer para pedir perdão e reparar o dano causado nunca será suficiente. Levando em consideração o futuro, não se deve descuidar de nada para promover uma cultura que não apenas garanta que tais situações não se reproduzam, mas para que não encontrem o terreno propício para ocultar-se e perpetuar-se”, acrescentou o pontífice.
O líder religioso também exortou aos católicos para que se mobilizem e atuem para “denunciar tudo aquilo que coloca em perigo a integridade de qualquer pessoa”.
A mais abrangente investigação sobre abuso sexual da Igreja Católica nos EUA, a atrocidade da Pensilvânia cobriu, durante 18 meses, as oito dioceses do estado e segue outros relatórios que comprovaram abusos em duas outras dioceses (Filadélfia e Altoona-Johnstown).
Recentemente, também nos Estados Unidos, um famoso arcebispo precisou ser afastado do Colégio de Cardeais depois que surgiram relatos de que molestou vários coroinhas enquanto crescia na instituição.
A repercussão do relatório ganha ainda mais força, pois ocorre em um momento em que os escândalos se multiplicam, comprometendo a imagem da Igreja mundo afora. Um bispo foi declarado culpado por ter encoberto um caso de abuso sexual na Austrália, enquanto no Chile, o próprio Papa teve de admitir que a instituição foi negligente e encobriu crimes de religiosos. Diante da gravidade do escândalo, 34 bispos chilenos colocaram os cargos à disposição.