“A África não é uma mina a ser explorada ou uma terra a ser saqueada. Não toquem na República Democrática do Congo (RDC), não toquem na África”, afirmou o Papa Francisco em discursos proferido nesta quarta-feira (1º), no aeroporto de Ndolo, na capital do país, Kinshasa, em que condenou perante um milhão de fiéis o “colonialismo econômico”.
O pontífice apontou que, “depois do colonialismo político, desencadeou-se um colonialismo econômico igualmente escravizador” em todo o continente, razão pela qual os países que o compõem não podem se beneficiar suficientemente dos seus “imensos recursos”, uma vez que os mais financeiramente avançados ignoraram tão doída e chocante realidade. “Este país e este continente merecem ser respeitados e ouvidos, merecem espaço e atenção”, enfatizou Francisco, o primeiro Papa a visitar a RDC desde 1985, quando o país ainda se chamava Zaire.
Devido às suas imensuráveis riquezas em diamantes, ouro, cobre, cobalto, estanho, tântalo e lítio, avaliou o sumo pontífice, é que “as calamidades foram cometidas ao longo dos séculos em detrimento das populações locais”. Um continente negro, visitado por ele pela quinta vez, definido como “o sorriso e a esperança do mundo”, que deve adquirir mais importância, para que “se fale mais dele, que tenha mais peso e representatividade entre as nações”.
O papa ponderou que tanta alegria e tamanha expectativa deve ter sua importância valorizada no próximo período, que não pode continuar a ser degradada como a mineração, associada à exploração desumana dos trabalhadores e à degradação ambiental pelas transnacionais. Sendo assim, apontou, com o respeito dos africanos, deve ser fortalecida a “diplomacia do homem para o homem, dos povos para os povos”, que não tenha mais como centro o controle das áreas e recursos, nem os objetivos de expansão ou aumento dos benefícios, mas efetivamente a oportunidade da evolução das pessoas e do país.
No caso específico do Congo, Francisco disse ter tido a impressão de que a comunidade internacional está quase resignada com a lógica da violência que “devora” aquele país africano – cuja metade dos 90 milhões de habitantes são católicos romanos. Numa conclamação, Francisco exortou, a que os processos de paz avancem com o conhecimento efetivo e afetivo do que transcorre entre os seus filhos. “Não podemos nos acostumar com o sangue que corre neste país há décadas, causando milhões de mortes sem que muitos saibam”, frisou o religioso, acrescentando que “tomar partido da própria etnia ou de interesses particulares, alimentando espirais de ódio e violência, é prejudicial a todos”.
No aeroporto, a missa, a céu aberto, foi acompanhada por um coral de 700 vozes que entoou cânticos religiosos e rumba congolesa.