O papa Francisco alertou que as barreiras não resolvem “magicamente” os problemas. Apontou que, para além desses obstáculos físicos à passagem dos imigrantes (como o muro que Trump quer erguer na fronteira com o México), há o que chamou de “muros invisíveis” com os quais a sociedade é dividida e as pessoas são estigmatizadas e separadas: “aqui estão os bons, ali estão os maus”. Francisco afirmou, também, que os crimes contra as mulheres se tornaram uma “praga” no continente. Segundo a ONU, em 2017, 2.800 mulheres foram vítimas de feminicídio na América Latina e no Caribe.
As declarações do papa aconteceram no Panamá, onde chegou na quarta-feira para participar da 34ª Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
A mensagem acontece quando caravanas de milhares de centro-americanos, castigados pela violência e a falta de oportunidades em seus países, com a ilusão de conseguir um emprego, buscam driblar as barreiras e a política do presidente dos Estados Unidos para frear a imigração ilegal.
Francisco lembrou que as novas gerações pretendem que aqueles que “têm uma função de liderança na vida pública, levem una vida conforme a dignidade e autoridade que seus cargos se revestem e que têm lhes sido confiada”. Frisou em seu discurso que “aqui, o libertador Simón Bolívar convocou aos líderes de seu tempo para forjar o sonho da unificação da Pátria Grande”, e diante da onda migratória que leva multidões de centro-americanos a se dirigirem aos EUA, ofereceu a ajuda da Igreja para “superar temores e desconfianças” sobre os imigrantes.
Também pediu mais compromisso contra a corrupção política, em um contexto de escândalos regionais, como o protagonizado pela Odebrecht, centro do esquema de subornos a políticos que montou em 12 países para conseguir contratos leoninos. “É um convite a viver com austeridade e transparência, na responsabilidade concreta pelos outros e pelo mundo; levar uma vida que demonstre que o serviço público é sinônimo de honestidade e justiça, e antônimo de qualquer forma de corrupção”, afirmou.
Em mensagem divulgada por seu porta-voz, o papa evitou se pronunciar diretamente sobre as tensões geradas na Venezuela depois que o chefe do Parlamento, o opositor Juan Guaidó, se autoproclamou presidente. A crise na Venezuela levou os bispos de lá, que estão no Panamá, a fazerem um documento para as autoridades políticas venezuelanas para que impeçam a repressão violenta e para que permitam o direito ao protesto e à liberdade de expressão.
Em missa na Catedral do Panamá, Francisco confessou seu contentamento por ter tido o privilégio de canonizar Oscar Romero, ex-arcebispo de San Salvador, capital de El Salvador, em 14 de outubro do ano passado. São Romero foi assassinado com um tiro no peito, em 24 de março de 1980, por defender desaparecidos e denunciar assassinatos em seu país, vítimas da ditadura daquela época. “Invocar a figura de Romero significa invocar a santidade e o caráter profético que vive no DNA das vossas Igrejas”, afirmou Francisco em reunião com os bispos centro-americanos Estima-se que 200.000 pessoas participarão da JMJ, que termina no domingo, 27.