O papa Francisco criticou o megaprojeto do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de construir um gigantesco muro na fronteira com o México, condenando a separação forçada de famílias e reiterando que, para o seu pontificado, a defesa dos migrantes é uma “prioridade”.
“Não sei o que está acontecendo com esta nova cultura de defender territórios construindo muros. Já conhecemos um, aquele em Berlim, que trouxe tantas dores de cabeça e tanto sofrimento”, afirmou o líder da Igreja Católica.
Em entrevista à rede mexicana Televisa, exibida na noite de terça-feira (28), o sumo pontífice enfatizou que “separar crianças dos pais vai contra a lei natural. É cruel. Está entre as maiores crueldades”. “E para defender o quê? Territórios, ou a economia de um país ou sabe lá o quê”, acrescentou Francisco, frisando que este tipo de política é “muito triste” e que “o homem é o único animal que cai duas vezes no mesmo buraco”.
O muro projetado por Trump para ser construído ao longo dos mais de três mil quilômetros de fronteira inclui concreto, aço, tubos e lanças com grades e altura variável de cinco metros e meio a nove metros. Segundo o presidente norte-americano, não será um “muro de concreto”, mas um composto por “lâminas de aço desenhadas artisticamente”, uma “barreira” que será “totalmente eficaz e, ao mesmo tempo, bonita”.
Na avaliação de Francisco, com tais práticas “voltamos à mesma coisa, construir muros como se fosse a defesa, quando a defesa é o diálogo, o crescimento, a acolhida, a educação e integração”, declarou. Questionado sobre o que diria a Trump se estivesse frente a ele, o Sumo Pontífice respondeu que falaria “a mesma coisa, porque eu digo isso publicamente”. “Eu já disse que quem constrói muros termina prisioneiro dos muros que constrói”, sublinhou.
De acordo com o papa, “há algo que não funciona na atividade política mundial e acredito que a base seja o mau tratamento ambiental e o abuso econômico”. “Toda a fortuna está concentrada em grupos muito pequenos em relação aos outros. E os pobres são mais. Então, é claro: os pobres buscam fronteiras, buscam novos horizontes”, ponderou.
Recentemente o juiz federal estadunidense Haywood Gilliam, do Tribunal de Oakland, Califórnia, bloqueou temporariamente a decisão de Trump, de utilizar US$ 6,6 bilhões desviados do orçamento da Defesa para a construção de seu muro na fronteira com o México. A alegação do presidente – não comprovada – é de que os Estados Unidos vivem uma “emergência nacional” devido à “crescente crise humanitária e de segurança na fronteira Sul”.