A Consist é uma empresa de software que foi contratada no final de 2009 por Paulo Bernardo, então ministro do Planejamento, para fazer a gestão de empréstimos consignados (descontados em folha) para servidores públicos e pensionistas.
Mas a Consist cobrava muito mais do que deveria pelo serviço. Ela ficava com R$ 1 de cada contrato de empréstimo quando o custo era de R$ 0,30. A diferença era a propina que era paga ao PT e operadores do esquema, que durou de 2010 a 2015. Eram centenas de milhares de funcionários lesados nesse esquema.
Segundo a Operação Pixuleco, a 18ª fase da Lava Jato, deflagrada em agosto de 2015, do total desviado pela Consist, Paulo Bernardo ficava com quantias que variavam entre 2% a 9,5%. De acordo com notas fiscais da Consist, um escritório de advocacia ligado a Paulo Bernardo recebia a propina que ia para ele. Paulo Bernardo foi preso na Operação Pixuleco.
Outros personagens desse esquema tinham direito a porcentagens da propina, como o ex-vereador de Americana (SP), Alexandre Romano (PT), que confessou o esquema na sua colaboração premiada. Ele ficava com 20%. E dos 20% de Romano, 80% era destinado ao Partido dos Trabalhadores. Carlos Eduardo Gabas, que foi ministro da Previdência, também integrava o esquema.
“Os R$ 7 milhões foi o que se apurou em notas da Consist para o escritório de advocacia. O que apuramos foi que 80% do total repassado ao escritório [cerca de R$ 5,6 milhões] ia para Paulo Bernardo”, disse Audrey Borges de Mendonça, procurador da República que investigou o caso.
Foi desse esquema que a Polícia Federal encontrou evidências de que a senadora Gleisi Hoffmann, atual presidente nacional do PT e esposa de Paulo Bernardo, recebeu R$ 1 milhão de propina. A conclusão do inquérito pela PF foi enviada para o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), em março, segundo a TV Globo e a revista Veja. Paulo Bernardo é investigado no mesmo inquérito.
Segundo as investigações, foi escritório do advogado eleitoral Guilherme Gonçalves que repassou o dinheiro a Gleisi. O relatório da PF diz: “Existem indicativos de que Gleisi Helena Hoffmann de alguma forma colaborou para ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores oriundos do esquema criminoso Consist, pois foram identificados diversos registros de pagamentos feitos em benefício da senadora Gleisi Helena Hoffmann ou de pessoas relacionadas a ela e/ou ao marido Paulo Bernardo entre os anos de 2010 e 2015.”
Ainda de acordo com a PF, R$ 390 mil registrados como pagamentos feitos por Paulo Bernardo e Gleisi ao advogado eram, na verdade, dinheiro da Consist.
No relatório, a Polícia Federal também aponta o pagamento de caixa 2 pela companhia aérea Latam a Gleisi. A PF identificou o pagamento de R$ 300 mil pela companhia em 30 de agosto de 2010 ao escritório de Guilherme Gonçalves, que afirma não ter prestado serviço à Latam.
Segundo a PF, o contrato foi simulado, podendo ser crime de falsidade de ideológica. “Existem indicativos de que Gleisi Hoffmann, com a participação de Marco Antonio Bologna (ex-presidente da TAM), Luiz Claudio Mattos de Aguiar (ex-diretor jurÍdico da TAM) e Guilherme Gonçalves (advogado da área eleitoral), ao menos omitiu, em documento público ou particular, a saber a prestação de contas relativa à campanha ao Senado Federal de 2010, declaração de que recebeu, em 30/08/2010, R$ 300.000,00 (trezentos mil reais) da empresa TAM para fins eleitorais por intermédio de um contrato de consultoria jurídica simulado entre o escritório de Guilherme Gonçalves e a empresa TAM sem a correspondente prestação do serviço, mas com registro de uso como honorário eleitoral”, diz PF.
Gleisi criticou em nota o suposto vazamento do documento da PF, sem se pronunciar sobre o conteúdo dele.
Em sua colaboração premiada, o ex-senador Delcídio do Amaral, ex- PSDB e ex-PT, homologada pelo STF, disse que a relação de Gleisi com a Consist era de amplo conhecimento.
“A Consist, sempre atuou como braço financeiro dos mesmos, e como mantenedora das despesas do mandato da senadora Gleisi, nos últimos anos. Existem provas incontestáveis sobre isso”, disse Delcídio aos investigadores. De acordo com ele, Paulo Bernardo sempre foi o “operador” da esposa.
Delcídio ainda destacou para os investigadores da Lava Jato que se “se deve dar atenção especial” para o período no qual Gleisi, então ministra da Casa Civil de Dilma Rousseff, foi diretora financeira de Itaipu, quando vários negócios envolvendo obras teriam passado pelas suas mãos. “O mesmo vale para as concessões do Porto de Santos, quando a mesma, como chefe da Casa Civil, teve atuação decisiva na definição das áreas leiloadas”, completou Delcídio.
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