Dados preliminares da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) apontam que, caso seja implementada a proposta do governo Bolsonaro de reduzir unilateralmente a tarifa externa comum (TEC) do Mercosul, os produtos químicos de uso industrial importados tomarão 60% da demanda brasileira.
Neste quadro, os importados ganharão espaço no mercado doméstico e a capacidade ociosa nas fábricas brasileiras vai aumentar até o ponto em que não seja mais viável mantê-las em operação, alerta a diretora de economia e estatística da Abiquim, Fátima Giovanna Coviello Ferreira, em reportagem ao Valor, divulgada na quarta-feira (30/10).
Hoje, a ociosidade está em 30%, no limite para um setor que opera em regime de processo contínuo. A Abiquim destaca que uma nova queda pode provocar o fechamento de fábricas. Nesta circunstância, São Paulo tende a ser o estado mais afetado pela abertura comercial unilateral, pois as operações nesta localidade são mais dependentes do óleo e do gás nacional.
Os cálculos da Abiquim consideram que o Produto Interno Bruto (PIB) do setor está em risco. Com as importações, a tendência é de ampliação também das compras externas de produto final. “É o pior dos mundos”, afirma a diretora de assuntos de comércio exterior da Abiquim, Denise Mazzaro Naranjo.
A Abiquim compõe junto com a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), o Instituto Aço Brasil e a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o grupo de entidades que está avaliando a lista oficial de produtos e respectivas novas alíquotas que teria sido apresentada pelo governo brasileiro ao Mercosul (Mercado Comum do Sul).
Sem dialogar com o setor industrial brasileiro, o governo Bolsonaro apresentou aos países que compõem o Mercosul uma proposta que prevê um corte acima de 50% na tarifa de importação cobrada de bens de terceiros países para entrar nos territórios de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
A notícia gerou forte reação dos empresários brasileiros. Um estudo contratado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que o corte abrupto de 50% reduzirá o Produto Interno Bruto (PIB) de pelo menos 10 dos 23 setores industriais até 2022, “prejudicando a retomada do crescimento e a redução do desemprego”, diz a confederação.
Para a indústria de máquinas e equipamentos, por exemplo, o corte nas tarifas de 14% para 4% seria uma pancada forte. O setor é formado por 51 mil empresas, as quais respondem por 5% do PIB do país e 3% das exportações.
“Com uma abertura unilateral, com esse corte e no prazo de quatro anos, vão desaparecer 20% das empresas e 100 mil empregos, no mínimo”, afirma o presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso.