O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em parceria com coletivos, sindicatos e outras organizações populares, realiza campanha para ajudar famílias desempregadas. Intitulada Natal sem Fome, Cultivando a Solidariedade para Alimentar o Povo, a iniciativa que começou no dia 10 de dezembro e se estenderá até 6 de janeiro, prevê a arrecadação de mil toneladas de alimentos, o equivalente a 50 mil cestas básicas.
A campanha, cuja prioridade é ajudar famílias desempregadas, pessoas que moram nas ocupações, populações indígena e em situação de rua, faz parte da agenda nacional contra a fome para o enfrentamento da insegurança alimentar.
Dados recentes da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) apontaram que o Brasil tem pelo menos 19 milhões de pessoas passando fome, e 55% das famílias estão em insegurança alimentar – sem acesso regular e permanente a alimentos. “Nunca passamos por uma situação tão séria”, alertou Sandra Chaves, vice-coordenadora da Rede Penssan.
A professora da Escola de Nutrição da UFBA criticou a instabilidade economia e a ausência de perspectivas de mudança no curto prazo no governo atual, defendeu a solidariedade como caminho para mudar a realidade, mas ressaltou que isso não basta para superar a fome.
“A solidariedade tem sido fundamental para garantir a sobrevivência desses milhões de brasileiros que passam fome. Temos 119 milhões de brasileiros com alguma privação alimentar, e 19 milhões passando fome, sem saber quando voltará a se alimentar. A solidariedade é fundamental, mas insuficiente”, disse.
A pesquisadora afirma que há uma necessidade do Estado ter responsabilidade e garantir programas de transferência de renda dignos. Ela destaca que o valor da cesta básica de alimentos cresceu mais de 30% nos últimos 12 meses, chegando a preços que superam 700 reais em alguns estados. Sandra explica que os dados divulgados pela Rede Penssan foram colhidos em dezembro de 2020. “Estava vigente o auxílio de 300 reais para um número relativamente grande de pessoas e famílias. Depois disso, ficamos três meses sem nenhum auxílio, depois ele retornou num valor muito baixo. Agora, estamos nesse vazio até ser retomado no valor que está previsto de 400 reais”, criticou.
A pesquisadora defendeu que além da solidariedade da sociedade e da responsabilidade estatal em programas de transferência de renda, é necessário que o governo impulsione medidas para regulamentação de preços que garantam o acesso da população aos alimentos, além de programas de emprego e renda.
“Ter um botijão do gás a R$ 120 é muito grave. O quilo do feijão e arroz a R$ 9 em algumas capitais. O preço absurdo do quilo da carne. Em 1974, foi feito o primeiro estudo nacional de despesa familiar. Lá, foi demonstrado uma situação de fome desse nível que estamos vendo agora. Famílias faziam sopa de papelão pelo país”, destacou a vice-presidente Rede Penssan. “Nós estamos vendo isso agora. Nunca passamos por uma situação tão séria”, completou.
Além da doação de alimentos, o comitê gestor da frente liderada pelo MST explica que tem buscado dialogar com sua base social para conscientizar sobre como desmonte das políticas de subsistência vem sendo levados a cabo pelo governo Bolsonaro e os desafios para superá-los por meio das forças populares.
O foco da nossa campanha este ano é a gente poder arrecadar alimentos das nossas áreas, mas também doações, recursos financeiros, para que a gente possa montar cestas da reforma agrária e possa entregar para população que se encontra em situação mais vulnerável”, explicou Luana Carvalho, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores sem Terra.
Presentes em diversos estados como São Paulo, Pernambuco, Paraná e Mato Grosso do Sul, a campanha do MST tem pontos de arrecadação nos 15 Armazéns do Campo administrados pelo Movimento e áreas parceiras. A lista completa dos espaços está disponível no site do MST.