Pelo Truth Social, ele também exigiu que a Venezuela “devolva todo o petróleo, terras e riquezas minerais que roubou de nós”
Por sua rede Truth Social, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou na terça-feira (16) um bloqueio total das exportações de petróleo venezuelano pela “maior Armada já reunida na história da América do Sul”, e exigiu que a Venezuela devolva aos Estados Unidos “todo o petróleo, terras e outros bens que roubaram de nós”.
Segundo Trump, trata-se de “um bloqueio total e completo” de todos os navios petroleiros que foram alvos de sanções e que entrarem ou saírem da Venezuela.
Declaração que é, por si só, a confirmação de que a caçada aos “narcotraficantes” – alegada anteriormente – não passava de uma folha de parreira para a pilhagem do petróleo venezuelano, aliás as maiores reservas de petróleo do planeta.
Acerta o governo de Caracas quando aponta, desde o início da operação “Lança do Sul” de cerco naval e aéreo à Venezuela, qual a verdadeira finalidade da agresão. Da mesma forma frisou o presidente colombiano, Gustavo Petro, ao condenar os ataques do Pentágono a barcos no Caribe e no Pacífico: a razão sempre foi “o petróleo, o petróleo e o petróleo”.
A Venezuela denunciou ao mundo o bloqueio decretado por Trump e reafirmou “sua soberania sobre todos os seus recursos naturais, bem como o direito à livre navegação e ao livre comércio no Mar do Caribe e nos oceanos do mundo”, em estrita observância “à Carta da ONU, ao pleno exercício de sua liberdade, jurisdição e soberania diante dessas ameaças belicistas”.
“O Sr. Donald Trump, sem rodeios, utiliza a seguinte expressão intervencionista e colonialista: ‘até que todo o petróleo, terras e outros bens que nos foram roubados sejam devolvidos aos Estados Unidos’. Sua verdadeira intenção, denunciada pela Venezuela e pelo povo dos Estados Unidos em grandes manifestações, sempre foi a de se apropriar do petróleo, das terras e dos minerais do país por meio de campanhas massivas de mentiras e manipulação.”
O comunicado sublinha que a Venezuela “jamais voltará a ser colônia de qualquer império ou potência estrangeira e continuará, junto com seu povo, no caminho da prosperidade e na defesa inabalável de nossa independência e soberania”.
As provocações contra a Venezuela pelo assalto ao petróleo vinham se agravando desde agosto, quando Trump enviou uma frota naval, com um porta-aviões nuclear, um submarino, fragatas e barcos de desembarque, mais 15 mil marujos, para o Caribe, sob a descarada mentira do ‘combate ao narcotráfico’.
Quando, sabidamente, de acordo com dados da ONU e do próprio DEA, a Venezuela é insignificante no tráfico de drogas e quem lava o dinheiro do narcotráfico é Wall Street. Como é perceptível, a premiação da golpista venezuelana Corina Machado com o “Nobel da Paz” é parte dessas provocações.
Falando do bloqueio, Trump escreveu que “só vai aumentar, e o choque para eles será como nada que já tenham visto — até que devolvam aos Estados Unidos todo o petróleo, terras e outros bens que roubaram de nós.”
A postagem prossegue designando o governo venezuelano como “uma ORGANIZAÇÃO TERRORISTA ESTRANGEIRA”, o que se deveria “ao roubo de nossos bens e muitos outros motivos, incluindo terrorismo, contrabando de drogas e tráfico de pessoas”.
Antes, ele acusara o presidente Nicolás Maduro de usar petróleo para financiar o “regime ilegítimo”, além de “terrorismo ligado a drogas, tráfico de pessoas, assassinatos e sequestros”.
Na terça-feira (16) a Venezuela encaminhara à presidência do Conselho de Segurança da ONU, atualmente exercida pela Eslovênia, uma carta denunciando “o roubo do petroleiro Skipper por parte do governo dos EUA, em um ato típico de pirataria, totalmente violador do direito internacional”.
Caracas exigiu de Washington “a libertação imediata e sem condições da tripulação sequestrada, a devolução imediata do petróleo venezuelano ilegalmente confiscado em alto-mar e o fim imediato de qualquer ação de força ou interferência contra a comercialização legal do petróleo venezuelano”.
Em 2019, durante o primeiro mandato, Trump impôs drásticas sanções ao setor petrolífero da Venezuela, que resultaram em uma brutal redução das exportações de petróleo do país e no sucateamento do setor por falta de peças de reposição – além de ter patrocinado Juan Guaidó como “presidente”.
UMA DÉCADA DE SANÇÕES EXCRUCIANTES
Foram as sanções iniciadas por Obama em 2015, sob o pretexto de que a Venezuela seria uma “ameaça à segurança dos EUA”, e agravadas sob Trump, na prática proibindo a venda de petróleo, fonte essencial de divisas, que levaram a Venezuela à hiperinflação, desorganizaram a economia e empurraram centenas de milhares de venezuelanos para a migração forçada, enquanto o país tinha suas reservas de ouro na Grã Bretanha confiscadas, entre outras agressões.
Mais recentemente, com a ajuda da Rússia e do Irã, a Venezuela conseguiu estabilizar a economia e em parte recuperar a produção de petróleo, exportando cerca de 1 milhão de barris por dia – o que é menos da metade da produção anterior – com a China sendo o principal comprador, enquanto a Rússia fornece o nafta necessário para possibilitar a comercialização do pesado petróleo venezuelano.
E, como a Rússia e o Irã, a Venezuela utiliza uma frota paralela de petroleiros para driblar as sanções, que são ilegais segundo a lei internacional, pois somente podem ser decretadas pelo Conselho de Segurança da ONU.
De acordo com a empresa de inteligência financeira S&P Global, 1 em cada 5 petroleiros no mundo é usado para driblar as sanções decretadas por Washington e Bruxelas. A Rússia está sob sanções desde 2022 e o Irã, desde que Trump rompeu em 2018 o acordo assinado por Obama três anos antes.
A decretação do bloqueio tenta barrar a principal fonte de divisas da Venezuela, buscando paralisar o governo e sufocar seu povo, como chegaram a conseguir em momento anterior.
A ganância de Trump pelo petróleo venezuelano não é propriamente uma novidade, com ele tendo, em seu primeiro mandato, em uma reunião com a CIA, questionado porque “não tomamos o petróleo venezuelano, que é ali do outro lado do Golfo”. Também em 2023, ele disse que, se tivesse sido reeleito no lugar de Biden, teria tomado o petróleo venezuelano. A mesma fixação, no caso sobre abocanhar o petróleo iraquiano, já havia sido revelada por Trump ao criticar o modo como se deu a retirada do Iraque.
“OUTRA GUERRA ETERNA”
A oposição da população à guerra de Trump no Caribe, já expressa em várias manifestações, também chegou ao Congresso norte-americano. Dois deputados, os democratas Ilhan Omar e Chuí García, advertiram que a retórica beligerante de Trump e suas recentes ações militares no Caribe e no Pacífico oriental estão “nos levando a uma guerra catastrófica e eterna na Venezuela”.
Eles instaram os legisladores a aprovarem na Câmara duas resoluções sobre a questão, que proíbem o uso de força, a menos que explicitamente autorizado pelo Congresso.
“Vocês vão defender a Constituição e votar para impedir a guerra ilegal de Trump ou não?”, questionaram Omar e García, dirigindo-se a seus pares.
“Isso não é uma questão partidária: três em cada quatro americanos se opõem a uma guerra de mudança de regime para derrubar o governo venezuelano, incluindo dois terços dos republicanos”, eles destacaram.
Também na terça-feira, após reunião a portas fechadas no Senado dos EUA, o “secretário de Guerra” Pete Hegseth e o secretário de Estado Marco Rubio reiteraram sua recusa a exibir o vídeo do ataque do dia 2 de setembro a um suposto barco do narcotráfico, em que foram executadas extrajudicialmente 11 pessoas, inclusive duas que haviam sobrevivido ao primeiro ataque, agarradas aos destroços. Já são 25 ataques e 95 pessoas executadas.
Como explicaram especialistas, ou é crime de guerra, ou assassinato puro e simples, e o “ataque de segundo toque” exclui qualquer outra situação. O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, condenou os bombardeios às embarcações e as execuções extrajudiciais.










