O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso afirmou que os critérios para o leilão do 5G devem ser “verdadeiramente técnicos”, referindo-se ao servilismo do governo Bolsonaro às tentativas dos Estados Unidos de excluir a empresa chinesa Huawei da disputa.
“Precisamos univeralizar, e com qualidade, o acesso à internet. Vem aí o 5G e eu tenho a firme esperança que se façam escolhas verdadeiramente técnicas e as melhores para a população brasileira. Ciência e ideologia não são uma boa mistura”, afirmou o ministro, que também é presidente do TSE – Tribunal Superior Eleitoral. Barroso participava de evento sobre a importância da universalização do acesso à internet em Valparaíso, Goiânia, no último domingo (15), onde foi apresentado a novas tecnologias para a urna eletrônica.
A declaração é uma resposta ao anúncio de adesão do governo brasileiro à chamada Clean Network (Rede Limpa), programa norte-americano lançado por Donald Trump. Sob a justificativa de promoção de segurança nacional e tecnológica, o programa tem por propósito barrar os avanços de tecnologias de outros países do mundo – com foco na China. A adesão ao programa foi feita no âmbito de uma parceria trilateral entre Brasil, EUA e Japão.
A chinesa Huawei, maior do mundo nesse tipo de tecnologia, já se prepara para um cenário litigioso para participar do leilão, marcado para o ano que vem. Aqui no Brasil, é a companhia que fornece mais de 40% da infraestrutura para outras faixas de internet, como a 2G, 3G e 4G.
Para Fabro Steibel, diretor do centro de pesquisa ITS Rio, barrar empresas chinesas é economicamente inviável e aumentaria os custos de telefonia e internet:
“Se o Brasil barrar a Huawei, a telefonia para, porque mais da metade da infraestrutura de rede hoje é baseada em equipamentos deles. Além disso, o preço dos serviços subiria. Eles estão na cobertura de redes 2G, 3G e 4G”.
Depois de ameaças à sustentação das relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos – caso não houvesse compromisso com o programa para barrar a tecnologia chinesa – o subsecretário para Crescimento Econômico, Energia e Meio Ambiente do Departamento de Estado dos EUA, Keith Krach, visitou o Brasil para tratar do assunto. Bolsonaro já havia se submetido ao acordo mas, ainda assim, Krach reforçou que era necessário que países aliados dos EUA se unam a fim de proteger dados e interesses de segurança nacional do “estado de vigilância do Partido Comunista Chinês e de outras entidades malignas”.
O embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, reagiu à declaração do subsecretário em uma rede social.
“É de fato uma ‘rede suja’, e sinônimo de abuso do pretexto da segurança nacional por parte dos EUA para promover guerra fria tecnológica e bullying digital”. Além disso, afirmou que os EUA, por muito tempo, “conduziram, em grande escala e de forma organizada e indiscriminada, atividades de vigilância e espionagem cibernéticas contra governos, empresas e indivíduos estrangeiros, além de líderes de organismos internacionais” — referência ao esquema de espionagem global revelado em 2013 por Edward Snowden.