O diretor global de cibersegurança da Huawei, Marcelo Motta, afirmou na sexta-feira (5), em entrevista ao Mobile Time, que a proposta do governo para o edital do leilão das frequências 5G, que obriga as vencedoras adotarem novas redes para essa tecnologia, vai encarecer e atrasar a implementação da tecnologia móvel quinta geração no Brasil.
“São integrações complexas que demandam não só investimentos mais também tempo”. “Não tenho dúvidas de que o mercado vai evoluir na direção do 5G AS. Mas será que deveria ser imposto pela regulação ou deixar para o mercado decidir entre as opções existentes, com cada operadora avaliando sua estratégia para criar a rede mais compatível para os serviços que oferece?”, questionou Motta, ao destacar que “a maior parte das operadoras do mundo” optaram pela implementação de um sistema híbrido de redes – que integra a estrutura remanescente do 4G – para acelerar a transição para o 5G.
Na semana passada (1º), o conselheiro da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e relator do processo do edital para o leilão do 5G, Carlos Baigorri, apresentou uma proposta de minuta, na reunião extraordinária da agência, que obriga as operadoras adotarem o Release-16, que é um conjunto de especificações normativas propostas pela 3GPP, que reúne associações de telecomunicações os EUA, Europa, Japão, Coréia do Sul e China, a fim de determinar padrões que desenvolvem protocolos para telecomunicações móveis.
A 3GPP lança, desde 1998, releases que buscam planejar o processo de evolução das redes móveis, que, por si só, não obrigam as operadoras de telecomunicação a seguirem as suas especificações e padrões. O documento de n°16 determina requisitos mínimos necessário para se estabelecer a chamada URLLC, cuja sigla em inglês significa “comunicação ultra-confiável e de baixa latência”, aplicação massiva de Internet das Coisas (mMTC) e capacidade ampliada de banda larga (eMBB).
Na prática, para as operadoras, o governo ao incluir o Release-16 no edital está exigindo que as teles adotem uma rede “standalone” (5G AS), ou seja, uma rede nova, desvinculada das tecnologias já existentes. Por essa proposta, as operadoras terão que aumentar os investimentos para trocar todas as estações de rádio bases 4G, que hoje giram em torno de 100 mil no país, por nova de 5G AS, o que demoraria mais para implementar a nova tecnologia móvel.
Uma rede “non-standalone” (5G NSA), ou rede híbrida, é a forma mais rápida para disponibilizar o 5G para os brasileiros, pois ela utilizaria a estrutura do 4G, diminuindo os custos da transição para as operadoras. As empresas Claro e Vivo já se manifestaram junto à Anatel contra a proposta do relator, argumentando que elas já fizeram muitos investimentos na preparação do 5G e que os gastos foram planejados pensando em uma evolução gradual da tecnologia, conforme a demanda e as condições do mercado.
Hoje, para se ter uma ideia, no mundo há poucas redes 5G AS. Na China, por exemplo, existem entre 800 mil a 1 milhão de estações rádio bases 5G, cujo a cobertura atinge mais de 250 milhões de pessoas no país, o sistema é híbrido, havendo apenas três redes 5G AS, cujo foco “está no setor empresarial”, explica Motta.
Para Marcelo Motta, “não é uma questão de defender a tecnologia A ou B”, visto que a Huawei trabalha com as duas tecnologias, “é basicamente ver o que é adequado para o momento e para aquilo que os nossos clientes querem”, enfatizou o diretor global da Huawei.
Sobre a portaria do Ministério das Comunicações (MC), publicada em 29 de janeiro, que entre outros pontos, está a exigência de que a empresa fornecedora de equipamentos para a rede privativa 5G do governo federal “observe padrões de governança corporativa compatíveis com os exigidos no mercado acionário brasileiro”, Mota avalia que essa cláusula exclui não só a Huawei, mas todas as fornecedoras de aparatos 5G que atuam país, pois nenhumas delas, a sueca Ericsson e a finlandesa Nokia, estão listadas na bolsa brasileira.
“Qual fornecedor consegue atender isso? Não tem nenhum fornecedor listado no País. Quais critérios vão ser utilizados? Dentro da Bovespa há várias categorizações. É uma cláusula que precisa ser mais bem explicada”, disse o diretor.