
A recomendação de um grande número de economistas, ou mesmo de profissionais de áreas afins, no sentido que o governo suspenda as medidas regressivas da política fiscal em execução vem crescendo.
A ideia é que essa decisão permitirá ao governo condições de injetar dinheiro para combater a pandemia do coronavírus e o enfrentamento às consequências na economia, capaz de garantir salários, empregos, empresas e transferência de renda aos subempregados.
O ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, José Roberto Mendonça de Barros, defende “uma política fiscal expansionista”. “Você vai aumentar os gastos mesmo, de diversos canais, que é a forma de dar suporte, dar um chão para uma economia que ficou sem chão de repente”. Ele defende a prorrogação da data de recolhimento de tributos. “Você dá mais tempo pra você fazer certos tipos de acertos”, diz. Além de uma linha de crédito.
“A Alemanha nas crises anteriores mostrou uma coisa que criou uma ferramenta que virou clássica, que é criar uma legislação que permita ao governo pagar um pedaço da folha de pagamento das empresas desde que elas mantenham um emprego. Esse é um tipo de programa que você ajuda diretamente as empresas e dá suporte pra população”, declarou.
O economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central (BC), afirma que a prioridade agora é salvar vidas e garantir renda à população.
“Se a mortalidade subir, a gente vai ter uma recessão ainda maior, mais grave do que aquela que é causada pelo distanciamento social. Esquece a questão fiscal, não que ela não seja importante, na verdade ela vai ficar mais importante, mas não é o problema agora”, afirmou.
“Em um paralelo com a Segunda Guerra, você tem que derrotar Hitler, você vai realmente ficar preocupado com quanto vai custar isso? Não, você vai derrotar Hitler do jeito que for. A gente vai ter que garantir que as pessoas continuem a receber renda, que empresas tenham acesso a crédito para aguentar 3, 4, 5, 6 meses de um período muito difícil.”
O sociólogo José Pastore, especialista em relações de trabalho, defende a liberação irrestrita de recursos para a população passar o vendaval.
“O governo terá que acudir. No mundo inteiro estão fazendo isso. Alemanha injetou € 866 bilhões, os EUA mais US$ 2 trilhões. Tem que entrar com medidas de qualquer tipo. Até a famosa emissão de moeda se justifica numa hora dessa”.
Para ele, o governo já deveria “ter saído do plano da promessa”:
O economista Marcos Lisboa, ex-diretor-executivo e vice-presidente do Itaú Unibanco, atual presidente do Insper e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda no primeiro mandato do governo Lula, defensor do ajuste fiscal e da redução do papel do estado na economia, observa que a regra do teto de gastos – que limita o crescimento das despesas da União – não impede o governo de aumentar gastos em cenário de calamidade, como é o atual.
O economista Raul Velloso, especialista em contas públicas, consultor econômico e ex-secretário de Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento, diz que a injeção de recursos por parte do governo será a única saída para superar a crise econômica gerada pela pandemia do novo coronavírus.
“O setor privado ficará impotente para reagir enquanto a crise durar. O setor público tem a possibilidade de injetar a demanda na economia, tem uma fonte ilimitada, que é a emissão monetária. Não há como preços subirem por excesso de demanda, quando o mundo está com falta dela”.
Velloso concorda que o país só sairá dessa crise com a liberação de recursos extraordinários para proteção da população em situação de maior vulnerabilidade. Ele afirma que devem ser criados mecanismos jurídicos para facilitar que os recursos anunciados pela equipe econômica cheguem no bolso dos brasileiros de maneira mais rápida:
“Para crises inéditas, precisamos de medidas inéditas. É irrelevante o tamanho da conta por seis meses. Podem ser R$ 150 bilhões ou R$ 300 bilhões. O foco agora deve ser na expansão da capacidade de gastar, de fazer o dinheiro chegar no bolso de quem precisa.”
“A economia já está parando, a ameaça é de uma depressão. Até o início do século XX, não houve nenhum período de retração de dois anos maior do que a recessão do biênio 2015-2016, de cerca de 8%. Agora vamos ver uma queda dessa ou maior em um ano.”
É preciso reativar o investimento público em infraestrutura para fazer a economia voltar a girar, aponta Veloso.
Com informações do G1