Os três participaram de um debate na GloboNews, coordenado pela apresentadora Miriam Leitão, no domingo (7)
O Brasil precisa de uma frente democrática para defender a democracia ameaçada pelo governo Bolsonaro. A crise democrática é agravada pela crise da pandemia e da economia.
Esta foi a conclusão do ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), do ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e da ex-ministra Marina Silva, que participaram do debate no canal GloboNews, entrevistados pela colunista e apresentadora Miriam Leitão.
“É necessário [uma união], é urgente que se faça isso. Não guardo rancor de ninguém, temos de olhar para frente, para o país”, afirmou FHC.
Ciro Gomes destacou que uma eventual divergência entre ele e outros líderes políticos “fica guardada para a hora própria”. “Vamos defender a democracia”, conclamou. Ele classificou o governo Bolsonaro como um “atentado às liberdades”.
Ele se mostrou preocupado com a ameaça do país voltar a cair numa ditadura. “Você, Miriam [Leitão], foi torturada, o presidente Fernando Henrique foi exilado. Nós vamos esquecer isso? Nem a pau, Juvenal”, disse.
Para Marina, “estamos nessa combinação altamente perigosa de uma grave crise uma saúde, um crise na economia e uma crise envolvendo a nossa democracia”. Ela ressaltou que “com certeza é o presidente Jair Bolsonaro que está conduzindo” o país para uma situação de caos.
A ex-ministra Marina Silva usou uma imagem para ilustrar a necessidade de união dos democratas brasileiros.
“Tem situações, Miriam, que não devemos olhar de cima pra baixo. A gente deve olhar de baixo para cima. Para poder enxergar o que está acima de nós. E nesse momento o que está cima de nós são 500 mil pessoas contaminadas com essa doença. Nesse momento, o que está acima de nós são mais de 36 mil mortes”.
“Nesse momento o que está acima de nós é a nossa democracia, o estado democrático de direito. É com esse espírito que homens públicos e a sociedade civil estão se mobilizando”, completou.
Questionado sobre as manifestações que estão surgindo em defesa da democracia e contra Bolsonaro, o ex-presidente FHC resumiu sua posição: “é o momento que não podemos calar”.
Ele advertiu que elas devem ser realizadas “com cuidado para que o outro lado, ou seja o outro grupo bolsonarista mais feroz, mais ideológico, não use o argumento de que ‘olhem não deixa o homem governar’”.
“Ele governa do jeito que quiser. Ele não sabe governar”, acrescentou.
“Agora, nós que temos o compromisso com a reconstrução da democracia no Brasil, com o exercício da democracia, precisamos dizer com simplicidade, clareza, com cuidado, mas não com temor, para que a população entenda, perceba, aquilo que coloquei no início, ou seja, a luta não é só política, é sócio e econômica” .
Para FHC, o governo está sem rumo com o atual governo. “A reunião ministerial [de 22 de abril tornada pública pelo STF] mostrou que o Brasil está sem rumo”, frisou.
“Sem condução política, com pandemia e desemprego é um clima desalentador, é um momento delicado”, alertou o ex-presidente da República.
“Não é que eles são de direita. Eles são atrasados. É pior. Não conseguem ver a realidade. Se agarram a fantasmas”, disse, descrevendo o governo de Bolsonaro.
Ciro Gomes ressalvou que não considera ser este um bom momento para realizar manifestações de rua, mas avaliou como importantes.
Ele expressou em suas respostas preocupação com a crise da pandemia e com a situação econômica brasileira.
“O Brasil tem hoje 36 mil, em número redondos, mortos e as simulações dos cientistas falam em 80 a 100 mil mortos. Não podemos aceitar passivamente esse desatino que é enfrentado com maior incompetência, maior irresponsabilidade e o desapreço à ciência e à experiência internacional, para o bem para o mal. Então esse é uma aspecto que nós temos que lutar”, assinalou.
“É possível salvar 50 mil vidas se a gente voltar a fazer a pressão por mais testes, por isolamento social. Portanto, não podemos cometer qualquer divergência [nesse aspecto], nós que amamos a vida e temos respeito pela nação brasileira”, enfatizou.
“Precisamos colocar de lado qualquer diferença menor ainda que grave para construirmos um caminho para basicamente ajudar a salvar vidas”.
Sobre a crise econômica, Ciro se referiu a um aspecto que FHC já tinha citado. “O segundo aspecto também pontuado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso é a destruição da economia do país. Ele mencionou o desemprego, as simulações que fazemos aproximam o desemprego por volta de 20 milhões de brasileiros ali por volta de dezembro desse ano”, alertou.
“Seis milhões de micro e pequenas empresas estão falindo. Já estavam na antessala da falência quando a pandemia começou – esse é o número de empresas que estava no Serasa”, citou.
O ex-ministro e vice-presidente do PDT iniciou sua entrevista elogiando FHC e Marina. Segundo ele, “FHC faz um gesto de generosidade ao aceitar debater comigo e com a Marina, que somos postulantes à presidência da República, ele que já ocupou a presidência por dois mandatos”. “Quero agradecer esse gesto de democrata que sempre foi”. E cumprimentou a Marina: “é um dos melhores quadros que nós temos da vida nacional”.
Os debatedores também criticaram Bolsonaro por querer esconder os números da Covid-19 no país.
“Imaginar que hoje você vai esconder dados? É ridículo, simplesmente ridículo. Porque os mortos vão parecer, os mortos existem. Não é uma invenção da mídia”.
Para Marina, “eles querem esconder a realidade, e isso é crime de responsabilidade”.
Fernando Henrique Cardoso falou sobre os crimes de responsabilidade de Bolsonaro. O ex-presidente declarou que não é adepto do impeachment, mas que Bolsonaro “tem que se ajudar”.
Ciro Gomes relatou que Bolsonaro já incorreu em vários crimes de responsabilidade.
FHC concordou com os que denunciam que o país tem várias carências e que precisam ser enfrentadas. “Há diferença de renda, de cor no Brasil, e parece ser normal”. “Não é normal, não”, disse, enfático.