
“Vamos congelar o debate sobre aumento de gastos”, disse o ministro da Fazenda
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse na noite da última terça-feira (24), em entrevista à Record, que “neste momento, nenhum aumento de gasto é bem-vindo”.
“Aumento de gasto público é quando tem necessidade de fazer, em que se faz necessário. Estamos num momento em que vamos congelar o debate sobre aumento de gastos, até encontrar o caminho da sustentabilidade dos gastos”, afirmou o ministro, que persegue cumprir sua meta fiscal de déficit zero das contas públicas deste ano, estrangulando os investimentos públicos e os programas sociais.
As declarações de Haddad vêm uma semana após o Banco Central (BC), comandado por Gabriel Galípolo, contratar um gasto de R$ 12,5 bilhões (ao longo dos próximos 12 meses), com o aumento de 0,25 ponto percentual na Selic (taxa básica de juros), que subiu de 14,75% para 15% ao ano, o maior nível desde julho de 2006.
De acordo com estimativas do próprio BC, a elevação de 1 ponto percentual na Selic corresponde a um aumento de R$ 50 bilhões na dívida pública, em 12 meses. Em abril deste ano, o gasto do setor público consolidado (União, Estado/municípios e estatais) somou R$ 69,7 bilhões e, em 12 meses, soma R$ 928,4 bilhões.
Fernando Haddad, que considera o patamar de 15% muito restritivo em relação às projeções de inflação, disse que os aumentos da taxa nominal de juros são de responsabilidade do ex-presidente do BC, Roberto Campos.
“Essa alta, sendo muito honesto, quem é do ramo sabe, foi contratada na última reunião da qual participou o Roberto Campos, em dezembro”, disse Haddad. “É como se tivesse estabelecido uma contratação futura da taxa. Não dá para dar cavalo de pau em política monetária, vai perder credibilidade”, disse o ministro, mais uma vez advogando em defesa do atual presidente do BC que já declarou que seu objetivo é “esfriar” a economia e que o juro ficará elevado por um “período bastante prolongado”.
1 TRILHÃO DE RECURSOS PÚBLICOS TRANSFERIDOS PARA PAGAR JUROS
O novo ciclo de aumento dos juros foi iniciado por Campos Neto, em setembro de 2024, quando o nível da Selic estava em 10,5%. Quando encerrou seu mandato, em 31 de dezembro do mesmo ano, a Selic estava em 12,25%.
Seu sucessor, Gabriel Galípolo, que não tinha nenhuma obrigação de seguir com o aperto monetário, promoveu seguidos aumentos nas Selic, entre janeiro e julho, que somados juntos acrescentaram 2,75 p.p na taxa nominal de juros, hoje em 15%.
Em suas declarações à imprensa, em meados de março deste ano, Gabriel Galípolo afirmou que foi “protagonista” para a decisão de elevar a Selic em 1 ponto na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) de dezembro de 2024, que chancelou a continuidade da radicalização do aperto monetário em 2025, levando à desaceleração da economia.
“Eu já tinha dito que o Roberto Campos [Neto] havia sido generoso de, já na última reunião [de 2024] de permitir que eu pudesse assumir um papel maior de protagonismo ao longo da discussão daquela reunião do Copom”, afirmou Galípolo na época. “Para além disso, todos os diretores têm autonomia e, em todos os meus votos e em todos os votos dos diretores, está lá expresso o que é a consciência e a visão de cada um dos diretores. As decisões têm sido unânimes já há algum tempo”, disse.