“Resultado da produção industrial de maio (+7%) não significa que o setor produtivo esteja no caminho da recuperação”, diz Iedi
“Em maio de 2020, a indústria compensou parte das perdas que sofreu no bimestre anterior ao registrar aumento de +7% de sua produção, frente ao mês anterior, mas não significa que o setor produtivo esteja no caminho da recuperação”, afirma o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
A entidade analisou a Pesquisa Mensal da Indústria divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na quinta-feira (2), e destaca que “o nível de produção permaneceu 21% abaixo daquele de fevereiro de 2020, isto é, antes do impacto da pandemia de Covid-19 e das medidas de isolamento social”.
O estudo do Iedi intitulado “A crise continua” apresenta a diferença do nível de produção atual com o do pico histórico de 2011, mostrando que daquele ponto até agora, as perdas do setor produtivo em todos esses anos de recessão e baixo crescimento, fizeram com que a produção encolhesse pouco mais de 1/3. A situação é ainda mais dramática para bens de capital (-58% ante o pico de set/13) e para bens de consumo duráveis (-77% ante o pico de jun/13).
“Nunca saímos do poço da recessão de 2015 e 2016, e de 2014 a 2016, no caso da indústria. Dificilmente sairemos rápido e há risco de piorarmos ainda mais o perfil da recuperação, que já era fraca desde 2017”, destacou o economista Rafael Cagnin, do Iedi, em entrevista ao Correio Braziliense. Para ele, ainda não é possível descartar retração na produção no segundo semestre.
“Outro sinal negativo dos dados de hoje do IBGE é a queda de -21,9% na comparação com maio do ano passado, não muito distante do desempenho registrado em abr/20 (-27,4%). A pouca amenização do quadro deve-se principalmente a bens intermediários, o que não é algo a ser ignorado, já que este macrossetor é o núcleo do sistema industrial, produzindo insumos para as demais atividades”, afirma o estudo.
Além da base de comparação deprimida (a produção industrial caiu 28,8% em abril), os resultados de maio são desoladores na comparação anual, assinala o Iedi, para reforçar que não se trata de um cenário de recuperação.
“As variações interanuais mostram ainda que mesmo com resultados menos adversos, bens de capital e bens de consumo duráveis e semi e não duráveis continuam com quedas recordes em maio, só perdendo para abril”.
Sobre 2019, as perdas da indústria geral nos três meses mais intensos de pandemia foram de -3,9% em março, -27,4% em abril e -21,9% em maio. Para o caso dos bens de capitais, que abastecem para as demais atividades industriais, as perdas foram de -4,5%; -51,9% e -39,4%, respectivamente. Das outras categorias, a comparação nota perdas de -1,5%; -17,5% e -14,6% para bens intermediários; -9,9%; -84,9% e -69,7% para bens de consumo duráveis; e, para bens de consumi semi e não duráveis de -7,2%; -25,2%; -19,3%, respectivamente.
“Em relação a um ano atrás, a produção em mai/20 foi menor em 22 dos 26 ramos da indústria acompanhados pelo IBGE, isto é, em 84,6% do total”, afirma a pesquisa.
A ausência de medidas que atenuem o problema causado pelo emergência sanitária, além da manutenção do ajuste fiscal como política econômica pós-pandemia, fazem com que as previsões para o Produto Interno Bruto (PIB) sejam de queda de pelo menos 9% esse ano, com contribuição da negativa da produção industrial de aproximadamente -14% de queda.