“A produção industrial tem um ano perdido em 2019”, avaliou o economista Rafael Cagnin, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).
O economista comentava os recentes resultados do setor produtivo divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referentes a julho, em entrevista ao Valor Econômico. Naquele mês, o volume de produção das indústrias caiu 0,3% ante junho – acumulando para o ano de 2019 uma queda de 1,7%.
“O ano de 2019 será de estagnação no setor e o risco de haver queda no saldo do período não é desprezível. Não há sinalização de que esse movimento será revertido”, afirmou.
O IEDI ressalta outra base de comparação da pesquisa mensal do IBGE: aquela do acumulado dos 12 meses terminados em julho, período em que a produção caiu 1,3%. Para ele, isto mostra que o enfraquecimento é estrutural.
“Não estamos mais em um período em que podemos jogar a culpa em Brumadinho, na interrupção de plataformas de petróleo. Isso já está claro há algum tempo”, disse.
Com o mercado interno arrefecido pela falta de demanda causada pelo desemprego, queda na renda e o corte nos investimentos, o que resta de produção – especialmente na indústria de transformação – é dependente das exportações para países vizinhos, sobretudo de automóveis. Com a crise na Argentina, não há o que sustente.
“Toda a exportação da cadeia automobilística tem sido afetada. As vendas de intermediários como pneumáticos, motores, autopeças e outros insumos são afetadas”, exemplificou. Isso está por trás da baixa de 0,5% na produção de bens intermediários, que puxou o resultado negativo da indústria no mês. Outra parte da retração na produção desses bens é o mercado interno. O recuo dos intermediários para a indústria de alimentos e têxtil expressam a fraqueza do mercado doméstico, diz Cagnin.
“É o mercado interno que impede que a indústria dê um passo à frente”, sintentiza.
Em uma referência à “lenta recuperação” propagandeada pela equipe econômica de Bolsonaro (que confirma que é lenta, mas não admite que não há projeto por parte do governo de recuperação diante da crise) Rafael afirma: “Pior que ser só lento é ser lento e aos trancos e barrancos. Fica difícil gerenciar estoques, desengavetar projetos”, comentou.
No patamar em que se encontrava em julho, a indústria geral operava 18,3% abaixo do pico de produção registrado em maio de 2011. Detalhando por ramo da produção, vemos a fabricação de bens de capital 33,6% menor que o pico registrado em 2013, bens de consumo duráveis a 26,2% e bens não-duráveis a 10,3% de distância da produção de 7 anos atrás.