Depois de sua condenação em segunda instância a 12 anos e um mês de cadeia por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, Lula dá mostras de que não está mais tão seguro de que poderá disputar as eleições, e nem mesmo se estará livre até lá. O “estou candidato”, dito por ele, em Belo Horizonte a ansiosos militantes, reunidos na quarta-feira (21) no espaço de eventos Expominas, foi revelador de que nada está garantido no futuro do partido.
Para tentar animar a militância sobre os destinos do PT, Lula voltou a atacar violentamente a Justiça. Disse mais uma vez que está sendo perseguido. “Eu não respeito a decisão que foi tomada contra mim porque sei que ela é mentirosa, política e não está baseada nos autos do processo”, afirmou. “Não tenho medo, podem até tentar me prender”, blefou Lula, em mais um de seus arroubos. Antes eles eram contra o Moro, agora já são quatro juízes a serem atacados por concluírem que ele cometeu crime contra o Erário.
Não sabemos o que o ex-presidente entende por “autos do processo”, mas que os votos, tanto de Moro, quanto dos desembargadores do TRF-4 foram baseados em uma quantidade imensa de provas e indícios constantes nos “autos do processo”, não há a menor sombra de dúvidas. Todos viram. Se ele continuar desacatando a PF, o MPF e os juízes desta maneira, suas chances de disputar as eleições se aproximarão do zero.
“Parte do Judiciário, da Polícia Federal, do Ministério Público e da imprensa, liderada por Globo e ‘Veja’, resolveram demonizar o PT”, prosseguiu Lula, em seus ataques. “A imprensa vai transformando mentira em verdade. O que eles não sabem é que o povo me conhece. Duvido que tenham a consciência tranquila como eu tenho”, acrescentou. O comportamento de Lula, tentando aparentar tranquilidade, confirma a opinião dada recentemente por Ciro Gomes de que “o PT é teimoso e costuma se comportar como um escorpião, isto é, afunda sozinho”.
Misturando as autoridades que combatem a corrupção com supostos adversários políticos, Lula disse querer que eles “tenham vergonha na cara e respeitem o resultado eleitoral”. “Aprendam a lamber suas feridas”, afirmou, lembrando que já perdeu. Mesmo vendo sua credibilidade ruir por conta das revelações desconcertantes de sua promiscuidade com o Cartel do Bilhão, Lula voltou a dizer que as acusações de corrupção contra ele são “mentiras” criadas com o objetivo de tirá-lo da disputa eleitoral.
O objetivo da Lava Jato não é tirá-lo da disputa eleitoral, é combater a corrupção. Se ele é atingido é porque é corrupto. Esse tipo de tergiversação, como diz Paulo Delgado, fundador do PT, é persistir no erro e se achar simplesmente o centro do universo. “Todos me perseguem”. O seu impedimento de disputar as eleições não se dará por “perseguição”, mas sim por conta da Lei da Ficha Limpa, que impede que ladrões como ele disputem as eleições. Esta lei, por coincidência, foi sancionada por ele próprio.
MENDES
Lula parece estar jogando todas as suas fichas na “ajuda” de Gilmar Mendes. É o que se conclui lendo o recurso de embargo declaratório de Lula apresentado ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), em Porto Alegre. O recurso da defesa lulista está cheio de citações elogiosas a Gilmar Mendes, como se pode ver nestes trechos:
“Reforçando o argumento aqui trazido, dignas de óbvia menção
são as decisões proferidas pelo eminente Ministro GILMAR MENDES nas Arguições de
Descumprimento de Preceito Fundamental nº 395 e 444, nas quais, ao proibir a
condução coercitiva de investigados para interrogatório em todo o território nacional,
salientou que tal medida viola o direito à liberdade de locomoção e à presunção de
não culpabilidade”.
Veja-se a frase do eminente Ministro GILMAR MENDES: “O
investigado conduzido é claramente tratado como culpado”.
(…)
“Tais fatos só fortificam a tese de que deve ser alterada a atual
posição do Supremo Tribunal Federal, que entende que o delatado não pode contestar os
termos do acordo firmado entre o Ministério Público e o colaborador. O eminente
Ministro GILMAR MENDES, em recentes manifestações no plenário da Corte Suprema,
trouxe possível mudança em tal percepção”
Aliás, como se pode ver na foto acima, lá está José Eduardo Cardozo, ex-ministro da Justiça e ex-advogado geral de Dilma, e ex-deputado federal pelo PT, em concentrado colóquio com Gilmar Mendes, durante jantar de homenagem ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), inimigo figadal da Operação Lava Jato. No jantar estavam presentes também vários advogados de investigados da operação. Gilmar Mendes já expôs publicamente sua disposição de mudar seu voto sobre prisão de condenados após julgamento na segunda instância, o que beneficiaria Lula, já que em votação anterior no STF o tema terminou em decisão apertada: 6 a 5 pela prisão.
SÉRGIO CRUZ