O ex-ministro da Saúde, Henrique Mandetta, disse que acredita que Bolsonaro levou um “puxão de orelha” de Trump para que rejeitasse a compra da vacina chinesa contra o novo coronavírus, uma parceria entre o laboratório chinês Sinovac e o Instituto Butantan.
O atual ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, havia anunciado na terça-feira (20) a compra de 46 milhões de doses da vacina Coronavac. No dia seguinte à declaração do ministro sobre a colaboração com a vacina, Bolsonaro logo pela manhã publicou em suas redes sociais mensagem desautorizando Pazuello.
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“Imagino que o presidente tenha levado um puxão de orelha dos EUA por conta da decisão do Ministério da Saúde. O que existe hoje é uma disputa intensa entre chineses e americanos”, disse o ex-ministro Mandetta.
Henrique Mandetta denunciou ainda que a estratégia de Bolsonaro é assegurar mercado para a vacina da Oxford. “Todos os olhos estarão voltados agora para a Anvisa, que é liderada por um almirante (Antônio Barra Torres). A questão é a de saber se a agência vai sentar sobre o dossiê de aprovação da vacina chinesa, pedir novas informações e, assim, permitir que a vacina da Oxford seja a primeira a ser autorizada. A próxima guerra será a Anvisa, e um teste para ver se será uma agência técnica ou política”, disse.
Para Mandetta, ao recuar da decisão de colaboração para compra da vacina, “Pazuello concordou com essa forma de ‘não vamos fazer nada’ e, então, vai pagar um preço por ter concordado com essa maneira de levar o ministério. A primeira vez que assumiu a responsabilidade, foi desautorizado pelo presidente”.
O ex-ministro disse ainda que é “lamentável” a decisão de Bolsonaro e que “ele permanece no mesmo erro. Apenas olha para si e opta pela politização. Podemos ter críticas sobre João Doria (PSDB), mas ele conduziu a resposta à pandemia com responsabilidade. A questão é ter o foco no vírus e na ciência, que é o que vai nos tirar dessa. Ele [o presidente] está perdido e míope”.
“A população quer a solução do problema. A gente precisa da nossa vida de volta. É ser muito míope para colocar isso [a vacinação] no campo da política. Essa politização é muito pequena, muito tacanha. É lamentável”, afirmou.
Sobre as declarações de Bolsonaro em relação à não obrigatoriedade da vacinação, Mandetta afirmou que “discutir se vai ser obrigatória ou não é discutir o nada, porque as pessoas vão fazer fila quilométrica para a vacina. A obrigatoriedade é um assunto secundário, e cabe ao Congresso discutir a questão. Acredito que não vai haver necessidade nem de fazer campanha”.