“Manter as crianças fora da sala de aula aguardando por uma vacina é um erro”, disse o ex-ministro da Saúde, que criticou a omissão do governo federal no assunto: “Tanto o MEC quanto o Ministério da Saúde não saem com uma norma técnica que sirva de baliza nacional”
O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que “é sempre fácil você fechar. Difícil é ter os critérios para reabrir. Mas você manter as crianças fora da sala de aula aguardando por uma vacina é outro erro”.
“A vacina é uma possibilidade, não é uma realidade. Ela pode acontecer durante o ano de 2021, mas também pode falhar”.
“A minha impressão é que a gente deveria começar por segmento, por projeto piloto, medindo não só o estudante, a criança, mas o núcleo familiar e o magistério, porque ele está junto. Isso teria que nascer de um conjunto de especialistas para fazer uma norma técnica abrangente para que cada cidade fosse se encaixando”.
“O que a gente está vendo é um festival. Tanto o Ministério da Educação quanto o Ministério da Saúde não saem com uma norma técnica que sirva de baliza nacional”, criticou em entrevista ao jornal O Globo.
O ex-ministro está lançando um livro que conta os bastidores do governo Bolsonaro durante sua gestão no Ministério da Saúde. O livro se chama “Um paciente chamado Brasil”.
O ministro da Educação, Milton Ribeiro, argumentou, na semana passada, que a volta às aulas não é sua jurisdição, apenas dos estados e municípios. “Não temos esse tipo de interferência”.
PANDEMIA E MORTES
Na entrevista, o ex-ministro declarou que “até o surgimento da vacina é capaz de chegarmos aos 180 mil” mortos por Covid-19.
Mandetta chefiou o Ministério durante o começo da pandemia, mas foi demitido por Bolsonaro por defender a quarentena como ferramenta de combate à proliferação do vírus.
Para Mandetta, “estamos enfrentando a pandemia sem liderança. Não tem uma voz que dê os critérios técnicos. Como não temos guidelines, há personagens: um manda abrir, outro manda fechar”, disse.
Luiz Mandetta relatou que no começo da pandemia eles previram que “se fôssemos extremamente duros, radical, nível Nova Zelândia, teríamos 30 mil mortes. Se tivéssemos nossas ferramentas de enfrentamento, luta, restrição, conscientização, educação em saúde e participação suprapartidária de todo mundo contra um inimigo em comum, seriam 80 mil”.
“Se fizéssemos um caminho de não fazer nada, e deixar a onda explodir, é um número muito elevado. E estamos aí em 140 mil mortes (atualmente). Acho que até o surgimento da vacina é capaz de chegarmos aos 180 mil, que falamos no livro. Era contra os 180 mil que tínhamos que brigar, tínhamos que lutar para dar menos do que isso”, relatou.
O ex-ministro, que foi o primeiro indicado por Jair Bolsonaro, disse que ficou surpreso por Jair Bolsonaro não se esforçar para salvar vidas e promover aglomerações.
“Você tem que decidir em alguns momentos sobre questões econômicas, geopolíticas, sociais, mas tem momentos que você está decidindo sobre vida e morte”.
“Você não está decidindo sobre fazer uma política mais liberal ou menos. Você tem na sua frente o maior patrimônio de uma nação, que deveria ser a vida”, continuou.
“Quando você se depara com isso, nega e fala ‘não, vou aglomerar’? Isso é impactante. Isso é fato, fático. Acho que tem um espaço de acomodação para todos os governos. Agora, com vidas, isso realmente para mim foi impactante”.