A líder da bancada do PCdoB, deputada federal Jandira Feghali (RJ), afirmou nas redes sociais que a “política de juros extorsivos” praticada pelo Banco Central, presidido por Roberto Campos Neto, “é incompatível com o projeto vitorioso nas urnas” que elegeu Lula presidente.
“Para o Brasil avançar, os juros precisam baixar! No dia 21 de março inicia a reunião do COPOM e precisamos de todas e todos ocupando as ruas para pressionarmos por mudanças na taxa básica de juros. O Brasil tem a maior taxa de juros do mundo e isso só freia o setor produtivo, impede investimentos, aumenta o desemprego e estagna a economia. Essa política de juros extorsivos é incompatível com o projeto vitorioso nas urnas”, escreveu Jandira.
A postagem da deputada é acompanhada de um baner convocando para o ato das centrais sindicais contra os juros altos na Candelária, centro do Rio, às 17 horas. “Não à autonomia do Banco Central – Dia de Luta por Juros Baixos – Fora Campos Neto”, convocam as centrais.
O Copom (Conselho de Política Monetária), do Banco Central, começou a se reunir nesta terça-feira (21) para definir a taxa básica de juros e amanhã, quarta-feira (22), divulga o resultado.
Os juros básicos (taxa Selic) estão em 13,75%. A inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), no acumulado de 2022, está em 5,60%. Assim, a diferença entre os juros e a inflação resulta em juros reais de 8,15%, os mais altos do mundo.
Os juros altos ameaçam o país cair numa brutal recessão. Os efeitos disso já estão sendo sentidos na economia. Estão acontecendo fechamentos de empresas e interrupção da produção por falta de consumo.
Na segunda-feira (20), pelo menos três grandes montadoras, General Motors, Hyundai e Stellantis (dona das marcas Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën) anunciaram que vão suspender linhas de produção e dar férias coletivas aos funcionários.
Elas dizem que vão interromper a produção por falta de consumidores, ocasionada pela desaceleração da atividade econômica, inflação alta e juros elevados.
As montadoras passaram dois anos com paradas forçadas por escassez de componentes, principalmente de chips. Mas agora o problema é outro.
LULA
O presidente Lula (PT) voltou a criticar o alto e destrutivo patamar da Selic.
“Em um momento que não existe crise de demanda, excesso de demanda, temos 33 milhões de pessoas passando fome, desemprego. Não há nenhuma razão, explicação, lógica. Só quem concorda com juros altos é o sistema financeiro”, disse Lula em entrevista ao portal 247.
“A lei que foi aprovada da autonomia [do Banco Central] diz que é preciso cuidar da responsabilidade da política monetária, mas também é preciso cuidar da inflação, do crescimento, coisa que ele não se importa”, continuou o presidente na entrevista.
Ele prosseguiu dizendo que vai “continuar batendo, tentando brigar, para que a gente possa reduzir a taxa de juros para a economia voltar a ter investimento”.
As críticas de Lula contra as altas taxas de juros e o BC, feitas logo após assumir a Presidência da República no início do ano, ganharam apoios nos mais diversos setores, inclusive estrangeiros, que, assim como o presidente, advertem para o desastre na economia com as taxas de juros escorchantes.
Nesta segunda-feira, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva, classificou como “pornográficas as taxas de juros praticadas no Brasil”.
Ele fez as declarações durante seminário promovido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Josué Gomes afirmou que “é inconcebível” a atual taxa de juros (Selic) em 13,75% ao ano e criticou o argumento de que o Brasil esteja sob risco fiscal.
“É inconcebível a atual taxa de juros no Brasil, muitos querem associá-la a um problema fiscal. Eu não posso acreditar que um país com a riqueza do Brasil, que tem uma dívida bruta de 72, 73% do PIB, que tem reservas cambiais da ordem de 18%, 19%. Reservas essas que foram muito criticadas pelo mercado quando o presidente Lula no seu primeiro e segundo mandato acumulou essas reservas e chegamos aos US$ 370 bilhões, sem as quais hoje nós estaríamos naquela política de ‘stop and go’, que tínhamos com restrições externas”, ressaltou.
No mesmo seminário, o vencedor do prêmio Nobel de Economia em 2001 e professor da Universidade de Columbia (EUA), Joseph Stiglitz, definiu a taxa básica de juros no Brasil como “chocante”. “É tipo de taxa de juros que vai matar qualquer economia”.
“A taxa de juros de vocês é de fato chocante. Os números que vocês estão falando é de 13,7%, ou 8% (de juros) real, é tipo de taxa de juros que vai matar qualquer economia. Eu acho impressionante que o Brasil tenha sobrevivido, o que seria de fato uma pena de morte. Eu acho que vocês têm conseguido sobreviver a esse tipo de alta taxa de juros é porque vocês têm bancos de desenvolvimento estatais”, afirmou.
Ainda no seminário, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), também ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, também declarou que “não há nada que justifique 8% de juros reais acima da inflação quando não há demanda explodindo e quando o mundo inteiro tem praticamente juros negativos”.
Em entrevista ao HP, o presidente da CTB, Adilson Araújo, declarou que o “o presidente Lula não foi eleito para satisfazer o êxtase do mercado” e reforçou a convocação do movimento sindical para manifestação contra a política de juros altos, nesta terça-feira (21). “Chegou a hora de crescer o calor contra os juros”, afirmou.
“A consequência de colocar a responsabilidade fiscal em contraposição à responsabilidade social é que 1% da população detém 28% da riqueza nacional”, disse o líder sindical.
Adilson apontou também que considera o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, um adulador dos bancos. “Deram autonomia para os banqueiros dizerem o que fazer com os recursos públicos”, afirmou.
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