A procuradora regional da República, Adriana Scordamaglia, integrante da força-tarefa da Lava Jato em São Paulo, afirmou que o ministro do Supremo Tribunal (STF), Gilmar Mendes, faltou com a verdade na sua decisão de soltar o ex-diretor da Dersa, Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, operador de propina dos PSDB.
A procuradora disse que “com toda certeza” as testemunhas correm riscos, ao contrário do que Gilmar sustentou em seu despacho concedendo habeas corpus (HC) para Paulo Preto. “Até porque o ministro Gilmar Mendes disse que só testemunhas de defesa seriam ouvidas a partir de agora. Isso não é uma verdade. Serão ouvidas testemunhas arroladas pela acusação em breve”, salientou a procuradora.
Paulo Preto foi preso novamente, a pedido do Ministério Público, na quarta-feira (30) pela manhã, por ameaçar testemunhas do caso. À noite, Gilmar Mendes soltou o operador de propina do PSDB. Leia aqui.
A procuradora Adriana Scordamaglia disse que “causou estranheza” o HC de Gilmar Mendes. “A audiência estava se encerrando com a manutenção das prisões dos corréus José Geraldo e Paulo Vieira e a concessão de prisão domiciliar à corré Tatiana [Arana Souza Cremonini, filha de Paulo Preto]. Causou mais estranheza o teor da concessão cujo o HC foi concedido de ofício (ou seja, a iniciativa foi de Gilmar Mendes) para a corré Tatiana. Os fundamentos que nós utilizamos nessa prisão foram diferentes dos fundamentos outrora utilizados”, relatou a procuradora.
Scordamaglia considerou um atropelo o ato de Gilmar Mendes. “Essa audiência, para todos que dela participaram e tomaram conhecimento, vão se lembrar para o resto da vida. Porque foi uma audiência sui generis, a qual foi atropelada ao seu final com a liberdade concedida pela última instância, havendo também supressão das instâncias, já que nós temos um tribunal e o Supremo Tribunal Federal (STF) que os réus devem recorrer”, descreveu.
Para ela, a sensação de impunidade aumentou. “Infelizmente sim. Porque já que nós pedimos a prisão, nós estamos convictos de que havia fundamentos para tanto. No nosso sentir, não só como órgão acusador, mas, sobretudo, como pessoas conscientes, que trabalham com serenidade e seriedade, e não ficamos pedindo a prisão de qualquer um”, disse.
Questionada sobre a reação dos réus quando da notícia do habeas corpus, Adriana relatou que “obviamente” foi “de felicidade porque o direito de liberdade deles tinha sido reassegurado por uma decisão de ministro que não faz parte da relação processual a qual estamos integrando”.
“Nós só cumprimos o nosso papel. Não vamos esmorecer com decisões como essa. Nós só queremos a justiça sendo feita. É só isso. Nem mais nem menos e gostaríamos de trabalhar com nossos direitos assegurados e com a credibilidade daquilo que escrevemos. Que aquilo que nós escrevemos fosse lido com mais seriedade”, frisou a procuradora, em entrevista no áudio captado pelo site jurídico “Jota”.
Ouça o áudio da entrevista da procuradora: