Salim Mattar, secretário de Privatizações do Ministério da Economia, afirmou na terça-feira (29), durante um evento em São Paulo, que acha injusto a empresa Vale ser responsabilizada pela tragédia que provocou em Brumadinho (MG), que deixou, até o momento, 84 mortos e 276 desaparecidos.
“Neste desastre terrível, estou vendo a sociedade sacrificando a companhia, quando deveriam ser sacrificadas as pessoas que tomaram as atitudes”, disse.
“O CNPJ [da Vale] não fez mal a ninguém”, disse, afirmando que o desastre foi fruto de “erros cometidos por seres humanos e essas pessoas é que devem pagar e não a companhia”.
No entanto foi a empresa Vale, hoje presidida Fábio Schvartsman, a responsável pela escolha do tipo de barragem construída em Brumadinho: a de menor custo para, assim, manter uma exploração alucinada em busca do lucro, nem que para isso tivesse que colocar vidas e o meio ambiente em risco.
Também foi a Vale a responsável pelas pressões exercidas sobre os conselheiros da Câmara de Atividades Minerárias (CMI) do Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAN) de Minas Gerais a favor da ampliação das atividades da empresa na região do Paraobeba, que inclui a mina do Córrego do Feijão, em novembro do ano passado, mesmo com os alertas feitos pelo diretor Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), Júlio Cesar Dutra Grillo, e representantes da sociedade dentro do Conselho.
Conforme denunciou Maria Teresa Corujo, representante da sociedade, e a única integrante a votar contra a ampliação, são muitas ainda as responsabilidades da Vale que resultaram na catástrofe de Brumadinho. (v. “A Vale atropelou tudo para rebaixar risco e operar a barragem”, denunciam membros do COPAM-MG e também em A Vale agiu com insanidade para aumentar o lucro”, denuncia ambientalista).
Só pode haver um motivo para o Sr. Mattar ter as opiniões que expressou. À frente da Secretaria das Privatizações, o crime humanitário e ambiental reincidente da Vale coloca em questão a privatização da empresa, assim como a gana do governo em privatizar as estatais que temos no país.
No mesmo evento, Salim Mattar voltou a defender a privatização, segundo ele, de todas as empresas com exceção da Petrobras, da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil, sendo que, no caso dos bancos, o ministro de Infraestrutura, Tarcisío Gomes de Freitas, já afirmou que pretende privatizar seus ativos. (v. Ministro reafirma privatização de bancos).
“Vamos surpreender”, disse Mattar, afirmando que o país tem 134 empresas que podem ser privatizadas. “Queremos o povo rico e o estado mais enxuto. Se vendêssemos todas as estatais, poderíamos reduzir a dívida para R$ 3 trilhões”, declarou.