A Petrobrás anunciou na segunda-feira (18) a venda de 25% da participação que detém no campo de Roncador, na Bacia de Campos, para a norueguesa Statoil, pelo valor de US$ 2,9 bilhões, dentro do chamado programa de “desinvestimento,” isto é, de desmonte da estatal. Para o vice-presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet), Fernando Siqueira, que falou com exclusividade para o HP, foi mais um crime cometido por Pedro Parente, preposto de Michel Temer na presidência da Companhia.
Segundo a própria empresa norueguesa, a aquisição de Roncador, o terceiro maior campo em produção no país, quase triplicará sua produção no Brasil.
Descoberto em 1996, o campo de Roncador possui uma área de aproximadamente 400 quilômetros quadrados, com uma produção média de aproximadamente 240 mil barris/dia de petróleo e 40.000 barris por dia de gás.
CARCARÁ
Segundo Siqueira, “a Statoil está comprando um monte de coisa do Parente. Deve estar dando propina para ele. Ela comprou o campo de Carcará. Só aí a Petrobrás perdeu R$ 47 bilhões. É o melhor campo da Bacia de Campos, por ter maior pressão que os outros, produz mais rápido e com mais facilidade. Você não precisa furar poço horizontal para capturar mais óleo. Como tem pressão muito grande, com poço vertical você captura muito óleo. É um campo que produz muito e mais barato”.
O dirigente da Aepet observou que o campo de Carcará tem uma expectativa de 3 bilhões barris de reserva: “A Petrobrás vendeu a sua parte, que era 66%, por US$ 2,5 bilhões. A Petrobrás pagou para a União US$ 9 por barril. E vendeu um campo com três perfurações por US 1,25 por barril para a Statoil”. “Um prejuízo de quase de 8 dólares por cada barril de petróleo que for retirado do campo”, acrescentou.
LIBRA
Fernando falou também sobre a compra pela Petrobrás da sonda para o início as operações no Campo de Mera, que fica dentro do Bloco de Libra, no pré-sal. Ele lembrou que “lamentavelmente a Dilma entregou 60% para o cartel do petróleo e Libra é um dos maiores campos que a gente tem. E essa plataforma é para produzir o primeiro poço. É o sistema de produção antecipada. Está dentro dos conformes, infelizmente. Mas, felizmente a Petrobrás ainda é a operadora deste campo. Ela perdeu 60% para o cartel mas ficou com a responsabilidade da operação”, afirmou o engenheiro. “Mero é uma área de Libra. Libra é uma área com mais de um campo”, explicou Fernando.
“DESINVESTIMENTO”
O programa de “desinvestimento” na empresa foi iniciado na gestão de Garça Foster, continuou com Bendine e foi intensificado com Pedro Parente. De acordo com Siqueira, “o Bendine gerou a chamada desvalorização contábil (impairment). Em 2015, a Petrobrás teve um lucro de R$ 15 bilhões. E ele fez uma desvalorização de ativos de R$ 48 bilhões. Então, o lucro que era de R$ 15 bilhões passou a ser um prejuízo de R$ 33 bilhões. Assim, ele passou a ideia de que a Petrobrás estava quebrada e tinha mais é que vender tudo”.
“Pedro Parente está na Petrobrás para destruí-la”, denunciou Siqueira. “Parente foi presidente do Conselho de Administração da Petrobrás entre 1999 a 2003. Naquela época, ele chegou a vender 36% das ações da Petrobrás na Bolsa de Nova Iorque por US$ 5 bilhões. Valiam mais de US$ 100 bilhões pelos cálculos da Aepet. Um prejuízo de US$ 95 bilhões. Ele dividiu a Petrobrás em 40 unidades de negócios, para privatizar uma a uma. E pretendeu desnacionalizar a Companhia colocando o nome de Petrobrax”, lembrou Siqueira.
COMBUSTÍVEL
Para Fernando Siqueira, a política de exportação de óleo cru e importação de derivado “é uma política suicida”. Segundo ele, “com essa política, o Parente deu um prejuízo na Petrobrás de R$ 7 bilhões no primeiro trimestre de 2017”. Desde outubro de 2016, o prejuízo chega a R$ 12 bilhões: “Ele fez uma política de preço suicida, elevando os preços pelo mercado internacional. Então, os concorrentes compram no exterior mais barato. A Petrobrás exporta petróleo bruto e as refinarias ficam ociosas”.
Ele avaliou também como suicida a política anterior da Petrobrás, de importar combustível mais caro externamente e vender mais barato internamente. As empresas estrangeiras aproveitavam a compra subsidiada feita pela Petrobrás no mercado internacional e, ao contrário do que fazem agora, adquiriam dela os derivados com preços mais baixos para vender com um lucro maior internamente. Ou seja, a Petrobrás tinha prejuízo por conta dessa política enquanto suas concorrentes aumentavam seus lucros. Agora, como lembrou Fernando Siqueira, as distribuidoras concorrentes da Petrobrás importam derivados a preço mais barato e contribuem para estrangular as refinarias brasileiras que acabam ficando ociosas. Eles estrangulam as refinarias e já começam a falar em privatizá-las.
SÉRGIO CRUZ
Em resumo: O petróleo é dos árabes; e a Petrobrás é da classe política.