O senador Tasso Jereissati (PSDB), ex-governador do Ceará, disse que a polarização entre Lula e Jair Bolsonaro “abre uma avenida muito larga” para que os partidos de centro se unifiquem em torno de um candidato à Presidência da República.
“Entre aqueles que não querem a extrema-direita e não querem a extrema-esquerda, existe esse espaço. Vai depender de nós, políticos de centro, e acho que somos a maioria, escolher bem um candidato que possa representar esse equilíbrio”, avaliou Jereissati em entrevista ao jornal Valor Econômico.
“Esse espaço, se for bem trabalhado por nós, políticos de centro verdadeiros, nós temos, sim, uma avenida muito larga para penetrar. Até porque existe uma decepção muito grande para o eleitor tanto com a experiência Bolsonaro quanto com a experiência Lula”.
Tasso Jereissati afirmou que o “trunfo” dos partidos de centro é lançar um único candidato. O ex-presidente nacional do PSDB citou cinco nomes de possíveis candidatos: João Doria (PSDB), Eduardo Leite (PSDB), Ciro Gomes (PDT), Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Luciano Huck (sem partido).
Ainda assim, o senador disse que o foco é trabalhar “para que não venha uma próxima administração com propostas que agravem ainda mais a situação econômica do Brasil”.
“A possibilidade do Lula ser candidato aumentou ainda mais a consciência desses grupos de centro”, o que facilita a união dos partidos. “Ficou claro que vai haver uma polarização entre extrema-esquerda e extrema-direita”, e ambos os caminhos “levarão o país ao desastre”.
Na visão de Jereissati, a tendência é que Lula e Jair Bolsonaro comecem a fazer discursos para tentar ganhar o eleitorado de centro.
“Pode ser, e pra mim é óbvio, que os dois lados vão procurar tender para o centro, porque as chances de qualquer um deles de vir a ganhar a eleição vão ser na devida proporção em que conquistaram eleitores de centro. É o que vai acontecer de agora por diante. Nós já vimos os dois discursos iniciais dessa ‘polarização’”.
Tasso comentou do “simbolismo” de Bolsonaro ter feito aparições usando máscara junto com seus ministros.
Para ele, a gestão de Jair Bolsonaro durante a pandemia “o exclui como uma probabilidade de aliança nossa”. “Eu acho que tem um lado de crueldade nas manifestações” de Bolsonaro em relação às mortes causadas pela Covid-19 e ao isolamento social.
O senador disse que podemos passar de 300 mil mortos, e “isso não se apaga, isso não pode ser esquecido. Acho que é a maior mortalidade da história do Brasil”. É “imperdoável”, continuou.
CPI DA PANDEMIA
Tasso Jereissati defendeu a abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, cujo pedido foi assinado por 32 senadores e está engavetado pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que foi eleito com o apoio de Jair Bolsonaro.
“Eu acho que ninguém de boa fé tem dúvida de que a gestão do governo federal e do Ministério da Saúde foi quase que criminosa. Criminosa porque matou muita gente. Muitas mortes nesse país poderiam ter sido evitadas e ainda poderão”.
O senador disse que o governo federal deveria ter agido para conscientizar a população para que evitem se aglomerar e ter mobilizado o país pela vacinação.
“A atitude do presidente e do ministro da Saúde [Eduardo Pazuello] não é que não fizeram isso, eles sabotaram quem fez isso, sabotou propositadamente quem quis fazer isso. E isso precisa ser responsabilizado, inclusive para que futuros governantes do Brasil saibam que a irresponsabilidade do presidente da República tem consequências muito grandes”, assinalou.
“A CPI também tem o objetivo de parar, de que não continuasse a sabotar, pelo menos, e tomasse consciência de que está sendo vigiado e que tem que vir prestar contas ao Congresso com consequências”, afirmou.
Sem a CPI, as autoridades podem ser convidadas a prestar esclarecimentos ao Senado, mas nada decorre disso. “Em uma CPI, você é convocado, e não convidado, e você vai sob juramento, não pode mentir e nem falsear com a verdade, tem repercussões imediatas sobre isso”.
“O Senado tem que ser o controlador da transparência e das atitudes de boicote ou irresponsabilidade do governo e ter o poder de pressionar para que as coisas aconteçam realmente”, apontou.
Jereissati disse que Rodrigo Pacheco pode estar engavetando o pedido de abertura da CPI por medo de “causar uma crise”. “Mas a crise já está aí, com 2 mil e 300 pessoas morrendo por dia, pior crise do que essa, não existe”, acrescentou.
“Seria, pelo contrário, uma ação de responsabilidade e de tranquilidade para o país”.
ROBERTO FREIRE
Na opinião do presidente do partido Cidadania23, Roberto Freire, a possibilidade de Lula poder novamente se candidatar “ajuda a busca por unidade no campo democrático”, porque torna “a polarização mais explícita”.
Roberto Freire disse que Luciano Huck “é o melhor candidato para discutir o Brasil do século 21”.