Reunindo 200 lideranças de todo o país, o IV Encontro Nacional dos Estudantes Secundaristas do Paraguai, realizado sábado (24) após uma longa jornada de debates, fez um contundente pronunciamento contra o entreguismo e a corrupção do governo de Mario Abdo Benítez, flagrado em relação promíscua com um empresário, representante do governo de Jair Bolsonaro. Conforme denunciado por um integrante do próprio governo paraguaio, a negociata com o empresário, suplente de senador do PSL de São Paulo, prejudicaria o país em mais de US$ 200 milhões até 2023. “Os acordos secretos de Mario Abdo com Bolsonaro em relação a Itaipu retomam práticas da ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989), atando os pés e as mãos paraguaias para favorecer interesses privados“, denunciou Alejandra Orrego, coordenadora executiva da Federação Nacional dos Estudantes Secundaristas (Fenaes), convocando uma nova manifestação para Assunção, na próxima sexta-feira, em frente aos ministérios da Educação e da Fazenda. Em entrevista exclusiva, Alejandra enfatizou que a juventude paraguaia vai às ruas para “defender a educação e a Pátria dos entreguistas”
LEONARDO WEXELL SEVERO
O que representa para vocês esta submissão do presidente Mario Abdo Benítez ao governo Bolsonaro?
Há uma compreensão comum de que este é um retrocesso absurdo, inadmissível, que não pode ser tolerado, pois limita nossos direitos e atenta contra nossa soberania. Com os acordos secretos com o governo Bolsonaro em relação a Itaipu, o presidente Mario Abdo Benítez retoma práticas da ditadura de Stroessner, atando os pés e as mãos paraguaias para favorecer interesses privados. Vamos convocar todos os estudantes do país a defender Itaipu como uma causa nacional, exigindo participação de toda a sociedade e completa transparência no processo de renegociação do tratado.
Movidos por este sentimento, os protestos contra a ata secreta iniciaram pelos estudantes…
Os estudantes universitários, que começaram a onda de protestos, deixaram claro que não seríamos submetidos pela política de susto e medo implementada pelo governo. Vale lembrar que um companheiro, Fabricio Núñez Vergara, foi levado a uma cela, a um calabouço e golpeado covardemente pelas autoridades. A sangrenta repressão serviu de estopim para que as mobilizações se espraiassem rapidamente por todo o país. Nós tomamos o Colégio Nacional, o presidente Franco, fechamos tudo, movidos pela compreensão de que é hora da educação, é hora da Pátria. Temos a convicção de que é preciso defender nosso país dos entreguistas, utilizar nossas riquezas para fortalecer o ensino público, para nos desenvolver.
As manifestações massivas serviram para despertar a consciência nacional sobre práticas que atentam contra a democracia
Fomos às ruas como medida para demonstrar o rechaço a este tratado secreto de um governo que, numa suposta democracia, repete as mesmas práticas da época ditatorial. Há um profundo desgosto, uma rejeição a Mario Abdo, que também demonstra sua completa incapacidade e descompromisso no campo educacional.
Os problemas também se revelam na educação?
De forma clara e profunda. Necessitamos mais investimentos, maior infraestrutura, precisamos valorizar o ensino técnico, que vem sendo completamente abandonado. Desde o começo do ano, e já estamos no final de agosto, há escolas que não tiveram aulas, pois se encontram sem professores, com carência alimentar, com desrespeito aos investimentos determinados pela própria Constituição. A falta de docentes continua afetando mais de 50 mil estudantes. A superlotação é uma triste realidade, havendo salas com até 50 colegas. Por isso tomaremos as ruas novamente para, com patriotismo, virar esse jogo.