JOSÉ GIL OJEDA *
Levando em conta quem é este novo presidente da República, Mário Abdo Benítez, filho do ex-secretário particular do ditador Alfredo Stroessner, não é um dado que inspire confiança. O método utilizado pela ditadura strosnista para manter sob controle a população civil foi o medo, através do uso do Terror como ferramenta de dominação.
Mario Abdo Benitez (Marito), herda de seu pai não apenas o nome: o mais provável é que herde também seus critérios autoritários em relação ao poder político.
O ditador elevou seu secretário particular, Dom Mario Abdo Benitez, ao status honorífico de “Pai da Juventude” e, a partir desse pedestal, Dom Mario estabeleceu três princípios que pregava como fundamentais em sua orientação para a juventude paraguaia: 1 – “siga Strossner”; 2 – “siga Stroessner” e 3 – “siga Stroessner “. Qualquer postura não condizente com estes “três princípios” era considerada subversiva, conspiratória e antipatriótica.
Este novo governo, liderado pelo filho do ex-secretário particular de Stroessner, que não só não esconde sua admiração pelo ditador, como também elogia seu governo, aprova e aplaude seu pai por sua “valiosa colaboração com o governo patriótico do general Stroessner”, segundo suas próprias palavras, antecipa como cenário um retrocesso no plano político, social e econômico. Esse novo – velho – governo não promete nada de novo que possa ser considerado benéfico para os setores mais desprotegidos do país, que são os indígenas, os camponeses, os trabalhadores em geral, do campo e da cidade.
Menciono como prova de que não podemos confiar ou mesmo nutrir uma ligeira esperança de que o governo Marito possa nos oferecer qualquer coisa boa, a mais recente expulsão de agricultores em Alto Paraná, no distrito de Hernandarias, na comunidade “Toryvete”, onde “nossas” autoridades, policiais e judiciais, acompanham e apoiam ilegalmente os estrangeiros, em detrimento dos cidadãos paraguaios, que são violentamente expulsos de seu local de assentamento.
Outros indicadores que mostram a continuidade de um modelo autoritário são a implementação e aprofundamento do sistema econômico neoliberal, que favorece as minorias ricas e prejudica a grande maioria da população, a intenção de mexer nos fundos do sistema previdenciário dos trabalhadores, que logo se abortou com mobilizações populares. Da mesma forma, temos um orçamento geral de gastos que não prioriza o social e a ausência de políticas estatais para a reforma agrária e desenvolvimento rural, saúde, educação, moradia, etc. Ou seja, nada de novo, continua o mesmo de antes, um modelo de exclusão, que gerará mais pobreza e desigualdade social.
E sem querer ser pessimista, logo veremos que, por diversos fatores, lamentavelmente, a perspectiva para este governo é que será pior!
* Líder das Ligas Agrárias Cristãs do Paraguai de 1970 a 1976, preso de 1976 a 1979, exilado na Bolívia de 1979 a 1985, e no Brasil de 1985 até 1990, protegido pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR)