“Vamos desenvolver um sistema mais avançado, mas usando a ciência brasileira. Pare com esse negócio de vender tudo para os americanos”, disse o ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o cientista Ricardo Galvão, repreendendo o ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, Ricardo Salles.
Durante debate promovido pela GloboNews, Ricardo Galvão, exonerado por não ter aberto mão dos dados recentes que mostram o avanço do desmatamento, denunciou os planos do ministro de desnacionalizar os mecanismos de controle de desmatamento na Amazônia.
Galvão concorda com Salles que “os sistemas têm que ser melhorados”, mas “isso tem que acontecer com a participação da ciência brasileira aqui no país”.
“Admiro-me que um servidor do governo diga ‘vou contratar a Planet’. Nem sabe ele que tem que fazer licitação e tudo mais, já fala da Planet”, criticou.
“Quem conhece isso é o Inpe, quem sabe fazer coisas é a Imazon, a Mapbiomas Alerta, várias universidades. Vamos desenvolver um sistema mais avançado, mas usando ciência brasileira”, afirmou.
Quando o Inpe disponibilizou dados que mostravam o aumento de 88% dos alertas de desmatamento em junho em relação ao mesmo mês do ano passado, Jair Bolsonaro passou a atacar o Instituto dizendo que os dados são mentirosos.
O então diretor do Inpe rebateu e declarou que Bolsonaro “tomou uma atitude pusilânime, covarde, de fazer uma declaração em público talvez esperando que peça demissão, mas eu não vou fazer isso. Eu espero que ele me chame a Brasília para eu explicar o dado e que ele tenha coragem de repetir, olhando frente a frente, nos meus olhos”.
Houve novos ataques de Bolsonaro contra o INPE, tentando acobertar a ação dos carrascos da motosserra na Amazônia.
Galvão, que não cedeu às pressões obscurantistas, afirmou que a situação ficou “insustentável” e depois foi exonerado.
Em sua resposta, Salles expressou sua vontade de entregar o monitoramento para empresas estrangeiras, de preferência norte-americanas. “O nacionalismo no seu discurso é uma coisa indisfarçável, e isso, em minha opinião, é um dos grandes problemas pelos quais não temos um sistema up to date, não é o melhor. É tanto ufanismo com coisa nacionalista que ao invés de ter o melhor a gente tem o que tem só porque é brasileiro”, disse.
Jair Bolsonaro chegou a dizer que quer colocar seu filho Eduardo Bolsonaro como embaixador nos Estados Unidos para viabilizar a exploração de minérios em terras indígenas por empresas norte-americanas.
“Terra riquíssima [a reserva indígena Ianomâmi]. Se junta a Raposa do Sol, é um absurdo o que tem de minerais ali. Estou procurando o ‘primeiro mundo’ para explorar essas áreas em parceria e agregando valor. Por isso minha aproximação com os Estados Unidos. Por isso, quero uma pessoa de confiança minha na embaixada dos EUA”, afirmou.
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