“A utilização do passaporte diplomático de ministro foi ilegal, além de imoral. Desvio de finalidade”, afirmou o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da Minoria
A viagem do ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, que é investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), aos Estados Unidos foi apontada como uma “fuga” nos meios políticos.
Sua exoneração do cargo em uma edição extra do Diário Oficial da União, na manhã do sábado (20), só teria ocorrido após a confirmação de sua entrada no país usando o passaporte diplomático a que tinha direito pelo cargo que ocupava.
Por causa do aumento do número de casos de coronavírus, a entrada de estrangeiros oriundos do Brasil nos EUA está proibida desde maio. A decisão do governo norte-americano, no entanto, prevê algumas exceções no caso de autoridades em viagem oficial.
“Não pedimos a prisão de Weintraub à toa. Sabemos sua índole. Se está nos EUA, está fugindo. A utilização do passaporte diplomático de ministro foi ilegal, além de imoral. Desvio de finalidade. Como fugitivo internacional que é, Weintraub deve ser deportado ao Brasil e ser preso”, assinalou o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
O líder da minoria no Senado reiterou ao STF o pedido de prisão temporária do agora ex-ministro da Educação, protocolado no âmbito do inquérito que investiga se ele cometeu crime de racismo contra chineses. O relator é o ministro Celso de Mello.
“O senhor Abraham Weintraub, ainda no cargo, mas já tendo anunciado sua demissão, deixa o país sem comunicação prévia, sem viagem oficial, com o recado confesso de que o deixem em paz, ou sofram as consequências de provocá-lo. O STF não pode aceitar mais esse ataque, mais essa redução de seu status relevante para a Democracia”, afirmou.
O vice-líder do PCdoB na Câmara, Márcio Jerry (MA), questionou a razão da pressa do ex-ministro para deixar o Brasil. “O Weintraub correu tão rápido para fora do país com medo do quê? Atitude típica de quem sabe que deve muito e tem medo da Justiça”, declarou o parlamentar.
Após ser demitido do MEC na última quinta-feira (18), o ex-chefe do ministério da Educação foi indicado por Bolsonaro para assumir uma diretoria do Banco Mundial, posto cujo salário chega a R$ 115 mil por mês livres de impostos.
“Weintraub usou o cargo ainda de Ministro da Educação para fugir do Brasil e contou com apoio do chefão, já que foi exonerado por Bolsonaro logo que conseguiu entrar nos EUA. Tudo arquitetado”, comentou a líder do Psol, deputada Fernanda Melchionna (RS).
Para o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), o ex-ministro “não foi para o Banco Mundial. Fugiu para o Banco Mundial”. Como diretor-executivo, Weintraub vai representar um grupo de nove países do qual o Brasil faz parte. O cargo já foi ocupado por Pedro Malan, Murilo Portugal e Otaviano Canuto.
A indicação de Weintraub como representante do Brasil no Banco Mundial, em Washington, também motivou reações. Uma carta assinada por 15 associações e mais de 130 personalidades de diversas áreas pediu a embaixadores de oito países no Brasil que se posicionem contra a indicação.
Weintraub deixou o governo após um ano e dois meses à frente do Ministério da Educação, em uma gestão marcada por polêmicas. Ele também foi filmado em reunião interministerial chamando os ministros do Supremo de “vagabundos” e dizendo que “colocaria todos na cadeia”.
Enquanto ele esteve como ministro da Educação, a pasta só colecionou retrocessos.
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Numa de suas patadas nas redes sociais, no dia 15 de novembro, em que o Brasil comemorava a Proclamação da República, o ministro da Educação de Bolsonaro difamou a data histórica em que país acabou com a monarquia.
Ele disse que a Proclamação foi uma “infâmia contra um patriota, honesto, iluminado, considerado um dos melhores gestores e governantes da História (Não estou restringindo a afirmação ao Brasil)”.
“O que diabos estamos comemorando hoje?”, escreveu Weintraub sobre a ação de Deodoro, Floriano, Benjamin Constant, Rui Barbosa, Silva Jardim, José do Patrocínio, Quintino Bocaiúva e outros heróis e grandes homens brasileiros.
A deputada Carla Zambelli (PSL-SP), aliada do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), desejou que “Deus abençoe” o ex-ministro na nova etapa. Ele foi indicado ao cargo de diretor executivo para o Banco Mundial. “Weintraub já está nos EUA!”, respirou ela, como se estivesse dizendo ‘ufa!’.
“Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito. Romanos 8:28 Deus lhe abençoe nesta nova etapa junto ao Banco Mundial! A luta continua…”, escreveu a parlamentar.
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