“O que destruiu empresas foi a corrupção”
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, atacou a Operação Lava Jato e foi rebatido pelos procuradores da República e parlamentares.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Toffoli declarou que a Lava Jato “destruiu empresas”. “Isso jamais aconteceria nos Estados Unidos. Jamais aconteceu na Alemanha”, disse Toffoli. Ele também acusou o Ministério Público de ser pouco “transparente”.
O procurador Roberson Pozzobon, integrante da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, criticou as declarações do presidente do STF.
“A Lava Jato não ‘destruiu’ empresa nenhuma. Descobriu graves ilícitos praticados por empresas e as responsabilizou, nos termos da lei. A outra opção seria não investigar ou não responsabilizar. Isso a Lava Jato não fez”, rebateu Pozzobon pelo Twitter.
“Interessante comentário de quem determinou a instauração de inquérito no STF de ofício, designou relator ad hoc (para esta específica função) e impediu por meses o MP de conhecer a apuração”, afirmou o procurador, referindo-se ao comentário de Toffoli de que o Ministério Público deveria ser mais transparente, citando o inquérito aberto pelo presidente do Supremo para apurar ameaças, ofensas e notícias falsas contra integrantes da Corte e seus familiares nas redes sociais.
O ministro Alexandre de Moraes foi designado como relator do caso por Toffoli, sem realização de sorteio.
O procurador da República em Minas Gerais, Wesley Miranda Alves, afirmou que Toffoli faz uma “manobra diversionista” em sua avaliação da Lava Jato.
“(Ele) direciona as críticas feitas à sua atuação e à de outros ministros do STF à própria magistratura. Não, o STF de hoje não representa a magistratura nacional. O atual e crescente combate à corrupção não se deve ao STF. Ocorre apesar do STF”, escreveu.
“Quem destruiu empresas foram os corruptos que as utilizaram como instrumento para tomar o Brasil de assalto”, disparou o secretário de Diretos Humanos da Procuradoria-Geral da República (PGR) Ailton Benedito, procurador da República de Goiás.
O procurador da República no Rio Grande do Norte, Fernando Rocha, questionou: “será por que essas empresas cartelizadas sobreviviam graças à corrupção de vultosos recursos públicos contra a qual a Lava Jato se insurgiu?”.
O procurador da República, Carlos Fernando dos Santos Lima, ex-integrante da Lava Jato, classificou as falas de Toffoli como “bobagens” e “irresponsabilidade”. “Imagine um médico que conclua que a causa da febre é o termômetro. Você retornaria para uma nova consulta? Infelizmente temos que ouvir bobagens dessa espécie e ainda pagar a conta desse ‘doutor’”, escreveu nas redes sociais.
“Cômico e trágico ao mesmo tempo”, continuou. “O que destroi empresas é a ganância do lucro fácil, da ausência de concorrência, dos cartéis, da corrupção que a operação Lava Jato mostrou”.
“Não se combate um câncer sem quimioterapia. Não se combate uma infecção sem antibióticos. Não há como ir termos um país melhor sem instituições melhores, livres da corrupção. Infelizmente nossa República do Compadrio, aquela que beneficia amigos, coloca muitas pessoas não qualificadas em altos cargos. E estes acabam acreditando que são supremos”, acrescentou Santos Lima.
Para o senador Álvaro Dias (Podemos-PR), a Lava Jato “livrou o Brasil de empresários que transformaram suas empresas em instrumentos para a corrupção, mas tem gente que reclama que a operação “destruiu as empresas”. Será que a queixa é pelo fato de a Lava Jato ter feito quase secar a mina de ouro da corrupção?”.
“O que apavora determinadas pessoas é que junto com o fim dessas empresas, secou a mina da corrupção”, completou.
“Dias Toffoli afirma que a Lava Jato quebrou empresas. A Lava Jato prendeu bandidos e recuperou recursos roubados. Quem quebrou empresas foram corruptos e corruptores. O ministro consolida o seu posto de vergonha para a magistratura nacional”, destacou o senador Alessandro Vieira (SE), vice-líder do Cidadania23.