Redução foi de 35,5% em 2016 para 31% em 2021. Já o lucro das empresas aumentou a participação no PIB de 32,3% para 37,5%
O nível da participação dos salários na economia caiu 12,9% nos últimos cinco anos, de 35,6% em 2016 para 31% em 2021. É o pior patamar em 16 anos. Por outro lado, o excedente operacional bruto das empresas, valor de onde as companhias extraem o lucro, cresceu de 32,3% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016 para 37,5% em 2021, maior nível alcançado, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados nesta segunda-feira (5).
De 2004 a 2016, a participação dos salários no PIB cresceu 16,3%, passando de 30,6% para 35,67%. Por outro lado, nesse período, a participação do excedente operacional bruto das empresas caiu 6,6%, passando de 34,6% para 32,3% do PIB.
De acordo com o presidente do IBGE, Márcio Pochmann, “a construção lenta e difícil que por 12 anos levou para mudar positivamente o peso da renda do trabalho no PIB foi rápida e abruptamente desmontada nos últimos anos de regressão neoliberal. O que terminou por recolocar novamente o Brasil entre os países de baixos salários, empregos precarizados e de multidões de sobrantes e sem destino”.
Para o economista Pedro Paulo Zahuth Bastos, a redução do poder dos salários é ruim não só socialmente, mas para a economia nacional.
“Quanto maior a renda do PIB gerado que vai para os trabalhadores, maior vai ser o gasto e, consequentemente, maior vai ser o mercado interno do Brasil. E, quanto maior for o mercado interno, maior vai ser o incentivo para que aqueles lucros dos capitalistas sejam investidos para aumentar a produção”, destacou Bastos à Agência Brasil.
Segundo ele, o lucro não das empresas não necessariamente será reinvestido nas atividades que geram emprego. “Se eles tiverem mais lucro, mas não tiver mercado, eles vão simplesmente comprar ativos financeiros [como títulos da dívida pública]”, disse.
A redução da participação dos salários “é ruim tanto do ponto de vista da sociedade, da saúde pública, do bem-estar social, da paz social, da criminalidade, da violência, quanto é ruim também para o crescimento econômico”, ressaltou.
Outros dados mais recentes, da Pnad Contínua do IBGE, apontam que em 2023 a massa de rendimentos do trabalho chegou a 32% do PIB, o que indica que houve uma recuperação após a queda forte na pandemia de Covid-19, em 2020, mas ainda não foi suficiente para voltar ao patamar pré-pandemia, em torno de 35%.
A queda da participação dos salários no PIB entre 2016 e 2021 está relacionada à recessão econômica iniciada em meados de 2014 que, com a política de arrocho fiscal e juros altos, derrubou o PIB em 7%, mas também pela continuidade destas medidas contracionistas, sempre de forma cada vez mais agressiva, principalmente, nos governos Michel Temer (MDB), com avanços nas retiradas de direitos trabalhistas, e Bolsonaro, com a promoção do desmonte de políticas do Estado – reforma da Previdência, retiradas de mais direitos trabalhistas, congelamento de salários, cortes orçamentários, em meio à pandemia de Covid-19, o que fez com que o desemprego batesse o pico de 14% da força de trabalho em 2021.